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Reflexões sobre infecção hospitalar - Quem paga essa conta?

Carlos Alberto Telles - Engenheiro especializado em segurança do trabalho

Carlos Alberto Telles

03/07/2021 - sábado às 11h22

Dois anos depois do nosso presidente Tancredo Neves falecer vítima de uma infecção generalizada os projetos de controle de infecção hospitalar adquiriram destaque em 1983, sendo desenvolvida uma política de capacitação em controle dessas infecções, com a criação da Portaria 196 do Ministério da Saúde, com a previsão de manutenção de Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e a Lei 9.431/1997 definiu infecção hospitalar como “qualquer infecção adquirida após a internação de um paciente em hospital e que se manifeste durante a internação ou mesmo após a alta, quando puder ser relacionada com a hospitalização”. O histórico normativo do Programa Nacional de Prevenção e Controle das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (PNPCIRAS), publicado pela Anvisa é voltado ao combate destas infecções com vistas a redução máxima possível da incidência e da gravidade das infecções dos hospitais. Também existem outras metas relacionadas à adoção de programas e estratégias pelos hospitais, para redução dos índices de algumas das infecções relacionadas com a imunidade mais fragilizada de alguns pacientes.
 
Desde 2001 a OMS vem chamando a atenção para uma crescente resistência bacteriana a antimicrobianos, especialmente no que concerne às infecções associadas aos cuidados à saúde. Em 2010, a Organização Mundial da Saúde, apresentou números de infecção hospitalar em todo o mundo, no Brasil é de 14%, torna-se complexo afirmar se essa taxa é baixa ou alta, de qualquer modo infecção hospitalar é nociva e trata-se de uma questão de relevância internacional. Estima-se que todo ano cerca de 1,5 milhão de pessoas sejam acometidas de infecção hospitalar no mundo, e a cada 100 pacientes hospitalizados,14 experimentem algum tipo de infecção em nosso país. No Brasil existem 7 mil hospitais com toda a roupa contaminada de 500 mil leitos todos os dias. Em 2011, a Associação Nacional de Biossegurança (ANBIO), fez uma revelação alarmante: - Em média 80% dos hospitais brasileiros não fazem o controle adequado para evitar infecções hospitalares, 100 mil pessoas morrem por ano por conta desse tipo de contaminação.
 
Destacamos que se observa conjugadas forças internacionais e nacionais, de saúde e também legislativas, para se almejar a redução dos níveis de infecção hospitalar. A reflexão, em um cenário de infecção relacionada a assistência à saúde, a instituição hospitalar cumpri as normas relacionadas à regulação sanitária, no que toca à prevenção, fiscalização e controle de IRAS, porém o tema infecção hospitalar vem sendo tratado pelo Poder Judiciário e o Superior Tribunal de Justiça que vem relacionando a ocorrência de infecção hospitalar à condenação de estabelecimentos prestadores de serviços hospitalares, quase que automaticamente, pela via da responsabilização objetiva, deveriam também responsabilizar a lavanderia caso esses serviços sejam terceirizados, caso a higienização não é feita de maneira correta sem possibilitar uma desinfecção rigorosa em lavadoras ou tuneis de  lavagem criando reservatório para microorganismos, na zona de respingo (parte superior), poderá ocorrer o acúmulo de sujidades, que, juntas com alguns fiapos de tecidos, serão um meio de proliferação e contaminação do enxoval lavado.
 
Recentemente, no Hospital Universitário de Bonn, na Alemanha, 13 bebês recém-nascidos que estavam internados foram infectados pela bactéria Klebsiella oxytica. Apesar de nenhum deles ter apresentado grandes complicações, foi descoberto que o foco de disseminação dos micro-organismos estava na própria lavadora de roupas da instituição. “Roupas e enxovais hospitalares, ainda que estejam corretamente lavados, podem ser afetados por contaminações”.
 
É oportuno e relevante destacar, que lavagem de roupa não elimina esporos de clostridium difficile de roupa hospitalar. Pesquisa, publicada na revista científica Infection Control & Hospital Epidemiology, da Universidade de Cambridge diz: - cerca de 60% dos esporos presentes antes da limpeza permaneceram na roupa hospitalar após lavagem. Estudo mostra que lavagem não elimina totalmente esporos da roupa hospitalar (Bigstock) e observaram que a redução na carga de esporos foi de 40% após a lavagem dos lençóis com os procedimentos da política de lavanderia hospitalar do sistema de saúde inglês, o NHS, e mesmo assim, não foi suficiente para acabar com os esporos.
 
A sobrevivência desse bacilo presente nos lençóis, na hora para fazer novas camas é a que mais preocupa autoridades de saúde por sua taxa de mortalidade, que chega a 17%, e pela dificuldade em elimina-los e evitar infecções hospitalares. 
 
Outro estudo por pesquisadores da Universidade Montfort, na cidade de Leicester-Inglaterra observaram que, talvez a resistência dos esporos na roupa hospitalar explique parte da transmissão da bactéria entre pacientes, sugerem que até 27% dos novos pacientes se tornam portadores assintomáticos do Clostridium difficile após seis semanas de internação.
 
Os hospitais cada vez mais se voltando para a inovação, não adianta as enfermeiras obtendo ganhos de produtividade usando aplicativos complexos, dispositivos móveis ao lado do leito, monitoramento remoto trazendo a confiança para o paciente e o lençol além de hospedar o paciente, diz: - “PHILP TIENO”, microbiogista da universidade de N.York, que: - os lençóis e fronhas não hospedam somente pacientes, também hospedam milhões bactérias e fungos.
 
“Lavanderia hospitalar” mudança inevitável. O setor de saúde mundial está enfrentando inúmeros desafios que impõem enorme pressão sobre gestores, médicos e funcionários. Lavar roupa infectada não se sustentará nos próximos anos, o método é frágil para dar o suporte as instituições de saúde. O mundo foi infectado, a pandemia mostrou os acertos, os erros e as fragilidades, isso altera de forma completa a percepção dos hospitais no controle da infecção e leva a uma nova certeza que lavar roupa é fonte significativa de contaminação por microrganismos e não é futuro para a saúde humana, lavar roupa infectada. 
 

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