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Volta às aulas e vacinação

Márcia Faria Rodrigues - Médica pediatra e especialista em adolescentes

Márcia Faria Rodrigues

18/01/2022 - terça às 14h22

Você já ouviu falar de “Doença do Beijo” ? É uma doença causada por um vírus chamado Epstein-Barr, cujo nome é mononucleose infeciosa. Acontece que essa doença é bastante famosa por ser especialmente frequente em adolescentes. É uma doença transmitida pela saliva. Ora, logo  a sabedoria popular associou o comportamento dos adolescentes, nesse caso o de beijar na boca, com a alta incidência dessa doença nesse grupo. Acontece que nem só pelo beijo se transmite a mononucleose: ela também é transmitida compartilhando copo e também através de gotículas espalhadas pelo espirro por exemplo.

OK. Mas o assunto não era volta às aulas e vacinação? O que tem isso a ver?

Vários comportamentos dos adolescentes como “dar um gole” de bebida do colega, adorarem se aglomerar e, claro, o  beijo, aumentam também a transmissão de outras doenças como Meningite, Gripe, COVID, Caxumba, Difteria, cujos  métodos de transmissão são os mesmos da mononucleose . Mas, para essas, existem VACINAS.

Vejamos o caso da Meningite, por exemplo. O Meningococo é extremamente presente na saliva dos adolescentes. Estudo brasileiro mostrou que 1 de cada 8 adolescentes carregam o Meningococo, causador da Meningites Meningocócica, na orofaringe (boca e garganta). (1)

Além de serem atingidos diretamente pelo meningococo, que pode causar a morte e sequelas graves nos adolescentes, como amputações de membros, eles são o principal foco de disseminação da doença para os grupos de risco, como bebês ainda não vacinados.

Outro “comportamento de risco” é a baixa taxa de vacinação nos adolescentes.

Mesmo  contra Meningite ACWY , que está disponível gratuitamente para adolescentes entre 11 e 12 anos, e sendo uma doença tão temida, menos de 20% dos adolescentes do Brasil nessa idade foram vacinados. (dados de fevereiro de 2021)(2).

Mas não é só contra Meningite que nosso adolescentes estão sem proteção. A cobertura vacinal tem ficado preocupantemente baixa no Brasil, com piora após o início da Pandemia. Veja os dados abaixo (3).
 


Por esse motivo, muitas doenças têm voltado a aparecer como Sarampo, Caxumba, Gripe e, pasmem, DIFTERIA! Essa semana foi confirmado um caso dessa doença em uma menina de 15 anos em São Paulo.


Costuma ser bem mais fácil vacinar os bebês. Além de consultas frequentes com o pediatra, eles não tem poder decisório.  Enquanto isso, a maioria dos adolescentes não tem assistência formal à saúde há mais de 2 anos (ir ao PS por febre, engessar um braço ou situações de urgência  não contam !) e, portanto, não recebem as devidas orientações sobre vacinação. E, quando chegam a ter essa informação, levá-los ao centro de vacinação pode se tornar uma tarefa bem difícil para os pais.

Outra informação importantíssima é sobre a gravidade das doenças em crianças. A chance de uma criança morrer de outras doenças preveníveis por vacinas é 84 vezes maior que a de morrer por COVID 19 (7). Ou seja, tem que vacinar contra COVID mas não podemos esquecer das outras vacinas!
 
Gripe x COVID

A GRIPE atinge anualmente 20 a 30% das crianças. Embora tenha habitualmente um curso benigno, é responsável por um grande consumo de recursos de saúde, consumo de antimicrobianos e falta às aulas. Em alguns casos pode causar  complicações graves. Adicionalmente, a criança é um importante transmissor da doença a outros indivíduos, incluindo aos mais vulneráveis, muitos dos quais com respostas imunes à vacina muito deficitárias como nos idosos.

No caso da gripe, o risco relativo das crianças morrerem de infecção por influenza é até 7,6 vezes maior que de COVID no seu primeiro ano de vida. (4)

Já sabemos também que a infecção conjunta Gripe COVID, apesar de pouco frequente, pode ocorrer e aumenta as chances de complicações.

Causa grande preocupação o fato de  a cobertura vacinal contra gripe ter sido baixíssima  em 2021– 25,3 % da população geral e 49,3 % em crianças.

Baixa cobertura vacinal da campanha de vacinação contra gripe em crianças
 
Precisamos atuar na conscientização e divulgação dessas informações envolvendo médicos de diferentes especialidades, escolas e pais no intuito de melhorar essa cobertura vacinal de crianças e adolescentes em fase escolar.

As escolas, além de solicitarem as cadernetas de vacinas, precisam ter pessoal treinado, ou solicitar à um serviço especializado em vacinas, para que olhem essas cadernetas.

Lembrar também que nem todas as vacinas estão disponíveis para todas as idades nos postos de saúde. Como exemplo: gripe só é feita gratuitamente até os 6 anos e a meningite ACWY só aos 11 anos.

E seu filho? Está com a carteira de vacinação em dia (6)? Veja o calendário em anexo e converse com seu pediatra e Boas Aulas, que estão todos com saudades!!!!!
 

 

Referências bibliográficas

1-Weckx et al., 2017.  Braz J Infect Dis.  A cross-sectional study assessing the pharyngeal carriage of Neisseria meningitidis in subjects aged 1-24 years in the city of Embu das Artes, São Paulo, Brazil.

2- Vetter et al., Expert Rev Vaccines. 2016 May 3; 15(5): 641–658.

3- Amanda C Cohn 1, Jessica R MacNeil, Thomas A Clark, Ismael R Ortega-Sanchez, Elizabeth Z Briere, H Cody Meissner, Carol J Baker, Nancy E Messonnier, Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Prevention and control of meningococcal disease: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Recomm Rep. 2013 Mar 22;62(RR-2):1-28.

4- https://www.saude.go.gov.br/files/imunizacao/calendario/Calendario.Nacional.Vacinacao.2020.atualizado.pdf.

5- https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-adolescente.pdf.

6-Trotter CL, et al. Effectiveness of meningococcal serogroup C conjugate vaccine 4 years after introduction. Lancet. 2004;364:365-367.

7- SINAN/ DATASUS http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/meninbr.def  acessado em:15/09/2021.

8- O que é mononucleose infeciosa? Disponível em www.mdsaude.com  acessado em 14 de dezembro de 2021.

9 - SIPNI. Disponível em: http://sipni-gestao.datasus.gov.br/si-pni-web/faces/relatorio/consolidado/dosesAplicadasMensal.jsf Dados extraídos em: 18/02/2021. 2 Estimativa da população de 11 e 12 anos de idade, para a vacinação com a vacina meningocócica ACWY (conjugada) disponível em: http://vigilancia.saude.mg.gov.br/index.php/download/informe-tecnico-orientacoes-tecnico-operacionais-para-a-vacinacao-dos-adolescentes-com-a-vacina-meningococica-acwy-conjugada/?wpdmdl=7604
    
O portador nasofaríngeo de Neisseria meningitidis (Nm) é uma condição necessária para a doença invasiva. O primeiro estudo de portador em crianças de Buenos Aires, na Argentina, foi conduzido considerando 2017 como um ano de transição. O estudo avalia a taxa de portador de Nm, para determinar o sorogrupo, e distribuição clonal de proteínas complexas e da membrana externa, para determinar os fatores de risco do portador por idade.
 
Estudo transversal incluindo crianças de 1 a 17 anos, no Hospital Infantil Ricardo Gutiérrez em Buenos Aires em 2017. Swabs da região orofaríngea foram coletados e cultivados pouco tempo após a coleta. O sorogrupo foi determinado por PCR e o complexo clonal por MLST.
 
Um total de 1.751 crianças foram incluídas e distribuídas em grupos. Grupo 1: 943 crianças de 1-9 anos, foram isoladas 38 Nm; portador no total 4,0%. Distribuição do sorogrupo: B 26,3%, W 5,3%, Y 2,6%, Z 5,3%, outros grupos 7,9% e cápsula nula (cnl) 52,6%. Participar de atividades extracurriculares foi o único preditor independente do portador de Nm. Grupo 2: 808 crianças de 10 a 17 anos, 76 Nm eram isolados; portador 9,4%. Distribuição do sorogrupo: B 19,7%, C 5,3%, W 7,9%, Y 9,2%, Z 5,3%, outros grupos 7,9% e cnl 44,7%.
   
Gentile A, Della Latta MP, Bloch M, et al.
 
Oropharyngeal meningococcal carriage in children and adolescents, a single center study in Buenos Aires, Argentina.
 
PLoS One. 2021;16(3):e0247991. Published 2021 Mar 29. doi:10.1371/journal.pone.0247991.


*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal BS9

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