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Sobre ter filhos com Deficiência Intelectual

Denilze Lourenço - Mãe da Bárbara, conselheira eleita do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Condefi) e ativista de apoio às famílias de PCDs

Denilze Lourenço

19/03/2022 - sábado às 00h00

Quando nasce um filho nesta condição genética, de cara já se encara a perda do sonho do filho perfeito e a sua  vida ideal!

Ele não terá vida "normal"?  Não. Mas vai parecer normal para você.

Garanto que vai fazer parte da sua rotina, vai ser bem corriqueiro ter muitas preocupações com as comorbidades, com as terapias, com os desafios a serem superados, com o frustração da demora para falar; andar, desfraldar, ler, escrever, conversar, lidar com o preconceito, com a falta de comprometimento das instituições em suprir as necessidades do seu filho.

QUANDO NASCEM, a candura, a inocência e a alegria que emanam vão encantar tanto o mundo que o cerca, que você vai esquecer os desafios da vida. Em torno de um bebê lindo e sorridente o mundo “se dobra” e se desdobra...
E aí te levam a crer que basta providenciar a estimulação necessária que ele vai ganhar o mundo. E superar as barreiras.
Só que não.

QUANDO CRIANÇA, você vai perceber que terá que combater as diferenças gritantes já na alfabetização.

Por exemplo, o  ensino regular nesta inclusão falha (que não alfabetiza o aluno, só deixa ele lá matriculado) não é ideal para o desenvolvimento do seu filho.

E quando perceber que ele está indo para a escola e socializando, vai se perguntar: e o aprendizado?

A esta altura, percebe que seu filho passa ano após ano progredindo de série sem aprender o básico: ler, escrever, contas básicas.

AI CHEGA A ADOLESCÊNCIA e percebe que os anos investidos na tal  educação para “socialização" não valeram nada, e ele não aprendeu. 

Ele não terá absorvido o conteúdo das matérias no mesmo nível de aprendizado dos seus pares típicos... e porque adolescentes são seletivos – isso irá pesar no convívio. 

E nenhum adolescente típico quer namorar com um/a menino/a com deficiência intelectual, Eles convivem, mas não se relacionam.

E é quando enxerga nos olhos do teu filho a solidão. Ainda que ele saiba da sua condição, ele não se reconhece como diferente, muito menos "especial".
 
Ele só quer ser igual seus colegas, e eles até o toleram, mas não se relacionam com ele. Não é preconceito. É fato. Vida de adolescente. Eles adoram seus “coleguinhas especiais”, mas não se relacionam com eles, realidades diferentes, interesses incomuns, vidas diversas.

Não estou contrariando a ideologia do mundo perfeito, mas preciso alertar: avalia, repensa os ideais que te impuseram quando teu filho nasceu e quando você nem fazia ideia do que seria esse novo mundo.

O que vale mais: investir em uma Educação onde teu filho é "aceito" e convive com seus colegas típicos, mas não consegue absorver o conteúdo do maneira adequada ( ou de maneira nenhuma), ou prepará-lo para a vida adulta de maneira adequada, para que desenvolva seu cognitivo e habilidades, ampliando seu potencial?

O que deseja para seu filho?

A inclusão verdadeira na vida adulta, porque ele apreendeu a conquistar sua individualidade, consegue se comunicar, ler, escrever, fazer contas e até trabalhar, porque foi preparado para isso?

Ou que ele seja um adulto acolhido, mas sem condição de ter autonomia e relacionamento?

Não se esqueça de valorizar os coleguinhas das salas de espera das terapias, nas atividades essenciais, e creia, seu filho terá que dar continuidade na sua formação em Instituições que estimulem atividades de vida diária e preparação para o mercado de trabalho.

Ou quando concluir no ensino fundamental, ficará "moscando" em casa, a não ser que você seja pedagoga com disponibilidade de administrar essa questão do aprendizado, ou tenha recursos financeiros para investir em uma rede, uma equipe bem estruturada para apoiar a escola do seu filho nessa importante missão de ensiná-lo.

Invista o que puder em terapeutas: ocupacional, pedagógica, psicóloga, fonoaudióloga, fisioterapeuta, porque elas são essenciais, até eles alcançarem a maturidade. Busque a justiça se necessário, porque as leis garantem esse suporte essencial.

Não se esquive de impor ao seu filho os limites sociais. E insista para que respeite!

A criança/adolescente com Deficiência Intelectual atinge sua maturidade com muita lentidão, e muitas vezes nem a alcança. Por isso é essencial atenção permanente.

Por isso é tão essencial que estimule a descoberta de habilidades. E que invista muito nisso, e não estou falando de dinheiro (mas se tiver, melhor ainda) invista toda dedicação, amor, paciência e principalmente a consciência de que seu filho nascido com deficiência intelectual jamais deixará de ser Deficiente Intelectual, e que por mais que alcance conhecimento e autonomia, sempre vai precisar de supervisão.

(Tipo assim: eles não vão se preocupar com os boletos para pagar, se quiserem fazer determinada coisa que lhes aprouver, farão, porque são destemidos, sem preocupação com as consequências) - aqui eu fui bem fundo em generalizar mas creia-me eles são bem capazes....

No mais, seja feliz, porque se tem trabalho aí, tem alegrias três vezes mais compensadoras!

Não se prive de pedir apoio e acolhimento, buscar informação e orientação, sempre que achar necessário!

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