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Quanto vale a aparência na sua vida?

Clau Moreira Ramos - Trabalha com políticas culturais e nas horas vagas escreve sobre o que vê e sente

Clau Moreira Ramos

23/10/2021 - sábado às 16h40

Ser uma mulher feia é muito ruim. A maioria das pessoas não tem qualquer simpatia por mulheres feias. Muitas riem de você ou se afastam no instante em que se aproxima, e parecem se incomodar apenas por você existir. Outras tantas são predispostas a não gostar de você sem qualquer razão, ou simplesmente por conta de sua ausência de adequação aos padrões estéticos do momento. Pior: outras gostarão por pena, tentando te encaixar naquela cota das relações que é preenchida por caridade, com quem, na verdade nem merece, porque “não se esforça o bastante” (sigla para identificar quem nunca está no molde certo, tanto faz quanto tente). É quando a feia é acolhida, pela misericórdia de alguém que se acha muito legal. E não importa quanto você faça, quanto se esforce, sempre haverá quem diga que não poderia ser diferente, afinal, alguma coisa tem de “compensar” em você. Você nunca será inteligente ou dedicada o bastante a ponto de isso fazer mais diferença do que sua aparência para uma parte enorme das pessoas. Algumas te tratarão mal ou secamente ou duramente sem motivo e isso será assim, sempre assim; apenas assim. E seja lá o que você faça, não importa: para elas, sua aparência chegará antes do seu espírito e condicionará tudo o que pensarão de você. O seu comportamento, seja lá qual for, será sempre justificado pela sua aparência. E que você nunca cesse de buscar meios de corrigi-la a qualquer custo! (“É o mínimo, né?!”) O que você realmente pensa e sente quase ninguém nunca quer mesmo saber.

Ser uma mulher bonita é muito ruim. As pessoas têm uma simpatia instantânea por mulheres bonitas que é muito difícil de sustentar. Algumas riem demais para você, chegando a incomodar, até a ser inconvenientes. Outras tantas são predispostas a gostar ou a não gostar de você, sem qualquer razão, ou simplesmente por conta de sua beleza que enleva ou perturba. A aparência adequada te abrirá portas e te imporá rótulos, e isso será assim, sempre assim; apenas assim. Não importa quanto você faça, quanto se esforce, sempre haverá quem diga que foi o seu sorriso ou foram as suas pernas que conseguiram o sucesso. Você nunca será inteligente ou dedicada o bastante a ponto de isso fazer mais diferença do que sua aparência para uma parcela enorme das pessoas. Algumas te tratarão com doçura demais ou desprezo total sem nenhuma justificativa e, seja lá o que você faça, não importa: para elas, sua aparência chegará sempre antes do seu espírito e condicionará tudo o que pensarão de você. O seu comportamento, seja lá qual for, será sempre justificado pela sua aparência. E que ela permaneça sempre jovem e glamourosa! (“É o mínimo, né?!”) O que você realmente pensa e sente quase ninguém nunca quer mesmo saber.

Isso pode parecer bobagem para muita gente. Algo entre o exagero e o foco no supérfluo, no que é menos importante. Ótimo, se for seu caso; se você for essa pessoa assim bem resolvida, que consegue conviver e se relacionar para além das aparências, e que não se deixa contaminar por elas. No entanto, afundar nesse dilema entre a imagem real e a idealizada é a causa de um crescente número de suicídios entre mulheres, sobretudo as mais jovens, e de uma epidemia de depressão que se alastra, principalmente entre as mais velhas – sendo comum a todas as idades a angústia com a pressão diária do mundo de imagens que se multiplica em moldes e cobranças, nestes tempos de múltiplas telas e espelhos negros.

Num mundo assim, não precisamos apenas de referências visuais de todos os tipos de beleza, para dar amplitude e diversidade ao conceito. Não é só uma questão de tamanho de corpos, cores e elasticidades de peles. É preciso saber e lembrar que cada uma de nós é bem mais do que aquilo que se pode ver. Há todos os outros sentidos; afetos e sentimentos compondo o emaranhado de raízes e bagagens, asas e sonhos de cada pessoa. Seguir um modelo de algo que nunca será verdadeiramente você sempre trará frustração.

Seja o que você é, o que quer ser; seja como for. Seja como quiser ser. Não haverá muito perdão nem muita condescendência, não importa a sua opção. Opte por procurar ficar bem de qualquer jeito e ir aprendendo essa arte de ficar bem durante o percurso. É fácil? Não. Mas é melhor tentar isso do que tentar agradar a uma plateia que sempre muda e nunca está satisfeita. Pode soar meio bobo dizer isso, mas é preciso dizê-lo e repeti-lo em bom som: o que somos vai muito além daquilo que aparentamos; somos muito mais do que as imagens que compartilhamos. A gente não devia esquecer disso, nem deixar nossas meninas, nossas mães e avós perderem isso de vista.

Não se trata de ignorar as aparências, mas de lembrar que elas são apenas uma parte do todo; às vezes, uma parte distante da que é mais importante, mais reveladora, mais interessante... Cuidar dessas outras partes, dar-lhes mais atenção, pode inclusive fazer um bem danado à própria autoimagem, à imagem projetada aos outros e à capacidade de ver e perceber cada pessoa encontrada no caminho.

Essa percepção não impedirá que velhos preconceitos e novas injustiças continuem sendo praticadas, mas nos dará mais força para lidar com eles e elas; para ser e encontrar outras pessoas capazes de viver para além das aparências. Capazes, assim, de aproveitar a viagem, a experiência que é a vida, na sua plenitude de sentidos, histórias, compartilhamentos e descobertas.
 
PS: A aparência da mulher tem sido um campo de força há tempo demais. Os homens, até então considerados os grandes opressores (ainda que haja controvérsias: ou será mesmo que eles conseguiriam essa “dominação” sozinhos?), não sofriam tanto com esse tipo de problema. Isso foi antes. Ao mesmo tempo em que a luta feminista por respeito e equidade alcança conquistas importantes, em meio a muitas batalhas bem duras e algumas perdas lastimáveis, o sexo masculino se rende mais e mais à armadilha da aparência. A cada dia, infelizmente, boa parte desse texto pode ser aplicado a um garoto a mais; a um senhor a mais. Como famílias, grupos de amigos e sociedade: a gente pode (e precisa) ser melhor do que isso.

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