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Por um manifesto terrarredondista - II (um chamado em cinco partes)

Clau Moreira Ramos - Trabalha com políticas culturais e nas horas vagas escreve sobre o que vê e sente

Clau Moreira Ramos

23/02/2022 - quarta às 00h00

Observação: Se quiser ver como esta história começou, acesse aqui

A boa e velha Terra tem visto há muito tempo uns poucos humanos enriquecerem enquanto a maioria da humanidade experimenta apenas limitados (e importantes, é verdade, mas a cada dia mais evidentemente limitados) benefícios junto a muitos efeitos colaterais adversos desse progresso de alguns. Uma considerável melhoria para imensos contingentes populacionais é inegável; o sofrimento crescente e de variados – históricos e inéditos – tipos de dores para esmagadoras maiorias também.

Isso não é novidade. A novidade é que uma das tecnologias compartilhadas recentemente ajudou as pessoas a se aproximarem mais, mesmo continuando a ter condições desiguais. O ser humano sempre foi um bicho comunicativo. No seu meio mais próximo, cada uma e cada um sempre falou e ouviu muito, sempre deu opinião, sempre teve um pensamento a partir daqueles encontros. Bem antigamente, essa conversa ficava restrita ao próprio grupinho – família, amigos, a tribo, a comunidade. Mais tarde, a escrita ajudou a gravar e sacramentar as verdades. Entendia-se que, se estava escrito era verdadeiro e, então, quem tinha acesso a escrever tinha acesso a dizer as verdades. Até hoje, quanta coisa a gente “sabe” porque alguém escreveu aquela “verdade” lá atrás? (E como ignorar aqueles livros, os chamados - cada um pelo seu povo, pelos seus fiéis - de O Livro, A Palavra?)

Quando os livros deixaram de ser manuscritos e passaram a ser produzidos com a ajuda de máquinas, mais gente pôde ter acesso àquelas verdades. Mas ainda era muito pequeno o número de pessoas capaz de ler. Menor ainda o de pessoas que escreviam. Vamos pensar em tudo o que a gente sabe sobre os povos indígenas que estavam no Brasil quando os portugueses chegaram ou sobre os povos africanos que foram trazidos à força para cá, durante a colonização e o império. Todos nós que passamos pela escola básica estudamos esse assunto. Mas quantos livros escritos por pessoas indígenas ou africanas a gente tem daquele período? A visão que chegou até nós era a visão dos portugueses e dos viajantes europeus. Essa é a verdade que a gente conhece.

Mais tarde vieram o rádio e a televisão. E o que o rádio e a tv transmitiam se tornava a verdade. Quem duvidava do jornal das oito? Quem já parou para pensar em quem eram os donos dos canais de rádio e de televisão? Em como eles tinham conseguido esses canais

Durante muitos milênios, a verdade sobre o mundo era algo muito difícil, quase não se tinha como saber algo de outra parte do planeta, a não ser indo até lá ou recebendo notícias de um viajante. Durante muitos séculos, a verdade sobre o mundo foi transmitida graças a documentos e livros que foram escritos principalmente por pessoas ligadas às autoridades – a reis e religiões. E também por alguns artistas. Durante muitas décadas, a verdade sobre o mundo chegou até nós pelo livro, pelo jornal, pelo rádio e pela televisão. O número de pessoas que escrevia e falava publicamente tinha aumentado muito e ainda assim era bem pequeno.

E, então, tudo mudou. Não só porque mais gente passou a poder se comunicar – a se expressar e a acessar a expressão de outras pessoas, mais pessoas, uma diversidade de possibilidades até então indisponível – mas porque isso passou a ser praticamente instantâneo.

Entre o que acontece, a maneira como explico o que acontece (por escrito, por áudio ou vídeo) e a sua recepção da minha explicação não há mais necessidade de distâncias de tempo, não importa quão longe esteja o acontecimento. A passagem de informações – entre eu e você ou entre uma de nós e centenas, milhares ou centenas de milhares de pessoas - pode ser agora. Não é como um livro que requer ser escrito, editado, publicado, comercializado até chegar a você. Não é como um programa de rádio ou tevê que, mesmo sendo ao vivo, precisa ser minimamente planejado, organizado, para ter o começo-meio-e-fim previsto dentro daquele horário e formato e público pretendido. Agora a comunicação pode ser imediata. “Sem filtros”, alguns dizem. Será?

Esse é um lado da questão. Há outros. (continua)

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