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Por um manifesto terrarredondista - I (um chamado em 5 partes)

Clau Moreira Ramos - Trabalha com políticas culturais e nas horas vagas escreve sobre o que vê e sente

Clau Moreira Ramos

23/01/2022 - domingo às 11h00

Uma praga infesta o planeta e essa praga provoca nas pessoas um delírio que as leva a acreditar que verdade é o que elas “consideram” verdade. Pessoas exaustas de todas as partes, de todos os tamanhos de bolso, cores de pele e faixas etárias, em que pese imensas diferenças e desigualdades entre elas, se aproximam na explosão irada, desconfiada e difamadora das velhas autoridades que o mundo reverenciava: a ciência, a academia, a mídia convencional e a democracia estão sob ataque.
 
Um ápice do surto coletivo é o crescimento do número de pessoas que se autoproclamam terraplanistas. Demonstrações de ignorância tornaram-se sinal de rebeldia. Tachar evidências de ponto de vista e dizer que “isso não aconteceu porque eu não acredito” é a nova insurreição social.
 
De outro lado, intelectuais, progressistas e democratas atarantados procuram entender onde erraram, em que momento seus esforços e lutas reverteram justamente no efeito contrário e, em lugar de um mundo mais justo e igualitário, com direitos humanos defendidos como fundamentais e inalienáveis para todos, provocaram essa polarização sangrenta, que vê gente estudada afirmar que vacina mata, gente sem instrução desdenhar do conhecimento científico e ambos pedirem “direitos humanos para humanos direitos”, entre destemperos irracionais de ódio e intolerância. 
 
A pergunta que tira o sono de tantos: como viemos parar nesse caos? Quando foi que o rumo de esperanças de futuro que nos prometia o século 20 fez a volta e principiou o retorno para idades de sombra e trevas?
 
A questão está mal formulada. 
 
O mundo nunca foi esse cotidiano global para todos. Desde o início dos tempos, a história é pontilhada de focos de impressionante harmonia coletiva e de delírios e martírios sociais absurdos. Registros de comunidades separatistas e excludentes são comuns em todos os tempos, tanto quanto abundam evidências de indivíduos e grupos que pautaram suas existências intencional ou ingenuamente pelas mentiras mais escancaradas. Não que esses contextos humanos não tenham se transformado com o tempo. É que, primeiro, nunca foi uma questão de uns poucos. Depois: o desenvolvimento da humanidade não se trata de um conhecimento mera e simplesmente acumulado e passado adiante, como se o que uma geração descobrisse a outra automaticamente herdasse e internalizasse. A gente pode até transferir tecnologias e vários outros aprendizados de uma época para outra. Com o pensamento crítico e o compromisso social não funciona assim “no automático”. E se o pensamento crítico e autônomo e o compromisso coletivo e social não acompanham o desenvolvimento técnico e tecnológico não há avanço civilizatório efetivo. 
 
Estamos revoltados e descrentes com a ciência, os intelectuais, a grande imprensa e especialmente os políticos porque os belos discursos dos mais desenvolvidos, tão divulgados e cheios de boas intenções, não se traduziram realmente em compartilhamento dos rendimentos do trabalho e da tecnologia para todos. 
 
Velhos problemas primitivos foram substituídos por novos problemas modernos: sofremos diferente, mas continuamos sofrendo. Divididos entre aqueles que agonizam e os que afundam no breu de uma angústia incompreensível, vemos desigualdades sociais dolorosas e vergonhosas nos distanciarem eras a cada dia, enquanto a sensação de dor, aturdimento e desilusão nos reúne nesse presente insólito, insuficiente, insatisfatório. 
 
E agora? (continua)

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal BS9

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