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Aos “cretinos” nossos de cada dia

Maurício Juvenal - Jornalista, especialista em Pesquisa Social e mestre em Letras

Maurício Juvenal

07/02/2022 - segunda às 00h00

Não sei se acontece com muito mais gente, mas meu processo criativo (estou me achando, né?), e também o decisório, em geral se dão no meu banho matinal. A Sabesp que não me ouça, mas acabo por consumir uns bons litros a mais de água enquanto penso, crio e decido sobre as atividades diversas que terei de lidar ao longo do dia.

Hoje, mas não sei por que cargas d’água, ou talvez até saiba, acordei com o termo cretino na cabeça. E o levei para o banho comigo. É possível que seja resultado do balanço semanal, durante aquele banho de domingo, quando a gente avalia como foi a semana que passou e começa a se preparar para a atual.

Corpo lavado, fui ao dicionário. Cretino é um adjetivo substantivo masculino. Putz: masculino! Tem de fato tudo a ver. Há muito mais cretinos homens no mundo, do que mulheres. E disso eu não tenho dúvidas. Por definição, cretino é o que ou quem sofre de cretinismo, que age de modo imbecil, idiota ou inconvenientemente; que se apresenta de modo desrespeitoso. Fala a verdade: te veio ou não alguém na cabeça?

Importante deixar claro aqui que não me refiro ao cretinismo que a medicina aponta como deficiência mental causada pelo hipotiroidismo congênito, em geral durante o desenvolvimento do recém-nascido, quando a ausência do hormônio tiroxina atrapalha o amadurecimento cerebral. É um estado patológico nesse caso, doença mesmo.

Me refiro aqui a um outro tipo de cretinismo e que coincidente também decorre da falta de amadurecimento, mas, no caso, de amadurecimento de caráter. Uma “doença” providencial e que acomete aqueles que, sem um pingo de vergonha na cara, percorrem seus dias e sua existência na terra produzindo todo tipo de pilantragem, esperteza, enganação, inadimplência, calote.

Alguns se revestem de lobo em pele de cordeiro, carregam um terço no retrovisor do carro e usam o nome de Nossa Senhora como se ela fosse a supermãe a orientá-los e protegê-los. É em geral a máscara que usam para aplicar seus golpes. Falam em Deus e santidade o tempo todo, acreditando assim pecarem com uma reserva de perdão já garantida. Enganam, furtam, constrangem e incomodam, pois, vivem a suplicar por migalhas e atenção, porque o produto de suas enganações se vai com a mesma facilidade que vem. 

Mas há também os cretinos cujo amadurecimento cerebral foi tanto, que passou do ponto. Se tornaram professores, advogados, filhos de pai promotores, com sobrenome pomposo e aí se sentem à vontade para aplicarem todo tipo de golpe. Ora nomeados em cargos públicos aqui, ora nomeados em cargos públicos ali, não possuem qualquer tipo de linha ideológica. São em geral preguiçosos, não afeitos ao batente, até bons de conversa, mas vendem a mãe, a filha e seja lá o que for quando o objetivo é enganar. Em comum com o outro tipo, o fato de irem à missa, professarem a sua fé.

Mas há, também, os cretinos com mandato. Esses sequer amadureceram, no cérebro e no caráter. São tomados pelo mal da vaidade, constroem o discurso da origem humilde, compõem o enredo de filhos de pais trabalhadores, que venceram todas as dificuldades e então ascenderam ao poder. E chegando lá sentam-se no trono da soberba. Consideram-se tão poderosos que acreditam ter o direito de definir e decidir como as pessoas devem avaliá-los. E se o resultado for contrário ao que acreditam, ou se calam ou sorrateiramente passam a desacreditar o carteiro, como se ele fosse o responsável pela má notícia. Esse tipo de cretino também se apresenta como religioso e crente a Deus.

Vocês vão dizer que há um certo azedume em minhas palavras. Eu, humildemente, sugiro olhar no entorno. Vão descobrir que há um montão de cretinos que nos cercam no dia a dia. A boa notícia: eles são em quantidade infinitamente menor do que as pessoas “gente boa”, que vivem da prática do bem e da solidariedade e da generosidade. Ao contrário de alguns cretinos jornalistas, advogados e políticos, esses outros seres jornalistas, advogados e políticos – digo de novo, em maior quantidade – compensam a ofensa que os cretinos fazem à vida e à boa existência.

Recorro a uma frase do escritor italiano Cesare Pavese, em “Il Mistere di Vivere”, para um lembrete a esses nossos cretinos de cada dia: “as desgraças não bastam para fazer de um cretino uma pessoa inteligente”. Mas também não dá para, nesse momento, não lembrar de Nelson Rodrigues: “Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem”.

Vai um cretino aí?

 

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