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Casa abriu espaço para muitas bandas que estão até hoje fazendo sucesso no pop rock
Por Rick Santos
02/06/2022 - quinta às 15h40
O Heavy Metal ficava na Avenida Vicente de Carvalho, 18, onde funcionava o antigo Cinema 1 - (foto: acervo Toninho Campos)
Pode até parecer engraçado, mas no começo da década de 80, “Heavy Metal” era apenas o nome de uma animação baseado em uma revista e que ganhou as telonas do cinema! A trilha musical da animação era feita com grandes nomes do rock pesado, como Black Sabbath, Journey e Nazareth. Daí a associação do termo à bandas pesadas. O ano era 1981.
Toninho Campos, um dos herdeiros da Cinemas de Santos, empresa que tinha várias salas como Indaiá e Roxy - recém-chegado de uma experiência de vivência em Londres por três meses, uma época onde The Clash, Ramones e cia. revolucionavam a linguagem do rock -, concebeu uma casa que pudesse trazer essa essência londrina dos palcos, onde bandas novas pudessem ganhar o estrelato.
O local era a Avenida Vicente de Carvalho, 18, entre o Gonzaga e o Boqueirão e de frente pro mar. Lá funcionava o antigo Cinema 1, que foi pioneiro em ter um bar em sua recepção.
O objetivo inicial não era fácil. Dar uma cara londrina ao local e que o foco do público seriam as bandas. Tudo isso num cenário pós-discoteca brilhante que dominava as casas noturnas da época. Coube a Marcia Davis e Paulo Perez essa missão no projeto. Nascia o Heavy Metal santista.
A revolução musical já tomava conta do Rio de Janeiro com a rádio Fluminense, que tocava fitas demo de bandas como Paralamas, Titãs, entre outras. As rádios santistas também viraram o playlist em 1982 e abriram espaço para essa “nova onda”, que depois acrescentou mais bandas “indies” de sucesso lá fora com o nome internacional “New Wave”, como Devo e B-52s. Tinha inovação não só nas bandas, mas um telão que renderia sozinho uma estória aqui no TBT com as novidades do momento: videoclipes das bandas que começavam na origem do que seria a MTV!
Coube à banda carioca Herva Doce a inauguração da casa. Era réveillon de 1982 para 1983. Toninho me confidenciou que o nome estranho da banda nos lambe-lambes pela cidade chamou a atenção de muitas pessoas - numa época bem conservadora - que até a polícia ligou pra ele dizendo estranhar o nome e não entendia o motivo da festa. Segundo Toninho, achavam que era algo meio de apologia ao uso de drogas!
Foram três anos de muito sucesso e que pavimentaram não apenas o carinho de ser a primeira chance de muitas bandas que estão até hoje fazendo sucesso no pop rock, mas também colocando Santos como a terceira maior praça de rock para shows (Rio e São Paulo eram as principais praças)!
Como sempre, por causa de reclamação de moradores, o Heavy Metal precisou fechar e se transferiu para o Clube XV.
O que muitas pessoas não sabiam, nem Toninho, é que eu fui convocado às pressas por um amigo DJ para substituí-lo na ultima noite do Heavy Metal. Lembro que encerrei meu set com “Sexual Healing” porque no dia anterior o cantor Marvin Gaye tinha sido assassinado pelo próprio pai. Era a despedida honrosa à Gaye e ao Heavy Metal.
Quem viveu... viveu.
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