Fernando Russell: hambúrguer e cultura nerd são a especialidade da casa

Se esta entrevista não tivesse como principal gancho o hambúrguer (que, aliás, tem até data de comemoração, e foi no sábado, dia 28), seria difícil escolher por onde começar a apresentar Fernando Russell. Porque o cara é multimídia, como será visto um pouco mais para frente.

Para quem ainda não ligou o nome à pessoa, em 2017 esse santista foi o vencedor do concurso "O Melhor Hambúrguer do Brasil", do programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga. A final aconteceu em setembro, meses antes de ele inaugurar sua hamburgueria no Boqueirão, a Seven Kings Burgers n' Beers. E como o carro-chefe era justamente a receita que lhe valeu o prêmio de R$ 10 mil, a casa começou bombando, com muita gente querendo provar o Camemburguer, que tem esse nome por levar queijo do tipo camembert.

É claro que, como acontece com todos os estabelecimentos, houve percalços nesses últimos cinco anos. A pandemia de Covid-19 chegou justamente num momento em que a Seven Kings começava a se expandir. E no meio disso ainda teve a alta no preço dos alimentos, especialmente o da carne.

Mas Fernando, juntamente com seus sócios Felipe Prieto e Rodrigo Seirafe, soube fazer uma boa leitura do cenário e de seu público. A prova disso está nos números. De 2017 para cá foram vendidos na unidade de Santos da Seven Kings mais de 233 mil hambúrgeres. Só de Camemburguers foram mais de 52 mil. E na da Capital, inaugurada no ano passado, já são mais de 85 mil comercializados, sendo mais de 23 mil Camemburguers, que no cardápio aparece como Rei Carlos Magno, um dos sete "reis" da hamburgueria.

O Camemburguer, com queijo do tipo camembert, venceu o concurso no programa de Ana Maria Braga (foto: Divulgação)

Falando em rei, lembra que foi dito acima que ele é multimídia? Pois é, Fernando Russell é um especialista em cultura nerd e sua paixão por história, literatura de fantasia e RPG não se refletiu apenas no conceito da Seven Kings. Ele colabora para o blog Jovem Nerd, um dos principais do gênero, e participa do Nerdcast, um podcast sobre tudo o que é relacionado ao mundo pop e geek. Mas lá o Fernando é o Tucano.

Não bastasse tudo isso, ele ainda dá aulas nos cursos de Publicidade e Propaganda e de Relações Públicas da Unisantos. E tem o seu canal no YouTube, que começou em 2013 como Cozinha Maravilhosa de Jack, totalmente voltado para a gastronomia, e hoje se chama Na Minha Humilde Opinião, no qual faz comentários sobre diversos assuntos.

Há quase cinco anos você venceu o concurso "O Melhor Hambúrguer do Brasil" no Mais Você e logo depois inaugurou a Seven Kings. Dá para resumir o que virou a sua vida de lá pra cá?
Até o meio de 2017 eu era diretor de Marketing da Universidade Católica de Santos e, entre esse cargo e as aulas, havia dias em que eu trabalhava 12, 13 horas, com inúmeras reuniões. Eu já estava saturado dessa rotina, que se estendeu bastante. Em julho daquele ano, pedi demissão do Departamento de Marketing e passei a só dar aulas. A minha vida começou a mudar ali, mas não havia nada certo. Apenas um plano de negócios, um monte de simulações e estudos para abrir a hamburgueria. Mas no final de agosto veio a virada mesmo. Achamos o imóvel, começamos a reforma e fui chamado para a final do concurso do Mais Você. O programa deu uma impulsionada imensa no negócio, porque engajou os fãs do meu canal no YouTube e do Jovem Nerd na torcida, o que viralizou nas redes sociais. Além disso, alcançou um público que eu não tinha. Isso possibilitou que no primeiro dia de abertura da Seven Kings, em Santos, tivéssemos fila desde às 8h da manhã. A partir daí eu pude me dedicar muito mais a um projeto próprio.

Você abriu duas unidades da Seven Kings na Capital entre 2020 e 2021, ou seja, durante um período de medidas restritivas muito duras em razão da pandemia. Isso já estava programado ou foi um risco que você decidiu correr?
A expansão estava sendo planejada, mas em um modelo completamente diferente. Nós estávamos formatando a nossa franquia quando chegou a pandemia. A abertura das unidades de São Paulo foi diferente. Uma questão de sobrevivência. Antes da pandemia, 60% do público da Seven Kings aos finais de semana era de fora da cidade. Sobretudo de São Paulo. Com as medidas restritivas, essas pessoas pararam de vir a Santos, portanto, tínhamos que ir atrás deles. Nossas diretrizes eram 1. Não demitir ninguém; 2. Não quebrar; 3. Não desobedecer as medidas sanitárias. Abrir as unidades de delivery em São Paulo nos permitiu seguir essas diretrizes. 

Como você vê o atual momento da gastronomia na Baixada Santista? Está diferente de quando você começou, em 2017?
Sim. A cena gastronômica santista evoluiu muito, principalmente no quesito hambúrguer. Antigamente eu ia para São Paulo para comer hambúguer. Hoje, as pessoas descem a serra para ir na Seven Kings. E, é claro, não é só na Seven Kings. A Revo, por exemplo, e outros restaurantes recebem muita gente da capital.

A Seven Kings surgiu com conceito e temática bem particulares. De onde veio a inspiração?
Desde 2006 eu gravo regularmente um podcast chamado NerdCast. Esse podcast tem um alcance imenso e a audiência é formada pelo público nerd. O público do meu canal no YouTube, em sua maioria, veio dessa audiência e, assim como eu, eles gostam de História, da literatura de fantasia, de Dungeons & Dragons, RPG, essas coisas. Daí tive a ideia de usar essa temática. 

A casa agora tem lançado cards de monarcas que dão nome aos hambúrgueres. É uma maneira de fidelizar cada vez o cliente?
É uma ação de marketing, mas também um gosto pessoal meu e dos meus sócios, Felipe Prieto e Rodrigo Seirafe. Eu colecionava cards de super-heróis e jogos tipo Super Trunfo. A ideia, mais para a frente, é criar um jogo dos Reis. 

A Seven Kings lançou cards de monarcas que dão nome aos hambúrgueres da casa, como este do rei Shaka (foto: Divulgação)

Tivemos de um ano para cá um aumento pesado no preço da carne. Como tem sido lidar com isso?
Hoje, mais de dois anos depois da pandemia, nós estamos voltando a faturar o mesmo que antes. Porém, o custo de todos os ingredientes está bem maior. Isso diminuiu muito o lucro e consequentemente o capital para novos investimentos. Por enquanto, estamos encarando ainda como um retorno e não repassamos esse aumento para o cardápio. Mas com os preços aumentando todo mês, uma hora vamos ter que aumentar também, porque não está em nossos planos diminuir a qualidade dos ingredientes. 

Quais carnes você considera as melhores para se fazer um bom hambúrguer?
Em primeiro lugar, carne fresca e de boa procedência. O boi bem tratado é muito melhor. Em segundo, escolher cortes que tenham um bom percentual de gordura. Nosso blend é feito com mistura de acém do meio, peito bovino e fraldinha. 

Você fazia de tudo um pouco mesmo antes de se lançar na gastronomia. Ainda dá tempo para essas atividades paralelas?
Eu continuo dando aula duas vezes por semana, gravando podcast e criando conteúdo para internet. O canal do YouTube ficou meio parado na pandemia, porque não queríamos reunir a equipe, mas esse ano vamos completar 10 anos e teremos vídeos novos de receita. 

Como um especialista em cultura nerd, do que você gosta de ver, ler, assistir ou colecionar?
Eu adorava Marvel e Star Wars, mas recentemente deixei de consumir esse conteúdo. Marvel porque saturei do formato com tanto conteúdo de super-heróis e Star Wars porque a última trilogia foi péssima. Eu tenho consumido muito documentário e séries nos streamings, como Westworld, The Boys, Watchmen, Last Kingdom. As últimas que comecei a acompanhar são Revenant, da Apple TV+ e Winning Time, da HBO. Estou no aguardo de House of Dragon, que é um spin of de Game of Thrones e The Rings of Power, spin off de Senhor dos Anéis.