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Por um manifesto terrarredondista - IV (um chamado em cinco partes)

Clau Moreira Ramos - Trabalha com políticas culturais e nas horas vagas escreve sobre o que vê e sente

Clau Moreira Ramos

23/04/2022 - sábado às 00h00

Políticos já disseram tanta coisa que não era verdade; cientistas já afirmaram tantas certezas que não se comprovaram; universidades já prometeram tantos empregos e progressos e cenários futuros que não se confirmaram; a imprensa já nos contou tantas mentiras. Como então acreditar em jornalistas, cientistas, intelectuais e políticos? 

Só tem um jeito.

Se a gente assumir que ninguém sabe a verdade inteira de tudo o tempo todo. Se a gente aceitar que a verdadeira verdade é principalmente um jeito combinado de olhar e agir no mundo, que envolve a defesa de certos princípios, e um esforço conjunto de manter a coerência nesse processo. Nós precisamos de especialistas, precisamos de gente que estude e se dedique a fundo a conhecer, investigar, ensinar, comunicar, exercer funções públicas servindo ao interesse público. Nenhuma dessas funções é mais importante do que qualquer outra. Todas merecem respeito. Todas precisam se dar ao respeito e cumprir o combinado de defender direitos e desempenhar deveres com honestidade. Humildade também; paciência também, sabendo que o conhecimento a gente constrói com muito esforço e colaboração e devagar. Reconhecendo que a permanência é dinâmica, não raro provisória – por mais angustiante que possa parecer – pois esse discernimento tem muito de libertador.

Porque precisamos aprender juntos a lidar com as verdades e as mentiras que produzimos juntos, talvez uma boa ideia seja começar por não destruir tudo o que veio antes de nós e por resistir à tentação de escolher só a verdade que nos convém. 

Muito do que foi escrito ao longo dos séculos é mentira. Nem tudo. Uma parte grande do que ouvimos no rádio e na televisão não corresponde à realidade. Outra parte corresponde. Não dá para negar que avanços científicos e políticos melhoraram a nossa vida, mesmo reconhecendo inventos que nos fazem mal. Apesar das divergências e descontentamentos, não podemos fazer de conta que não sabemos o quanto muitos saberes universitários e muitas informações dos meios de comunicação, assim como muitas medidas políticas, nos ajudam a viver melhor.

Não é preciso jogar fora todos os saberes consagrados só porque ali tem muita mentira, mas para isso precisamos sim assumir que existe muita mentira, muita história mal-contada, muita promessa que não foi cumprida e que nem pode mesmo ser cumprida daquele jeito. Algumas pessoas super bem-sucedidas insistem em dizer que “se todo mundo se esforçar bastante, todo mundo vai ser bem-sucedido”, mas a gente se esforçou muito e viu nossos pais e mães e avós se esforçarem loucamente e isso não virou sucesso. Às vezes, foi bem o contrário de sucesso... Não é só o esforço de cada um que faz diferença na vida de cada um; muito menos na vida do conjunto de pessoas nessa terra. A gente sabe disso faz tempo; está na hora de aprendermos o que fazer com isso. Só dá para aprender e para fazer diferença junto. Ocupando os espaços de conhecimento, ampliando o que a gente entende por conhecimento, para poder deixar caber tanta coisa sabida que fica fora da escola, mas é importante; que a ciência ainda não estuda, mas deveria; que a política não dá conta, mas precisa começar a dar. Que a mídia precisa contar e mostrar que existe.

E então? (continua)

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