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O West Side de Spielberg: um triunfo cinematográfico

Gustavo Klein - Apaixonado por livros, filmes, música e séries, atua há mais de 30 anos como jornalista cultural

Gustavo Klein

15/12/2021 - quarta às 17h29

Há algum sentido em refilmar um filme tão definitivo quanto West Side Story, um clássico inquestionável, ganhador de 10 Oscar (o musical mais premiado da história), unanimidade entre cinéfilos e críticos como o melhor musical da história do cinema? 
 
Um filme que tem na geração que hoje varia entre 65 e 75 anos uma quantidade impressionante de fãs que o consideram o filme de suas vidas, seu filme favorito. Marcou aquela geração que era adolescente na época do lançamento nos cinemas, exatos 60 anos atrás.
 
Há sentido em revisitar um filme deste tamanho? Talvez não, mas que bom que o filme foi feito! Steven Spielberg, fã do filme desde criança e diretor da nova versão, convence os mais céticos desde os primeiros segundos de sua versão do clássico, que está em cartaz nos cinemas de todo o mundo.
 
O filme é um triunfo cinematográfico que conquista, cativa e se conecta muito melhor às gerações pós-1980, que talvez nem conheçam o original e consomem melhor o modo como o filme foi pensado, montado e editado. Não é melhor que o original e nem foi feito para ser.
 
O filme torna evidente todo o cuidado e respeito de Spielberg com o filme original. Não é uma reimaginação da história nem toma liberdades com a história, uma tragédia romântica inspirada em Romeu e Julieta, de William Shakespeare, ambientada na Nova York dos anos 1950. Mas é mais competente, por exemplo, em mostrar as circunstâncias em que a história se desenrola.
 
As duas gangues juvenis - os Jets (irlandeses) e os Sharks (porto-riquenhos) estão estranguladas em uma região da cidade de Nova York que está sendo desocupada para uma reurbanização e a Construção do Lincoln Center. Não há espaço para todos e a rivalidade é pelo território que sobrou de pé, em meio a escombros e máquinas de demolição.
 
Entre as poucas mudanças em relação ao filme original estão o fato do líder dos porto-riquenhos, Bernardo, ser boxeador. No original, os Sharks não tinham, como os Jets, uma canção própria. Aqui se faz justiça a eles com La Borinqueña, uma canção cheia da justiça social que tanto falta àqueles imigrantes tão cheios de sonhos.
 
Senti falta, confesso, dos olhos de Rita Moreno, a Anitta do filme de 1961. Ela participa da nova versão tomando o lugar de Doc como a patroa do protagonista Tony na farmácia onde ele mora e trabalha e sua presença, sempre que está em tela, é brilhante e tem diversos ótimos momentos, incluindo uma canção, Somewhere. O filme é dela, literalmente, inclusive, já que ela é a produtora executiva.
 
No lugar de Rita Moreno como a melhor amiga da protagonista Maria está Ariana DeBose, que tem um approach diferente com o personagem mas vem recebendo boas críticas e está, inclusive, indicada ao Globo de Ouro pelo papel.
 
Por falar em Maria, por mais que achemos Natalie Wood - a protagonista dos anos 1960 - linda, faz muito mais sentido uma descendente de colombianos, a atriz Rachel Zegler, viver uma moça latina de 19 anos do que uma atriz de ascendência russa. A questão é que Rachel, por mais que tente, não tem o carisma necessário. Mas também não atrapalha…
 
O elenco é, de fato, o ponto fraco desta versão. Ansel Elgort, de longe o mais conhecido do filme (estrelou ‘A Culpa é das Estrelas’) tem contra si, na “vida real”, acusações de estupro de uma garota que na época da suposta violência tinha 17 anos, o que provocou um movimento de repúdio ao filme que ainda não sabemos até que ponto vai prejudicá-lo.
 
Aos muito céticos, como meu amigo Waldemar Lopes, que estavam preocupados com a trilha sonora e com o corte de uma das canções mais divertidinhas do musical (I Feel Pretty), ela está, sim, no filme novo. Repaginada e ambientada na loja de departamentos onde Maria trabalha como faxineira durante as madrugadas.
 
Por falar em trilha sonora, mais uma ótima notícia: o regente venezuelano Gustavo Dudamel conseguiu manter toda a estrutura e o encanto da trilha original com algumas poucas mudanças que fazem toda a diferença. Um sininho aqui, um acorde diferente ali, um andamento mais lento acolá e… funciona muito bem! Genial!
 
Não creio em muitos prêmios para o filme, pelo simples fato de ser uma refilmagem de uma produção já muito premiada e conhecida. A bilheteria também não deve surpreender tanto, já que a pandemia derrubou a frequência nos cinemas em todo o mundo e está longe de ser recuperada. Mas o simples fato do filme existir é uma conquista a ser celebrada por Steven Spielberg, inclusive porque vai levar muitos novos fãs a quererem conhecer o original.
 
De ruim mesmo a ser destacado, apenas a tradução e legendagem brasileiras, que nada têm a ver com o filme em si mas quase conseguem estragar a experiência de quem não entende inglês ou não conhece as músicas. Tradução terrível, lamentável, mesmo, especialmente nos momentos musicais.
 
Vale lembrar, por fim, que o filme é uma tragédia, inspirado por uma peça de William Shakespeare que não termina nada bem. Então não se empolgue nas dancinhas e não esqueça de levar aquela caixinha de lenços de papel. E bom filme!

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal BS9

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