Sábado, 18 de Maio de 2024

DólarR$ 5,10

EuroR$ 5,54

Santos

22ºC

Marketing existencial de prateleira em tempos de nervos à flor da pele

Clau Moreira Ramos - Trabalha com políticas culturais e nas horas vagas escreve sobre o que vê e sente

Clau Moreira Ramos

23/09/2021 - quinta às 10h51

Cansou de fazer dieta e não perder peso? De fazer curso de liderança e não virar líder? De contratar coach e não dar em nada, de tomar remédio e não ficar legal, de tomar droga e não ficar legal, de malhar loucamente e não ficar legal, de tentar e tentar e não conseguir e sempre, seja lá o que for, fazer e tentar e pagar caro pra caramba e não ficar legal? Estressado, chateado? Desanimada e deprimida? Achando que viver não vale a pena? Mano, às vezes vale e às vezes não vale. Vem comigo.

Tá infeliz porque não tá sabendo o que comprar? Faz o seguinte: não compra nada. Desliga essa porcaria e vai lá chorar na cama, que é lugar quente. Chora, mermão. Chora mermã. Chora até cansar. Ficar triste faz parte, não vai te matar. Gastar que nem alucinado para parecer feliz não vai resolver. Se tiver muito mal mesmo, gasta uma grana na terapia, mas procura um terapeuta descente, mana. Um que não te venda um milagre. Milagre pode até existir, mas não parece que está disponível para qualquer frustradinho que não sabe o que fazer da vida.

Desculpa pegar pesado, mas... na boa: o mundo tem muito, muito problema sério. Tem gente morrendo de fome, de doença que podia ser curada, de violência que podia ser evitada e de sacanagem de autoridade que devia estar na cadeia. Já que a sua tristeza não passa, não importa o que você faça, tenta fazer alguma coisa pelas outras pessoas, meu.

Não tô dizendo que a sua vida vai melhorar não. Se pá, ela não vai melhorar nunca. Ou vai, não sei, porque não sou vidente e porque não sou você. Quem devia saber da sua vida é você, mas parece que você não se enxerga, não se vê, prefere escutar os vendedores de felicidade que dizem o óbvio sobre você...

Mas aí, desculpa mesmo se não me proponho a resolver os seus problemas como eles fazem. Faz seguinte: não vou te vender nada agora; vou te dar de presente um valor agregado; vou te gerar um valor, porque eu gosto de você. Eu me importo mesmo, tá ligado? É isso que você escuta todo dia antes de comprar a próxima solução mágica, né não? “Mas essa é diferente”.

Então... Se cê quer se incomodar, se incomoda com o que pode mudar nessa vida. Vê aí com quem você pode se juntar que não seja uma toupeira e que queira melhorar a vida de quem só se ferra, sem ficar julgando. Não sabe por onde começar? Então, estuda. Tipo, sabe aquele tempo enorme que cê passou na escola à toa? Não vou dizer: esquece, porque sei que já esqueceu mesmo quase tudo o que devia ter aprendido. Então digo: assume. Assume que não aprendeu pomba nenhuma e estuda um pouco de tudo o que querem que você não saiba.

Tão te socando empreendedorismo na goela? Estuda história. Estuda filosofia. Nem tem desculpa de ser chato ou difícil ou inacessível, que já rola um milhão de vídeos maneiros para acessar nas horas em que tiver de bobeira, que não são poucas, né/! É só substituir o tempo devarde em redes sociais, por exemplo.

Ouve várias coisas sobre o mesmo assunto. Lê. Ler se aprende lendo e quando você se ligar, vai deixar de achar muita coisa difícil. Não é que sejam difíceis, você é que tem preguiça. Não deixa um lado só fazer sua cabeça não. Escuta o lado capitalista que está na tevê e o anticapitalista que a tevê odeia. Mas procura gente inteligente, que fala coisa com coisa dos dois lados. Tiozão ou molecada babando não vale; gente que perde a cabeça e ofende não costuma ter muita razão. Mas sei lá. Cê não tem que acreditar em mim. Ouve esses caras também. Mas não só. Se coloca num lado e depois no outro. E pensa, mano. Pensa, pensa, pensa. Deixa seu corpo inteiro pensar também.

Sente como você se sente em cada assunto novo que aprende. A sua vida não tá uma meleca? Então pelo menos vai lá descobrir que uma porção de gente já passou por isso. Já resolveu suas crises fazendo arte, fazendo comida, fazendo qualquer coisa que nem passa pela sua cabeça, mas pode te dar uma ideia sobre como descobrir o que deve ser a sua onda. Cê não tem que comprar tudo o que esfregam na sua cara. Não tem que acreditar em toda maravilha de estilo show que te lançam. Faz você o seu estilo. Ou não faz porcaria de estilo nenhum. Por que cargas d’água alguém tem que se preocupar com o estilo ou a modinha da vez?

Discorda? Argumenta, bro. Argumenta, sis. Mas se arma antes. Se prepara. Não corre, não se esconde. Estuda e aprende. De repente cê descobre gente que nem você ou outros totalmente tão diferentes que te dão outra visão. A vida pode tá ruim. Ela não precisa ser ruim pra sempre. Só que não adianta esperar a pílula mágica. Tem que rolar sua própria ralação, seu próprio jeito, seu caminho. Se tá perdido agora, procura você a sua própria saída. Estuda, meu. Conhece os paranauês. Guarda os preconceitos no bolso e se joga no mundo, sem ser lesado e vacilão ou vacilona, mas também sem ser covarde, sem ser a boiada que alguém toca e manda pro pasto ou prum matadouro quando quer.

E se depois de aprender muita coisa, fazer muita coisa, ir a muitos lugares e conhecer muita gente diferente, você continuar infeliz, beleza. Talvez seja isso aí mesmo. Mas pelo menos tenta. Não perde e se rende antes de tentar de verdade. Ou então para de fingir que tenta, enchendo a cara de consumo, de qualquer droga, de qualquer idiota que diga qualquer, pô. Desliga o celular e olha pra fora da janelinha da sua alma encolhida. Deixa pra morrer de tristeza quando a hora de morrer chegar. Enquanto ela não chegar, sai dessa algema desse celular e vai viver. É assustador, assustador. E também é fascinante, encantador e lindo.


PS: Mas espera aí! Isso aqui é uma venda, né?! Então eu te gero um valor e se der certo, você compra o meu curso, meu “côuchim”, lá lá lá. Bueno, sendo assim, a parada é a seguinte: você vai tentar. A sua meta é aprender (literatura, história, filosofia, ciências, sei lá... decide você, carambolas). Vai estudar todo dia. Se vira. Dá seu jeito.

Se a deprê pegar demais, procura um psicólogo que preste e põe na cabeça que esse lance demora e requer dedicação. Cê tem que deixar de ser frouxo. É chato falar, mas é por aí. Depois, cê tem que conhecer lugares diferentes. Conhecer é ir, mano. Pegar o busão, metrô, a magrela, ir a pé ou dirigir. E ir lá. Percorrer a sua cidade. E prestar atenção. Sentir cada lugar, respirar, ouvir, ver com olhos de quem tá lá mesmo, não de quem é bicho de goiaba viajando. E tem que conversar com as pessoas. As que tão perto: o porteiro, a vizinha, o gari da esquina, o caixa do supermercado; as que tão longe: o porteiro, a vizinha, o gari da esquina, o caixa do supermercado. Olhar nos olhos. Escutar. Falar formando diálogos – uma conversa de quem ouve e interage; fala e escuta. Essas coisas que a gente não aprende mais em casa nem na escola, mas que faz uma falta danada saber na vida.

E nesse rolê, cê tem que tentar descobrir quem é você. Quem é parte do seu mundo. De que mundo você faz parte. Qual a sua parte de esforço para melhorar a vida nesse mundo. Parar um pouco de perguntar o que vai fazer seu miserável umbigo feliz. Se liga. Essa pergunta não se responde fazendo essa pergunta, meu. Você tem que viver, conhecer, conviver, de repente, se pá, até fazer alguma coisa decente para ajudar as outras. A gente não é só individuo, mas parece que esquecemos disso, sabe? Aí, de repente, (re)iniciar uma vivência de comunidade, de ciclos, de ritos, de compartilhamentos reais, pode mudar tudo na sua vida...

Aí, como dito lá em cima, tudo isso pode te ajudar a ser menos infeliz ou pode até piorar ou, pior ainda, pode não fazer diferença nenhuma. Nesse caso, você ganha de volta o direito a ser um ser patético, alimentado por sonhos que nem são seus enquanto morre de uma fome que não compreende.

Maaaaassssss... se depois de começar isso tudo, algo fizer sentido na vida pra você, aí você me paga! Em prestações a perder de vista, falou? Assim, ó: vivendo, vivendo tudo o que aparecer, na alegria e na tristeza. Vivendo e divulgando esse produto fenomenal, que é a vida. Essa habilidade fantástica que é tomar as rédeas da própria existência, essa mentoria sem igual, que é a busca de conhecer a si e ao mundo.

O bagulho é doido, meu! Tô prometendo nada não, mas, de repente, cê pode até aprender a cair e a levantar e a cair e a levantar e e e. E a amar essa zona toda. Pode até tomar gosto por viver com outras pessoas e por tentar construir um jeito melhor de viver com todo mundo. Pode até acreditar que dá pra fazer toda essa saga valer a pena.

Meu produto não é pra mané amendoim. Uma vez que você compre, vai ter um preço a vida inteira. A parte boa – que às vezes pode ser horrível e às vezes pode ser muito maravilhosa – é que vai ter vida enquanto você viver. Mas aproveite que está aqui, que chegou até o fim desse textão. Ter essa oportunidade de clareza não é pra qualquer um. Você ainda leva de brinde mega blaster especial “exclusivíssimo” o direito de ficar triste sem isso ser o fim do mundo e de se recuperar, sem ser a pulso de remédio, e de ter a chance de descobrir quem é você.
 

Deixe a sua opinião

Últimas Notícias

ver todos

SOLIDARIEDADE

SBT e AACD definem data para a 27ª edição do Teleton

GATOS

Mais de 40 mil pessoas são prejudicadas pelo furto de cabos de energia na Baixada Santista

OBRAS

Urbanização da Vila Tupi em Bertioga é iniciada e prevê mais de 7,5 km de pavimentação

2
Entre em nosso grupo