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Convido para um 8 de março permanente

Mônica Ferreira Costa - Pedagoga, Psicóloga, Mestranda em Educação na Unisantos

Mônica Ferreira Costa

12/03/2022 - sábado às 00h00

Quando você pensa no dia 8 de março, provavelmente, o que lhe vem à cabeça é o Dia Internacional da Mulher, não é? Mas tenho uma pergunta para lhe fazer: por que existe o Dia Internacional da Mulher? 

Alguns poderão responder que é para que a mulher seja lembrada, prestigiada, presenteada com flores e se der, ainda acabar num jantar romântico. Esse pode ser um pensamento para o dia 8 de março, porém diante da nossa
realidade, afirmamos que ele é um pensamento: comercial, distante e inútil. Pensar no Dia Internacional da Mulher apenas com este viés, realmente, é manter um pensamento que não se preocupa em mudar nada na vida das mulheres. Sequer, verdadeiramente, é um pensamento que prestigia as
mulheres.

Por que afirmo isso?

Porque a realidade da maioria das mulheres é outra. É uma realidade de violência, de morte, de humilhação, de controle, de desigualdade. As mulheres desde pequena são tratadas, ensinadas, condicionadas para atenderem os homens, a casa, a maternidade. Somos condicionadas a cuidar do nosso corpo para o outro, não para nós mesmas. Aliás, corpo esse que não é nosso, pois dele há grande controle quando se discute laqueadura, aborto e liberdade de expressão.

Quer testar como estamos condicionadas e condicionados?

Vou te contar uma breve história, importante e verdadeira e você vai responder - só para você mesma, mesmo – não precisa responder em voz alta a pergunta a seguir.

Em 2020, uma equipe liderada por dois nomes premiados da pesquisa nacional e que trabalham no Instituto de Medicina Tropical da USP sequenciou, em tempo recorde, o genoma do SARS-CoV-2, o vírus que ficou conhecido por Covid 19. Este trabalho garantiu que exames laboratoriais fossem feitos e os resultados rapidamente respondiam se a pessoa, que apresentava sintomas de gripe, estava ou não contaminada pelo vírus.

A pergunta é: quando você ouviu essa história, veio à sua cabeça os nomes da Dra. Ester Sabino e da Dra. Jaqueline Góes de Jesus? Ou seja, nomes de duas mulheres? Provavelmente, não. E acredite, você não foi a única pessoa que pensou em homens brancos liderando essa pesquisa enquanto lia a história.

Por que pensamos em homens quando ouvimos ou lemos histórias como essa? Porque são poucas as mulheres no Brasil que lideram pesquisas científicas, são poucas mulheres nas diretorias de grandes empresas, são poucas mulheres que lideram bancadas políticas.

É sobre esse condicionamento, construído historicamente de forma machista e sexista, que proponho a reflexão. Estou tratando do mundo no qual vivemos, no mundo real. Mundo ainda que nega acesso às mulheres de forma estrutural e ideológica, principalmente às mulheres negras.

Nós mulheres estudamos, trabalhamos e mesmo quando conquistas importantes, como esta citada acima das médicas de São Paulo, são premiadas, elas ainda são estão nos nossos pensamentos, nós nos “apagamos”, porque fomos sistematicamente apagadas.

Somos ainda hoje, no século 21, um número reduzido de mulheres que ocupa os cargos nas diretorias das empresas, nas casas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, no controle da economia que não seja a doméstica ou nos cargos nas academias científicas.

Não porque as mulheres não tenham inteligência, talento, senso de liderança, organização, escolaridade, responsabilidade, força ou outro atributo qualquer. Não porque as mulheres não queiram estar nas universidades estudando, não porque as mulheres não queiram bons empregos ou porque abriram mão de serem lideranças políticas, no mundo todo.

É porque as mulheres ainda estão se defendendo para não morrerem com as agressões físicas, sexuais e psicológicas que seus parceiros, ex companheiros, pais e outros homens lhes causam dentro de suas próprias casas. O Brasil é o 5º país no mundo em números absolutos de casamentos infantis, (entendido como meninas que têm menos de 16 anos) com mais de 2,2 milhões de meninas nessa condição.

É porque as mulheres estão trabalhando fora de casa, realizando as mesmas tarefas e horas que os homens, mas ganham 35% a menos que eles. É porque as mulheres estão trabalhando 22 horas por semana a mais que os homens, pois cuidam dos filhos e de inúmeras tarefas domésticas, depois da sua jornada de trabalho fora de casa. Os homens ainda hoje realizam pouquíssimas destas tarefas e depois da pandemia essa realidade só piorou para as mulheres. Principalmente para as mulheres negras e pobres que não pararam de trabalhar fora de casa e não tiveram onde deixar as crianças que ficaram sem ir para escola.

Há avanços reais na vida pessoal e social das mulheres.

Sim, mas pensemos: se hoje nós trabalhamos em diversas profissões, votamos e somos votadas, assinamos nossos nomes, pesquisamos e ganhamos prêmios, fazemos teatro e deixamos de ser maltratadas por conta desta escolha, se viajamos ou moramos sozinhas, se temos filhos quando queremos e com quem queremos, se compramos casa e dirigimos nosso carro e ainda aprendemos a dizer para o sujeito: “não é não”, foi porque conquistamos cada centímetro dessas vitórias, na luta. Nada nos foi dado, tudo foi avanço sobre aquilo que era espaço e poder só dos homens.

Os homens não deram nada de presente às mulheres. Historicamente os homens construíram um mundo para eles; um mundo no qual as mulheres foram colocadas em seus “devidos” lugares: ela vai satisfazer, parir, servir, cuidar, alimentar, educar e amar os homens. A autonomia das mulheres ainda é uma conquista diária. As mulheres ainda estão se conhecendo como protagonistas de suas próprias histórias.

Nós, mulheres, ainda temos que aprender a parar de julgar a nós mesmas, estamos aprendendo a ter amor próprio, estamos aprendendo - a duras penas - a quebrar nossos condicionamentos para ensinar nossas crianças que não existe cor, brinquedo e papéis diferentes para meninos e meninas. Estamos aprendendo a confiar umas nas outras e tantas outras coisas.

Por isso, te convido a entrar nessa conversa e refletir sobre ela em todos os dias do ano. Precisamos ser vistas juntas. Precisamos ser ouvidas. Precisamos dizer muitas coisas. Precisamos nos organizar para nos defender. Precisamos sair para as ruas e gritar bem alto: basta de feminicidio! Gritar: opressão e o autoritarismo têm que acabar hoje! Chega de desigualdade e desrespeito!

Convido todas mulheres e todos os homens que desejam uma sociedade justa com equidade a vivenciarem o Dia Internacional da Mulher durante todo o ano porque ainda há muito a ser feito, há muito a ser conquistado.

Você vem comigo?

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