POR DENTRO DA POLÍTICA DA BAIXADA SANTISTA
Deputada federal veio a Santos no último dia 4 para participar do encontro regional do Novo
Sandro Thadeu
12/10/2025 - domingo às 05h00
A deputada federal Adriana Ventura (Novo) é uma das vozes mais ativas no Congresso Nacional quando o tema é transparência e combate a privilégios. Como presidente da Frente Parlamentar Mista de Fiscalização, Integridade e Transparência, a legisladora não se esquiva de confrontar o status quo, seja na defesa de dar mais luz sobre o destino do dinheiro público ou na fiscalização de órgãos federais.
Nesta entrevista exclusiva concedida à coluna, Adriana tece duras críticas à decisão do relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) 2026, Gervásio Maia (PSB-PB), que rejeitou propostas da sociedade civil para rastrear as chamadas "emendas paralelas", classificando o ato como um "erro grave" que "afronta princípios de publicidade e moralidade".
A deputada, que esteve em Santos para participar de um encontro regional do partido, no último dia 4, detalha como pretende insistir pela reinclusão desses dispositivos, prometendo levar o debate para o plenário para que cada parlamentar "assuma sua posição à luz do dia".
Além do embate pela transparência orçamentária, a parlamentar avalia o avanço da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, onde seu gabinete tem focado na punição de responsáveis por fraudes. Ela também comenta os desafios de aprovar projetos que buscam reduzir privilégios no próprio Legislativo — o principal obstáculo, segundo ela, é o "corporativismo travestido de ‘consenso de bastidor’".
Adriana também refuta a ideia de que o Novo virou um "satélite" do PL. Ela ressalta que a sigla possui luz própria e faz uma oposição liberal ao Governo Lula para atrair os eleitores exigentes nas eleições do próximo ano.
Confira a entrevista completa abaixo:
Como presidente da Frente Parlamentar Mista de Fiscalização, Integridade e Transparência, qual é a sua avaliação sobre a decisão do relator da LDO da União de 2026, o deputado Gervásio Maia (PSB-PB), de rejeitar todas as sugestões da sociedade civil para aumentar a transparência das emendas parlamentares? Como a senhora enxerga a possibilidade de reverter essa decisão do relator?
Foi um erro grave do relator. Nós, da Frente FIT, apresentamos, com apoio técnico da Transparência Brasil e da Rede Advocacy Colaborativo, trechos simples e objetivos para identificar e rastrear as chamadas “emendas paralelas” (de bancadas e comissões) ao longo da execução. O relator rejeitou tudo e ainda manteve dispositivos que reforçam a opacidade e o viés eleitoral das emendas. Isso afronta princípios de publicidade e moralidade e contraria determinações já debatidas no STF (Supremo Tribunal Federal). Vou insistir pela reinclusão desses dispositivos na Comissão Mista de Orçamento e, se necessário, no plenário, além de articular destaques e orientações de voto públicos para que cada parlamentar assuma sua posição à luz do dia.
Como a senhora avalia o atual nível de transparência na aplicação geral de emendas parlamentares? Quais são os critérios técnicos e o processo utilizados no seu gabinete para a destinação dessas emendas?
O nível de transparência ainda é insuficiente: embora existam painéis oficiais (Portal da Transparência e Tesouro Transparente), as “emendas paralelas”, muitas vezes, não recebem o marcador correto (RP8), o que dificulta o acompanhamento pela sociedade. Estudos recentes mostram bilhões nessa zona cinzenta. No meu gabinete, adotamos critérios técnicos: priorização de políticas com evidência de impacto (saúde, educação, primeira infância, integridade); análise de execução histórica do proponente; aderência a indicadores de desempenho e transparência local; distribuição equilibrada e justificada por necessidade; e publicação dos ofícios e das destinações em nossos canais. Também evitamos “emendas Pix” sem lastro de resultado e exigimos contrapartidas de transparência do ente beneficiado.
A senhora foi uma das autoras da Lei da Telemedicina (Lei 14.510/2022). Após a regulamentação permanente, quais são os próximos passos ou projetos que a senhora defende para consolidar e expandir a Saúde Digital no Brasil?
A lei que coautoramos consolidou a telessaúde no SUS (Sistema Único de Saúde) e no setor privado. Próximos passos que defendo: interoperabilidade plena entre prontuários (padrões abertos, dados portáveis); prescrição e exames 100% digitais integrados à base nacional; regulação de qualidade com auditoria algorítmica para IA em saúde; tele atenção primária com metas de desfecho (controle de crônicos, fila zero para retorno); e, por fim, a capacitação nacional de profissionais para o cuidado híbrido. Isso exige coordenação normativa – Ministério da Saúde, CF (Conselho Federal de Medicina), Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e Conasems (Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde) – e financiamento baseado em resultados.
Qual é a sua avaliação do andamento dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS? O ritmo e os resultados alcançados estão dentro do esperado? Caso negativo, o que falta para que os trabalhos avancem de forma mais efetiva?
Houve avanços concretos: aprovação de dezenas de requerimentos, quebras de sigilo e depoimentos-chave; prisão em flagrante do presidente da Conafer (Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais), Carlos Roberto Ferreira Lopes, por falso testemunho e, depois, pedido de preventiva aprovado. Avançamos com novas oitivas, como a do empresário Fernando Cavalcanti, ligado a investigações sobre descontos fraudulentos e bens de luxo apreendidos. Mas o ritmo poderia ser mais célere: precisamos de cooperação total dos órgãos de controle, celeridade na análise de quebras e menos chicanas regimentais. Meu foco segue em proteger aposentados e pensionistas, punir responsáveis e propor ajustes normativos para impedir a repetição do esquema.
Qual é o maior desafio em aprovar projetos que pretendem reduzir privilégios dentro do próprio Legislativo? Existe alguma proposta nesse sentido com previsão de ser votada até o final deste ano?
O principal obstáculo é o corporativismo travestido de “consenso de bastidor”, que bloqueia pautas impopulares entre políticos (corte de penduricalhos, revisão de benefícios e mordomias, transparência ativa de gastos). A janela existe quando a sociedade pressiona e o voto fica visível. Tenho trabalhado para pautar medidas de integridade e racionalização de despesas. Seguiremos tentando construir maioria para avançá-las ainda neste ano, mas qualquer previsão séria depende de acordo de líderes e da Presidência da Casa. E eu prefiro tratar prazos com responsabilidade pública.
Alguns analistas apontam que, no atual cenário, o Novo se tornou uma espécie de partido "satélite" do PL. O que a senhora tem a dizer sobre essa percepção? Há mais pontos de unidade ou de divergências entre as legendas? Por fim, qual é o diferencial do Novo em relação aos demais partidos para atrair novos eleitores em 2026?
O Novo não é um satélite do PL. O Novo é uma oposição liberal com critérios: vota por princípios — responsabilidade fiscal, ambiente de negócios, integridade, Estado de Direito — e não por alinhamentos automáticos. Há convergências pontuais com bancadas que defendem menos gastos e mais liberdade econômica. Há divergências claras em temas de costumes, privilégios e velhas práticas políticas. Nosso diferencial é coerência programática, voto aberto fundamentado, recusa a toma-lá-dá-cá e defesa de transparência total no uso do dinheiro público. É isso que pode atrair o eleitor exigente em 2026.
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