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Entrevista de Domingo

Danielle Zangrando relembra emoção de representar o Brasil em uma Olimpíada

Pela primeira vez, ex-judoca não participa de alguma forma da competição

Por Lucas Campos - Redação BS9

01/08/2021 - domingo às 07h00

Ganhar a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos em 2007, no Rio de Janeiro, foi um dos pontos altos de sua carreira - (foto: arquivo pessoal)

Pela primeira vez em 25 anos, a ex-judoca Danielle Zangrando não participa das Olimpíadas, nem como atleta, nem comentarista em nenhuma emissora. Neste ano, ela está acompanhando os jogos de Tóquio apenas pela televisão, torcendo muito por todos os brasileiros e atletas de outros países que também admira.
 
Sua vida no esporte começou bem cedo. Nascida em São Paulo, foi para Santos ainda criança. Aos 5 anos de idade, por influência do irmão dois anos mais velho, que já praticava judô, também iniciou na modalidade. Ao longo do tempo, o fato de o esporte ser individual, dependendo apenas dela para chegar ao sucesso, a conquistou. Coisas de leonina, como diz.
 
E Danielle chegou ao que considera o ápice da carreira: os Jogos Olímpicos. "É o reconhecimento de toda uma vida dedicada ao esporte", diz. 
 
Para além do judô, ela é formada em duas faculdades: Direito e Jornalismo. O primeiro curso veio de uma vontade antiga, mas, apesar disso, nunca atuou na área. Já a vontade de cursar Jornalismo surgiu das participações como comentarista de judô em TV. Ela já atuou como repórter da TV Tribuna e como comentarista em vários veículos, como Globo, ESPN Brasil, Sportv e portal Terra.
 
Naquelas voltas que a vida dá, a ex-atleta também fala nesta entrevista do relacionamento com o medalhista olímpico e diretor geral do Comitê Olímpico Brasileiro, Rogério Sampaio, que foi seu treinador. Confira:
 

1- Como uma ex-atleta, o que representa esse momento dos Jogos Olímpicos para você? E o que significa o tão falado espírito olímpico?
É o ápice da vida de uma atleta. São muitos anos de dedicação para disputar a competição mais importante do planeta. É o reconhecimento de toda uma vida dedicada ao esporte. Até 2016, o Brasil tinha uma média de 1.800 atletas olímpicos, ou seja, é uma honra fazer parte deste grupo tão seleto. É a primeira olimpíada que não disputo nem como atleta, nem como comentarista por nenhuma emissora. Então estou apenas assistindo e torcendo muito por todos os brasileiros e por atletas que admiro de outros países também.
 
2- Você foi a primeira brasileira a conquistar uma medalha em um Campeonato Mundial de Judô e a ganhar ouro nos Jogos Pan-Americanos em 2007, no Rio. O que essas medalhas representam para você e quais lembranças tem dessa época?
São duas medalhas pelas quais tenho muito carinho e orgulho de ter conquistado. A do Mundial foi a mais importante e, ao mesmo tempo, a menos esperada, pois estava apenas com 15 anos e não tinha noção do que era um Campeonato Mundial. Descobri que fui a quinta judoca a ser medalhista em Mundial, além de ter sido a primeira mulher do Brasil. Entrei para a história do meu esporte. Na conquista do Pan, eu já era uma atleta experiente, madura, e uma das apostas da Confederação para levar a medalha de ouro. E aconteceu como previsto. Tenho muito orgulho da minha trajetória.

3- Muitos dizem que você foi injustiçada nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, quando os juizes retiraram a punição de sua adversária. Qual a sua sensação em relação a isso? 
Realmente, fui prejudicada. Essa é uma luta que eu nunca assisti, foi doída. A sensação é de muita injustiça, pois acabei treinando quatro anos para ser derrotada por um juiz, e não por sua adversária.

4- Em linhas gerais, quais são os maiores desafios que um judoca enfrenta?
As lesões são os maiores desafios, por conta das incertezas que elas geram. No meu caso, tive duas cirurgias de hérnia de disco e uma no ombro. E outro desafio é em relação à falta de patrocínio. 

5- E qual foi o momento mais difícil da sua carreira e quando sentiu que era hora de parar de lutar?
O momento mais difícil, sem dúvida, foram as lesões. E decidi parar de lutar por conta disso e também porque queria muito ser mãe. Então, em 2010, me despedi oficialmente dos tatames.

6- Do que mais sente falta na rotina de judoca e como você vê essa geração brasileira no judô?
Sinto muita falta de todas as viagens, do convívio com os colegas de equipe e também das histórias que o esporte que mais trouxe medalhas para o Brasil em Jogos Olímpicos proporciona. Enquanto na geração masculina estamos passando por uma fase de renovação, no feminino temos a geração mais vitoriosa de todos os tempos.
 
7- E como é a Danielle mãe? O que mudou após 10 anos do nascimento da Lara?
Sou amiga, parceira e muito apaixonada pela minha filha. Ela diz que pareço uma adolescente com ela. Talvez seja essa a mudança depois do nascimento dela, voltar a ser adolescente com ela. Mas ao mesmo tempo também sou chata e cobro como todas as mães.

8- Você foi treinada pelo Rogério Sampaio, que hoje é diretor geral do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Como foi ter sido aluna dele e, agora, como é a parceria de vocês?
Foi maravilhoso, porque ele sempre foi meu ídolo. Com a conquista da medalha em 1992 (Sampaio foi ouro em Barcelona), ele me fez acreditar que eu também poderia me tornar uma atleta olímpica. E aconteceu quatro anos depois, em Atlanta-1996, quando disputei minha primeira Olimpíada, com apenas 16 anos. Hoje temos uma parceria que vai além do esporte, somos namorados. Ele mora no Rio de Janeiro e só nos encontramos aos finais de semana. Usamos nosso tempo juntos para praticar esportes, namorar, ver filmes, sair para jantar e curtir os filhos - ele tem um casal e eu, a Lara.
 
9- Você é diretora de Marketing da Fundação Pró-Esporte de Santos, a Fupes. Como você chegou a este projeto? 
Hoje em dia só trabalho na Fupes. Entrei em 2013, como diretora de Marketing, graças à confiança do ex-prefeito Paulo Alexandre Barbosa, a quem sou muito grata por ter me dado esta oportunidade de trabalhar como gestora do esporte. Poder ajudar nossos atletas é muito bom, pois sei bem o que eles precisam. Meu trabalho é divulgar as conquistas dos atletas, buscar parcerias e fazer o meu melhor para ajudá-los, em todas as necessidades deles. E quero trabalhar ainda mais pelo esporte, área que me deu oportunidade de ter tudo o que tenho na minha vida.
 

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