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Entrevista de Domingo

As novidades e os desafios do Santos Jazz Festival, que chega à sua nona edição

Denise Covas fala sobre o formato do evento, que acontece mais uma vez de maneira virtual, além das atrações

Por Lucas Campos - Redação BS9

19/09/2021 - domingo às 07h00

Diretora executiva do festival, Denise promete quatro dias de boa música e grandes homenagens - (foto: arquivo pessoal)

Já esperado pelos amantes de boa música em toda a região, o Santos Jazz Festival chega à sua nona edição na próxima quinta-feira, dia 23, ainda no modelo online. Isso porque o País ainda não dispõe de condições sanitárias seguras para a realização presencial, já que aproximadamente 30% da população está com a imunização completa e, na Baixada, esse número é de 25%. Mesmo assim, os organizadores prometem quatro dias de boa música e grandes homenagens.

Denise Covas é a diretora executiva do festival e uma das organizadoras junto com Jamir Lopes, que é também colunista do Portal BS9. Ela conta que, neste ano, o Santos Jazz terá dois tributos. Um aos 90 anos de João Gilberto e outro ao centenário do compositor argentino Astor Piazolla. Além disso, haverá shows celebrando o protagonismo feminino, os músicos da região e uma apresentação que mistura jazz e hip-hop. Essa mistura é uma das grandes marcas do festival, mostrando sempre que o jazz é um estilo que contempla vários outros.

As apresentações serão gravadas no Sesc Santos com todos os cuidados e protocolos, muito diferente do que era antes, com as ruas do Centro de Santos e os Arcos do Valongo lotados pelo público.

Para falar um pouco mais sobre o festival e todas as mudanças impostas pela pandemia, conversamos com Denise que, além de adaptar todo o Santos Jazz, também precisou reestruturar e adiar outros eventos.

1- O setor cultural foi um dos mais prejudicados pela pandemia da Covid-19. No ano passado, o Santos Jazz Festival já foi virtual. Você imaginava que a edição de 2021 seria novamente nesse formato?
Não. A gente, inclusive, transferiu de 2020 para este ano a edição oficial, que tem sido feita pela Lei de Incentivo à Cultura e com o Porto de Santos como patrocinador oficial. Justamente imaginando que pudéssemos fazer de maneira presencial. Naquele momento, nós pensávamos que a pandemia duraria poucos meses. Então, fizemos no ano passado uma edição virtual, basicamente com artistas da nossa região porque queríamos colaborar com esse momento dificílimo pelo qual os artistas e a equipe técnica estavam passando. Por isso optamos pelo Santos Jazz Live 013. De dez shows, oito foram de Santos. E, neste ano, vimos que ainda não teria condição de fazer o evento de forma presencial. Assim, escolhemos não fazer nem de forma híbrida. Junto com nossos apoiadores e patrocinadores vimos que ainda era um momento delicado e que era melhor continuarmos no virtual para a segurança de todos.
 
2- E como você avalia a experiência do evento remoto do ano passado?
Foi uma experiência muito interessante porque as lives foram a grande alegria, emoção e salvação do lado emocional das pessoas. Isso estava muito forte. Então, teve uma grande audiência. E foi uma experiência nova na questão da produção. Você pode até fazer um evento online, mas fazer este tipo de evento com todas as precauções que tivemos que fazer já modifica muito. Todos tiveram que ser testados e mantendo o distanciamento, mesmo no palco. Só ficava sem máscara quem iria vocalizar. E uma série de outros cuidados que tivemos que ter e nunca tínhamos imaginado. Então, foi tudo muito novo. Foi um aprendizado muito grande. E é uma ferramenta muito lucrativa por conta do enorme alcance que a internet tem. Ela não tem fronteiras. Por isso, temos a oportunidade de alcançar muito mais pessoas que muitas vezes gostariam de participar do evento e não tem condições por ser de outra cidade, estado, país, ou por ter algum outro tipo de dificuldade. Então a live tem esse poder e fica gravado ali. Então, às vezes a pessoa pode não ter assistido ao vivo, mas fica registrado no canal do YouTube e pode ser assistido quando quiser. Agora, a emoção do ao vivo não é alcançada. Até para o artista. Você tocar para um teatro vazio é difícil. Mas, de qualquer forma, foi uma maneira de eles retomarem seu contato com o público. Muitos artistas tiveram uma aproximação com seu público que nunca tinham tido. Então, também proporcionou muita coisa positiva. Mas, é, de qualquer maneira, um momento muito difícil. Ninguém está bem. É impossível estar bem com 600 mil mortes só no nosso país. Além da própria pandemia, a negligência que fez com que o número de mortes fosse muito maior do que deveria ter sido. A vacinação atrasada, um quadro muito triste de desemprego, pessoas passando fome... Enfim, o que nos dá um certo alento é saber que, a partir do que produzimos, podemos levar alegria às pessoas, pelo menos por um momento. Além de estar dando oportunidade para artistas e técnicos, que continuam altamente prejudicados. Foram os primeiros a parar e serão os últimos a voltar.

3- Quais serão as novidades desse ano?
O que mais está me emocionando é a homenagem que faremos ao João Gilberto. Ele morreu em 2019 e, infelizmente, temos um governo federal que está destruindo a cultura e não valoriza seus artistas. O João Gilberto foi quem levou a nossa música na década de 1960 a ser reconhecida e renomada internacionalmente. A música brasileira é respeitada. Foi ele, com sua voz, batida e jeito diferente. Os técnicos e entendidos em violão falam que era um fenômeno o jeito que ele tocava. Então, homenageá-lo era uma coisa que eu queria muito. E, coincidentemente, neste ano ele faria 90 anos. Faremos essa homenagem com Jaques Morelenbaum, que é um belíssimo arranjador no violoncelo, tocou muitos anos com Tom Jobim e outros músicos. Será muito bacana. Uma outra homenagem que faremos é do centenário do Astor Piazolla, que tinha uma influência no seu tango argentino estilizado. Ele tinha uma grande influência do Jazz por ter morado muitos anos nos Estados Unidos. Essa apresentação será com Lupa Santiago, um guitarrista fabuloso, e seu trio. Por isso, será uma versão diferente. Essas duas homenagens me deixam muito feliz. Além disso, e das outras performances, teremos as oficinas, que nessa edição serão três: bateria, violino e uma com a Dani Ribas, uma das maiores estudiosas de música do país, sobre o setor de streaming, no quesito remuneração dos músicos.
 
4- O Santos Jazz sempre atrai uma multidão de pessoas. Como estão fazendo para medir a audiência no formato online?
A gente vai olhando pelas visualizações no nosso canal do YouTube, pela nossa página do Facebook e pela página do Sesc Santos. Mas tem aquele residual depois. As pessoas entram e assistem. Fica algo mais a longo prazo. No primeiro dia, geralmente, tem bastante gente assistindo. O que não sabemos é como as pessoas estão em relação a isso. Depois de um ano e meio de pandemia, será que as pessoas vão ficar em casa assistindo live? Os bares já estão abrindo, com música ao vivo em vários lugares, e as pessoas estão com muita ansiedade de sair. Então, não temos uma noção de como será essa audiência. Mas como tem esse residual, é válido e fica lá um conteúdo muito legal. Especialmente no primeiro dia, na quinta-feira, são dois belos shows. Esperamos ter uma audiência boa por já não ser um dia na semana que as pessoas saem. Ao mesmo tempo, tem muita gente que ainda fica em casa. Eu, por exemplo, fico. Está tudo muito novo. Vamos ver como as pessoas vão se portar esse ano.
 
5- Você acredita que no ano que vem o evento vai voltar a ser presencial?
Acredito! Tenho que acreditar, com certeza. Mas eu acho que só a partir de julho teremos uma condição bem melhor. O pessoal já está falando em Carnaval e Réveillon. Aquela coisa de todo mundo feliz e sem máscara eu não sei. Talvez ainda tenha que obedecer a uma capacidade menor de lugares, ainda tenha que ter alguns critérios. Não sabemos muito bem. Já está tendo festivais com multidões fora do Brasil e com pouquíssima transmissão. Estão avaliando. Mas ao mesmo tempo cresceram novamente os casos em alguns países e eles estão voltando atrás. Então, é tudo ainda muito incerto. Mesmo assim, acredito que a gente possa ter num sistema híbrido, com menos gente, tendo que tomar mais cuidados, mas com o palco presencial. Estamos torcendo para isso!
 
6- O Festival chega à sua nona edição neste ano. Qual o balanço que você faz dele até aqui?
É um espetáculo! Eu sou fã. É uma luta todo ano para manter o festival de pé, até por ser totalmente gratuito desde a primeira edição. Estamos fechando nove edições com 180 shows. Quero chegar ano que vem com 200 shows. Então, é muita gente trabalhando, envolvida, além de mim e do Jamir, meu grande parceiro nesse negócio. É muita emoção. É um trabalho de formação de público, com novas plateias, trazendo uma moçada para tocar com os mais tradicionais. Tudo isso nos deixa muito felizes. Deixamos um legado nos músicos da região através das oficinas, fazemos projetos sociais, damos aulas nas escolas de iniciação musical. Então, tem muita coisa envolvida.

7- Você acha que o público que escuta jazz é amplo? Acha que o Santos Jazz é uma prova disso?
Eu acho que sim. Porque se você ficar só naquele jazz mais tradicional de trio, quarteto, famoso, ele se restringe muito. Mas, quando você amplia e diversifica, como nós fazemos, justamente para ir formando novos públicos, trazendo bandas que não tem só jazz mas tem ele como raiz, vamos mostrando para os jovens, principalmente, e atraindo a atenção deles. Podemos ver como ficavam lotados os Arcos do Valongo. Sexta, sábado e domingo. O Santos Jazz é um jazz moderno, eletrônico porque colocamos um DJ tocando com um trio de jazz. Fazemos um caldeirão e fica tudo bem legal.
 
8- Qual a importância do Santos Jazz para a região?
Acho que total! É o primeiro e maior evento de música de Santos e de toda a Baixada. Geramos emprego, renda, movimentamos o Centro, trazemos música de qualidade com todas as suas vertentes e estilos. É o palco para as pessoas poderem mostrar o seu trabalho. Os músicos de Santos e região têm mais uma opção para se apresentar e esperam pelo festival. A gente faz parte hoje do circuito nacional dos festivais de jazz. Então, divulgamos o nome da cidade para o País inteiro. Trazemos turistas, movimentamos o comércio, e tudo isso com uma boa música.
 
9- Algum outro projeto seu foi prejudicado pela pandemia?
Eu fiz o festival Criativar ano passado, o primeiro festival de criatividade de Santos, que envolve economia criativa. Era para ter sido presencial, junto com o Encontro Anual das Cidades de Economia Criativa, que seria sediado em Santos. Viria gente do mundo inteiro, mas também tivemos que fazer online. Além disso, eu segurei qualquer produção nova, criação de evento novo, porque é muito chato ficar produzindo e pensando nessa loucura de fazer tudo online, com máscara. Vou estudando, fazendo o que puder para conseguir voltar assim que tudo for melhorando.

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