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Entrevista de Domingo

Ana Marcela Cunha ignora pressão para ganhar sua primeira medalha olímpica

Cinco vezes campeã mundial de maratona aquática, a baiana radicada em Santos nunca subiu ao pódio em Jogos Olímpicos e espera ter essa honra em Tóquio. Mas sem fazer disso uma obsessão, como conta com exclusividade ao Portal BS9 News

Por Alexandre Fernandes - Redação BS9

23/05/2021 - domingo às 07h00

Vacinada pelo ministro da Saúde, Ana foi a primeira mulher da delegação olímpica a ser imunizada - (foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Por Alexandre Fernandes
Redação BS9
 
Quem vê a quantidade de títulos importantes que Ana Marcela Cunha já conquistou na maratona aquática não imagina que ela só tenha 29 anos, completados em março. Chega a ser inacreditável também que uma atleta cinco vezes campeã mundial chegue às Olimpíadas deste ano, em Tóquio, em busca de sua primeira medalha.
 
É bem verdade que as maiores façanhas de Ana foram em provas de 5 km e 25 km, que não são olímpicas. Mas a atleta já venceu quatro vezes o Circuito Mundial, com a mesma distância disputada em Olimpíadas: 10 km. Não é pouca coisa.
 
Talvez por isso a baiana radicada em Santos desde 2007 diga que não se sente pressionada a subir ao pódio em Jogos Olímpicos. O que não quer dizer, porém, que ela não esteja ralando para isso. Não só está como demonstra otimismo em finalmente conquistar o feito que persegue desde 2008, quando disputou, em Pequim, na China, sua primeira Olimpíada com apenas 16 anos.
 
Em fase final de preparação e com pouco tempo livre até os Jogos, que começam em julho, Ana Marcela Cunha concedeu entrevista por e-mail ao Portal BS9 News. No último dia 14, pouco depois de enviar as respostas, ela foi a primeira atleta mulher da delegação olímpica do Brasil a ser vacinada contra a Covid-19. A dose, aplicada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, faz parte de uma remessa de vacinas viabilizada pelo Comitê Olímpico Internacional.
 
Nesta entrevista, a maratonista aquática fala sobre sua expectativa no Japão, a sofrência que foi treinar durante a quarentena, revela o que curte fazer em Santos e já faz até uma projeção de quando irá encerrar a carreira. E não falta tanto tempo, não. Mesmo ela só tendo 29 anos.
 
1 - Os Jogos Olímpicos de Tóquio deverão ser disputados em meio a uma pandemia que não está totalmente controlada. Por tudo o que as Olimpíadas representam, você acha que há clima para a realização desta edição?
As Olimpíadas acontecerão dentro desse novo e momentâneo formato de vida, com rígidos controles e muita superação. Serão os Jogos Olímpicos da esperança por um mundo melhor.
 
2 - Você já conquistou inúmeros títulos, é considerada uma das maiores nadadoras de maratona aquática da história. Mesmo com esse currículo, você ainda não tem uma medalha olímpica. Ela é uma obsessão para você?
Não persigo a conquista de uma medalha olimpica como algo imprescindível na minha carreira. Ela poderá vir como fruto do trabalho árduo de toda uma superequipe multidisciplinar, por merecimento.
 
3 - Suas principais conquistas na carreira foram em provas de 5 e 25 km. E a prova olímpica de maratona aquática é de 10 km. Você tem uma dificuldade maior nessa distância?
Já venci o Circuito Mundial de 10 km, além das conquistas nos 5 e 25 km em Mundiais de Esportes Aquáticos. São competições diferentes, mas igualmente importantes. Agora terei a oportunidade de lutar por uma medalha olímpica. Será um espetáculo único.
 
4 – Em abril você disputou o Troféu Maria Lenk, no Rio, e conquistou um índice olímpico na piscina, na prova dos 1.500 m livre. Por que abriu mão dessa vaga?
Nosso foco é disputar uma medalha na prova de maratona aquática. Já nos 1.500 m livre de piscina não foi surpresa nadar abaixo do índice. Tinha feito isso recentemente duas vezes nos treinos, mas esse tempo não me credencia a disputar um pódio em piscina. Então, não consideramos importante apenas participar.
 
5 - Com todos os contratempos provocados pela pandemia, você acha que consegue chegar a Tóquio numa condição ideal de preparação? Ou, pelo menos, próximo da ideal?
No início foi um pouco complicado ficar uns dias sem piscina, mas logo resolvemos e voltamos a treinar no CT do Time Brasil/COB (Comitê Olímpico do Brasil). Estou indo a Tóquio ainda melhor que há um ano atrás, mais bem preparada, focada e feliz. Vai dar tudo certo, farei uma excelente prova. O resultado será consequência.
 
6 - Quais foram as principais dificuldades que você enfrentou para treinar?
Basicamente fiquei uns dias sem piscina para treinar, mas o COB me cedeu por empréstimo um equipamento chamado VAZA, de última geração, que simula os movimentos do nado. Trabalhei diariamente com ele em casa. Até o retorno aos treinos na água, foi só isso.
 
7 - Os seus hábitos mudaram com a pandemia?
Sim, tomo as precauções possíveis. Além disso, participo como voluntária numa parceria entre o COB e a Fiocruz. Semanalmente vou à sede do laboratório, no centro do Rio, realizar exame de PCR. E com isso, de alguma forma, devo estar contribuindo com os estudos de prevenção.
 
8 - Já faz quase 15 anos que você se mudou para Santos. Você tinha só 14 quando veio para treinar na Unisanta. Quais os lugares favoritos na cidade?
Em 2007 fui convidada pelo doutor Marcelo Teixeira (pró-reitor da universidade) para defender a instituição e o município de Santos na qualidade de aluna-atleta. Foi uma proposta irrecusável. Poder conciliar os estudos com o esporte não tem preço. Sempre que posso gosto de sair para comer comida japonesa, ir à praia, pegar um cineminha, é por aí.
 
9 - Você compete há tanto tempo, mas tem só 29 anos. Projeta um final de carreira para daqui a quanto tempo?
Planejo nadar competitivamente até o próximo ciclo olímpico, que será de três anos, até os Jogos de 2024. Tenho também um projeto a ser iniciado, possivelmente ainda este ano, chamado Sucessores Aquáticos, que contempla o Circuito Nacional Nadar pelo Brasil e a Escola de Maratona Aquática. Vai ter como missão o aprendizado da natação com o objetivo maior de contribuir para diminuir a incidência de afogamentos.

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