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O dilema da Educação de Jovens e Adultos em Guarujá

Valter Batista - Professor de Geografia e História, especialista em Gestão Pública, Escolar, Neurociência e Psicopedagogia

Valter Batista

20/11/2021 - sábado às 16h17

A prefeitura de Guarujá, através de sua secretaria de Educação, está reestruturando a Educação de Jovens e Adultos, com fechamento de algumas escolas e criação de pólos centralizados em dois locais, para atender à demanda de alunos a partir de 2022. Essa medida se baseia em um diagnóstico que não parece fazer muito sentido, porque a crise pela qual passamos, aponta para a necessidade de ampliar a oferta de opções para matrícula, em vez de um fechamento das opções existentes.
 
Neste sentido, busquei pontuar algumas questões que considero relevantes para um bom debate acerca dessa temática.
 
1) Há demanda por cursos de EJA, mas não há matrículas suficientes neste semestre, DEVIDO AO MOMENTO DA PANDEMIA, somado ao problema grave da ECONOMIA EM ESTAGFLAÇÃO, que vem corroendo empregos.
 
2) O projeto pedagógico da EJA, em Guarujá, precisa ser atualizado, de modo a ofertar saídas para os estudantes, que vislumbram além da formação para a cidadania, um foco maior no mundo do trabalho, pois precisam se preparar para esses desafios.
 
3) A evasão escolar na EJA é elevada e esse problema precisa ser enfrentado com medidas que permitam sua redução, uma vez que isso interfere demasiadamente na permanência e continuidade dos estudos para a maioria dos estudantes.
 
4) A EJA não é apenas uma modalidade de ensino, mas uma POLÍTICA PÚBLICA EFETIVA DE REPARAÇÃO SOCIOECONÔMICA, uma vez que ataca a baixa escolaridade da população, ampliando os ganhos sociais e econômicos inerentes a este processo, que pode preparar mão de obra melhor qualificada e, consequentemente, com maior potencial produtivo e de ganho salarial.
 
5) Questões complexas como o aumento da escolarização da população mais vulnerável são fundamentais, estando no centro dos desafios a serem enfrentados pela Nação, sobretudo porque isso melhora a performance em indicadores sociais e econômicos, como o exemplo do IDH-M, mas também porque se apresenta como Objetivo do Desenvolvimento Sustentável.
 
6) Pensar soluções para ampliar a escolarização da população é fundamental para reduzir a pobreza e a miséria, por isso, a EJA deveria ser objeto de mais proximidade dos olhares técnicos do órgão de gestão educacional, a partir de um monitoramento para que as causas desses problemas estivessem mapeadas e melhor explicadas: por que a evasão é tão alta?; por que a assiduidade é tão comprometida?, por que a aprendizagem não é tão significativa e qual o nível real de desenvolvimento das competências básicas esperadas para esses alunos?; qual é o custo da baixa escolaridade, na forma de violência urbana, desemprego, subemprego, dentre outras questões?
 
O fato é que as decisões sobre a EJA, assim como na Educação Municipal como um todo, não são tomadas a partir de um processo democrático.
 
Não ouvem os alunos, professores, gestores, acho até que nem ouvem a própria coordenação dessa modalidade de ensino. Medidas como essa do fechamento de escolas, seguem a lógica economicista, da educação como custo, não como investimento. Numa cidade  que tem baixíssimos índices de escolarização de sua população adulta, estando entre as piores do Brasil, do estado de SP e da região metropolitana, um fato que deveria ser planejado e perseguido é o aumento da escolarização da população mais vulnerável, porque isso amplia a sua capacidade produtiva, ativando a economia de uma cidade que precisa gerar e distribuir riqueza com urgência.
 
A preparação para o exercício da cidadania plena exige um enfrentamento aos problemas  advindos da baixa escolarização, que acarreta um letramento insuficiente para que a população adulta seja inserida com dignidade na sociedade. A EJA pode ser uma excelente oportunidade de formação para o "mundo do trabalho", no sentido ontológico, não apenas com o olhar da empregabilidade, mas a partir da reflexão necessária para que se consiga enfrentar o desafio de preparar pessoas para o mundo do trabalho, numa sociedade sem emprego, o que afasta muitos da escola, pela falta de perspectiva objetiva em relação ao ganho que a escolarização promove para as suas vidas.
 
A geografia de Guarujá é perversa com os mais vulneráveis. A cidade centraliza muitos serviços, quando deveria ampliar ao máximo a sua capilaridade. Ter mais escolas abertas significa ampliar o acesso à educação, o que é mais democrático e justo.
 
Dentre tantas questões, também precisamos pensar no que afeta a qualidade do trabalho desenvolvido nas salas de aula. Melhorar a qualidade de educação é um desafio que passa pela ampliação da autonomia do trabalho que se desenvolve nas escolas, mas também é fundamental que as diretrizes sejam claras.
 
O projeto pedagógico da EJA precisa ser construído coletivamente. Talvez esteja na hora de repensar a estrutura curricular e iniciar uma transição que insira no currículo da EJA uma ênfase maior no letramento, na preparação para o mundo do trabalho e no exercício pleno da cidadania de direitos, através de uma concepção educacional mais dialógica e participativa. A estruturação dos espaços de trabalho precisa ser repensada, de modo que haja recursos materiais disponíveis para colocar o currículo da EJA "em movimento", como por exemplo, conciliando as aulas teóricas com visitas técnicas, aulas práticas, oficinas criativas e até mesmo uma inserção de educação profissional de nível básico como alternativa para os alunos.
 
Um sistema educacional formatado a partir de um projeto pedagógico consistente pode também ofertar materiais didáticos modernos, com conteúdos disponíveis em plataformas tecnológicas que facilitem a aprendizagem, mesmo fora do espaço escolar, lembrando que parcela considerável do público escolar é uma classe trabalhadora que tem dificuldades de estar presente na escola, o que gera desafios na continuidade da sua aprendizagem.
 
Se há caminhos a serem seguidos neste momento, em relação à Educação, jamais seria o de fechar escolas, mas sim o de oportunizar a mais pessoas o direito à dignidade de estudar, porque este é um direito fundamental do ser humano.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal BS9

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