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Espanholização do futebol brasileiro

Felipe Pupo - Professor de História e profissional da área da comunicação, com ênfase no trabalho voltado à Política, Esporte e Educação

Felipe Pupo

26/04/2022 - terça às 00h00

Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG estão, inegavelmente, em outro patamar no futebol brasileiro. Desde 2019, as três potências nacionais consolidaram a sua hegemonia enfileirando títulos da Taça Libertadores, Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil.

Com grandes investimentos, a tríade de milionários parece não abrir espaço na primeira classe do futebol para os seus oponentes, com a exceção, talvez, do “intruso” Athletico Paranaense, vencedor recente da Copa do Brasil, em 2019, e da Copa Sul-Americana, em 2018 e 2021. 

Mesmo assim, nada sugere que a situação possa sofrer algum tipo de mudança no curto prazo. O cenário atual é semelhante ao que ocorre há décadas na Espanha, com o pleno domínio de Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid, muito embora, nesta temporada, o Villarreal tenha surpreendido com a excelente campanha na Champions League. É o caso, porém, da exceção que confirma a regra.

No plano doméstico, Flamengo, Verdão e Galo encontram-se em uma condição técnica muito superior aos demais adversários. Um exemplo disso foi a decisão do Campeonato Paulista, em que o Palmeiras conseguiu triunfar sobre o arquirrival São Paulo, com um elástico placar de 4 a 0, sem maiores dificuldades. 

Se fosse uma maratona, as três potências ostentariam a presença no primeiro pelotão, com uma enorme distância aos seus concorrentes. Nessa linha de raciocínio, é razoável conjecturar que os times pertencentes ao segundo e terceiro pelotões (como Santos, São Paulo e Corinthians) não detém uma capacidade técnica de competir em condições de igualdade contra as superpotências e podem brigar, no máximo, por títulos em competições paralelas, como a Copa Sul-Americana e os estaduais.

Em mais de duas décadas acompanhando o futebol, eu admito que nunca vi algo semelhante em nosso país. Comecei a entender melhor o esporte no final da década de 1990, marcado pela fase gloriosa do Corinthians. Porém, mesmo naqueles tempos, os rivais conseguiam competir em um nível técnico semelhante, e, não por acaso, o Palmeiras (mesmo com times inferiores) conseguiu eliminar o rival duas vezes na Taça Libertadores.

Ao longo dos anos 2000, nas duas primeiras décadas, testemunhei momentos brilhantes de Santos, São Paulo, Cruzeiro, Flamengo e Corinthians. No entanto, mesmo em desvantagem, os rivais conseguiam manter um nível razoável de competitividade e, frequentemente, surpreendiam os seus oponentes que estavam na crista da onda. 

Portanto, nada se compara ao que temos hoje, isto é, três grandes equipes em um patamar absurdamente superior aos demais. O processo de espanholização é péssimo para o futebol brasileiro como um todo e, de certo modo, reflete o fracasso dos dirigentes esportivos na gestão dos clubes tradicionais do país.

Não é necessário fazer um enorme esforço para se lembrar que, nos anos 2000, o São Paulo foi uma referência em modernização e organização esportiva, mas atualmente sofre com os péssimos trabalhos dos últimos presidentes.

E o que dizer, então, do Santos FC? O time que revelou Neymar, Ganso, Rodrygo e Gabriel Barbosa, entre tantas revelações, e recentemente esteve à beira da falência com as dívidas e o desastre administrativo das gestões anteriores.

Por sorte, o Peixe passou a ser administrado por pessoas sérias e competentes que trabalham efetivamente para sanear as contas do clube, ainda que se possa discutir eventuais equívocos na gestão do futebol. De todo modo, há uma luz de esperança que surge no fim do túnel com a recuperação fiscal do clube.

Nesse sentido, apenas será possível reverter o processo de espanholização quando os demais times demonstrarem a coragem para apoiar administradores responsáveis que venham a sanear as contas e recuperar a capacidade de investimento no mercado da bola.

A transformação do modelo tradicional de gestão do clube para o chamado clube-empresa (também conhecido como SAF) pode ser um caminho de mudança, desde que os novos investidores estejam comprometidos com a modernização administrativa de cada instituição.

Não existem soluções mágicas e imediatas. A jornada é árdua, mas é necessário trilhar um caminho de mudança. 

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