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Educação pelo retrovisor

Valter Batista - Professor de Geografia e História, especialista em Gestão Pública, Escolar, Neurociência e Psicopedagogia

Valter Batista

20/03/2022 - domingo às 00h00

Desde o retorno às aulas, em fevereiro, observo que as escolas tornaram-se um lugar diferente do que eram antes da Pandemia de Covid-19. Leciono Geografia do sexto ano do Ensino Fundamental à terceira série do Ensino Médio, em três escolas, de três diferentes bairros, nas redes municipal e particular de Guarujá. São 21 turmas que totalizam cerca de 730 estudantes e os desafios postos para esse trabalho estão requerendo muitas novas reflexões e abordagens.

Se a Pandemia trouxe prejuízos na aprendizagem, isso se vê no dia a dia das aulas. Da ansiedade enquanto problema psicológico à indisciplina que tem sido observada na forma de agressividade, passando pela dificuldade de aprendizagem inerente ao fato de que as aulas remotas não puderam reproduzir o ambiente "quente" das trocas que se constroem presencialmente, as questões que me desafiam estão se tornando pesadas demais.

É óbvio que saio todos os dias focado no que preciso executar, consciente de minha obrigação profissional e pronto para dar as respostas que considero pertinentes, no entanto, situações totalmente novas têm surgido e colocado exigências as quais não considerava que seriam papel de professor, em pleno século XXI. E nisso, residem perigos enormes, porque muitas das vezes estamos esbarrando na função da família, que educa e repassa valores, além de demonstrar a necessidade da hierarquia e da autoridade, enquanto condições de convivência em grupo, em ambientes de construção coletiva do conhecimento, como são as salas de aula.

E se do comportamento agitado saem a desatenção, a desmotivação e a dificuldade de concentração, nos aparecem as teorias cognitivas que mostram que síndromes diversas e transtornos múltiplos precisam ser compreendidos por nós, professores, para que nossas abordagens facilitem a inclusão e aprendizagem de todos e todas.

Em meio a isso, passou a ser condição obrigatória que nossas aulas sejam mais dinâmicas, com menos falas e mais diálogos, com menos textos e mais reflexões, com menos lousa e mais telecomunicações, o que me faz questionar se isso é de fato um avanço, por causa da dificuldade de acesso dos alunos aos recursos tecnológicos e também das condições de formação continuada e de acesso a recursos materiais e humanos para que a gente consiga cumprir com essas práticas pedagógicas.

Além disso, a reestruturação curricular e os novos instrumentos de controle e modelos de gestão, nos impuseram um sem número de burocracias que servem apenas para dificultar nosso trabalho, num momento em que qualquer tempo disponível para o estudo, reflexão e prática, são essenciais. É papel em demasia e solução que não chega.

Se há questões com as quais teremos ainda que lidar por muito tempo na educação, essas são apenas algumas, mas refletem claramente que, em vez da preocupação com os prejuízos que a Pandemia consolidou se transmutar em soluções de fato para que não tenhamos uma década perdida, que se refletirá em uma geração inteira com sua formação escolar debilitada, o que mobilizou os esforços de quem comanda a educação foi apenas e tão somente a comum e nefasta retórica que Foucalt tão bem elucida na Ciência que produziu: controlar, controlar e controlar. O que será do futuro? Basta olhar pro retrovisor que ele está nitidamente representado ali.

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