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Bolsonaro: ai, que vergonha que dá!

Maurício Juvenal - Jornalista, especialista em Pesquisa Social e mestre em Letras

Maurício Juvenal

07/11/2021 - domingo às 16h30

Quando a gente ocupa uma posição em uma atividade jornalística ou empresarial, a inteligência emocional sugere, por vezes, um certo silenciar para evitar problemas, ataques e intimidações mil dos jagunços eletrônicos de um lado ou de outro, sempre à serviço dessa ou daquela corrente ideológica.
 
Mas tem hora que não dá. Corre sangue nas veias e é tanta bobagem atrás de tanta bobagem, que fica difícil se isentar de manifestar uma opinião. O sangue que corre nas veias vendo tanta incompetência atrás de tanta incompetência não consegue assistir calado a tudo isso. Porque existem momentos em que se calar é quase como concordar... Como naquela velha história em que um homem espanca uma mulher, ou uma pessoa branca maltrata uma pessoa negra ou alguém com muito dinheiro humilha alguém sem posses e bens: não dá para ver e não fazer nada, dizendo que nada tem a ver com isso; quem assiste uma violência ou uma injustiça calado acaba agindo como cúmplice, como quem, lá no fundo, acha aceitável aquele tipo de cena...
 
Em conversas cotidianas com familiares e amigos é impressionante como não há uma pessoa sequer que não esteja estupefata com o desandar da economia brasileira. A coisa degringolou, e pra todo mundo. O preço do litro da gasolina afeta mais diretamente a quem tem carro – aos olhos de alguns uma certa “elite” privilegiada e que, portanto, não deveria reclamar. Mas e o preço do gás de cozinha? Pois é, afeta a todo mundo que come, e, em geral, impacta mais justamente a quem menos têm para saciar a própria fome e que, com imensa dificuldade, consegue um dinheirinho para comprar um quilo de arroz ou feijão e meia dúzia de ovos. Mas, sem gás, tudo perde o sentido.
 
E ninguém aqui está falando de mercado financeiro nervosinho. Não, não é disso não, desses aí não. Esses estão sempre bem e por cima da carne seca em todo e qualquer governo. Esses são protegidos e preservados em todo e qualquer governo. Foi assim com Collor, foi assim com FHC, foi assim com Lula, foi um pouco menos assim com Dilma, foi assim com Temer e está sendo escandalosamente assim com o capitão Jair Bolsonaro, tá ok?
 
Esse mercado que Bolsonaro acusou de reagir nervosinho a tudo e a toda e qualquer medida, tem sua indisfarçável proteção e atenção, quando mantém à frente da política econômica brasileira (se é que dá para chamar de política econômica) esse homem do mercado, especulador e “offshorento”, que atende pelo nome de Paulo Guedes. Um cara “especialista” que é contra pobre e remediado ir para a Disney. Um cara “sabe-tudo” que é contra filho de porteiro cursar universidade. Para esse cara “profundamente conhecedor de economia”, servidor público é parasita. Esse cara “expert do mundo financeiro” coleciona diariamente milhões e milhões em lucro, por meio de seus investimentos pessoais em paraísos fiscais, e fica mais e mais rico a cada vez que ele próprio quebra mais e mais um pouco a economia aqui, fazendo o dólar disparar. Esse cara é o cara do Jair Bolsonaro.
 
E óbvio que nem tudo vai mal na economia porque o Paulo Guedes tem interesse na política econômica do “quanto pior, melhor”. Tem muito de burrice mesmo, de limitação e até, contraditoriamente, de (mau uso da) academia: as famosas teorias macroeconômicas que só funcionam no papel, que não têm aplicabilidade alguma no mundo real, que não conseguem fazer chegar na ponta, em quem mais precisa, suas engenharias matemáticas e financeiras. E o cálculo nunca bate, a conta nunca fecha, e o país caminha para trás. Em três anos de governo Bolsonaro, o abismo que já separava pobres e ricos nos governos anteriores ao dele, praticamente dobrou de profundidade. Nunca antes na história desse país a desigualdade foi tão acentuada como agora.
 
Ao detonar a classe média, permitindo os abusivos aumentos da conta luz, dos planos de saúde, dos combustíveis, das mensalidades escolares, o governo federal empurra para o sistema público oficial (sistema?) milhões de brasileiros que até então davam um jeito de, a duras penas e ainda que pagando horrores em impostos, bancar a escola e a saúde da família nas redes privadas. Empurra para um já combalido e falido sistema que, se ainda hoje está de pé, é justamente graças aos servidores tachados de “parasitas”, que incansavelmente emprestam seu suor ao serviço público de saúde e de educação. E para piorar o cenário, não basta aumentar a demanda da rede estatal que já estava com a capacidade de atendimento comprometida: é preciso aumentar a demanda e reduzir a verba. Assim o governo do capitão Jair garante mais público precisando de um serviço público que é feito cada vez com menos recursos públicos e, portanto, menor qualidade. Sabe o que acontecerá depois? Ele e seu “brilhante” ministro dirão: “Viram? Serviço público não funciona... Precisa privatizar tudo!...”
 
A bem da verdade prefeitos e governadores, de todas as matizes políticas, também não colaboram e ajudam a afundar um pouco mais a classe média quando estabelecem reajustes no IPTU na casa dos dois dígitos e no IPVA em quase 50%. Ano que vem não tem eleição. Não custa observar como João Doria e Eduardo Leite, por exemplo, presidenciáveis que são, estão se comportando na questão do IPVA. O que eles falam pouco importa. É preciso observar como eles agem.
 
A verdade é que ouvi uma frase essa manhã, antes de redigir este artigo, que soou como música em meu ouvido, tal a sua assertividade. “A direita saiu do armário para passar vergonha. E para fazer a gente passar vergonha”.
 
Pois é. O Brasil virou motivo de piada no mundo todo. Esse governo foi desde o início assim. É só lembrar aquele ministro da educação (sic!) que troca o nome de um escritor, referência literária, pelo nome de um prato de comida. Franz Kafka virou kafta, o prato de origem árabe, semelhante a um espetinho de carne. De lá para cá, são inumeráveis os deslizes, o desleixo com o conhecimento, a falta de noção. Na disputa por quem é capaz de imprimir a maior pérola, Bolsonaro não aceitou ficar para trás e trocou o nome do enviado dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, pelo nome do ator e humorista Jim Carrey. É sério isso???
 
Confesso que em um diálogo com meus lençóis, entendi o que levou Bolsonaro à terrível gafe. Jim Carrey é o protagonista da famosa comédia O Mentiroso. “Me entende?”, diria Pelé. Como brasileiro, estou vermelho (e não é vermelho PT não) de vergonha de ter que conviver com um presidente que mente compulsivamente. Pensem se isso é admissível: “vacinação contra a Covid provoca Aids”; “água de coco na veia substitui transfusão de sangue”; “não rejeito integralmente o terraplanismo (a possibilidade da terra ser plana)”; “A Covid-19 é só uma gripezinha”. Mais de 608.000 brasileiros já morreram devido a essa doença e Bolsonaro segue rejeitando as máscaras, defendendo o direito de usar um tratamento comprovamente ineficaz e colocando a vacinação em dúvida.
 
Essa direita que saiu do armário e que faz todo mundo rir, piada que é, e por vezes de mau gosto, é óbvio que usa a própria limitação intelectual e cultural também como tática, como estratégia, ao buscar destruir os fundamentos do conhecimento. Daí dá para mentir melhor e tudo não passa de teorias da conspiração contra o capitão Jair, que de tudo sabe, que todas as certezas tem e carrega. O Brasil vai mal, gente. Vai mal na economia, vai mal na educação, vai mal na cultura, vai mal saúde, vai mal na Amazônia, vai mal no combate ao racismo e à violência contra a mulher, vai mal na assistência social. O Brasil com Bolsonaro vai de mal a pior. Ai, que vergonha que dá!
 
Impossível não terminar esse artigo, que tem a economia como pano de fundo, sem fazer referência à frase do matemático britânico Bertrand Russell, que dá conta de que "o problema do mundo é que os inteligentes estão cheios de dúvidas, e os idiotas estão cheios de certezas."
 
Um lembrete para 2022: se é que existe uma terceira via, ela atende pelo nome de todos nós.
 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal BS9

 

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