Brasil
Em 2021 foram mais de R$ 72 milhões investidos em tecnologia
Por Daniela Arcanjo - Da Folhapress
12/01/2022 - quarta às 15h23
O bitcoin despontou como um dos melhores investimentos do ano ao acumular ganho - (foto: Freepik)
O investidor que não quis se arriscar em 2021 pode ter tido algumas decepções. A inflação derrubou aplicações tradicionais e a Bolsa de Valores viu seu principal índice, o Ibovespa, recuar 11,93% em 12 meses.
O incerto criptoativo bitcoin, por outro lado, despontou como um dos melhores investimentos do ano ao acumular ganho de 75,83%. A moeda, nativa do meio digital, toma a liderança no mesmo ano em que o brasileiro desperta para aplicações relacionadas ao arriscado mercado de inovação.
Em 2021, ano recorde de investimentos em startups no Brasil, foram mais de R$ 72,4 milhões colocados em empresas de tecnologia de São Paulo por meio de plataformas de investimento coletivo como a CapTable, responsável pelo levantamento. O resultado é quase 4,5 vezes o que foi investido em 2020 no mesmo estado, quando o total quase bateu os R$ 16,2 milhões.
Foram comparados os investimentos feitos por meio de dez plataformas: a própria CapTable e suas concorrentes SMU, EqSeed, Kria, Beegin.invest, Organismo Brasil, Whishe, Clearbook, Efund Investimentos e Cluster 21.
Elas são intermediárias entre o investidor e a startup, que antes captava dinheiro em um universo mais restrito de fundos de investimento e, quando possível, familiares e amigos. Com cadastro simples em um site e quantias mínimas de R$ 500, R$ 1.000 ou R$ 5.000, qualquer pessoa pode apostar em startups.
Regulado pela CVM desde 2017, o equity crowdfunding, como também é chamado, permite a empresas que faturem até R$ 10 milhões ao ano captar até R$ 5 milhões de investidores por meio de plataformas autorizadas.
"A pandemia foi um vento de cauda", diz o cofundador da CapTable Guilherme Enck sobre o boom de investimentos no setor, que triplicaram no último ano. "Ela não mudou nenhuma tendência, mas acelerou algo que já vinha ocorrendo."
Ele se refere à digitalização a que a sociedade assistiu nos últimos dois anos com as medidas de distanciamento tomadas para evitar a contaminação por Covid. Soma-se a isso a mínima histórica da taxa básica de juros, a Selic, que em 2020 foi congelada pelo Banco Central em 2% e assim ficou por sete meses, até março deste ano.
"A turma acaba fugindo da renda fixa e colocando em ativos reais, empresas", diz Enck.
Essa turma a que ele se refere tem o perfil de um early adopter, no jargão em inglês que poderia ser traduzido como um "adotante precoce". De olho nas mudanças de consumo e no aquecido mercado de tecnologia ao redor do mundo, esses investidores apostam que as startups no Brasil tendem a continuar crescendo, como acontece em outros países.
"Eles estão antecipando que a próxima onda é as empresas de tecnologia tomando conta da Bolsa de Valores aqui do Brasil, como já vem acontecendo", afirma Enck.
Na CapTable, 90% dos usuários são homens (característica que tentam mudar por meio de projetos), 70% é do Sul ou do Sudeste e a maioria está entre 28 e 40 ano%u200Bs, embora a maior parte do aporte venha de pessoas com mais de 40. A média de investimento do usuário é de R$ 4.500 por startup -distante da acachapante maioria da população brasileira, mas relativamente pouco quando falamos do mercado bilionário de tecnologia.
A entrada desse investidor é uma mão na roda também para a outra ponta, dos empreendedores.
De captações de R$ 200 mil a R$ 350 mil em aceleradoras de startup, o fundador tinha que pular para os grandes fundos de investimento de risco, que entregam cheques da ordem dos milhões de reais. "Existia um gap no mercado, um degrau que não estava sendo atendido e que ficou conhecido sugestivamente como vale da morte", diz o empresário. Esse vácuo de investimento ocorre justamente quando muitas dessas empresas estão operando no vermelho em troca de expandir e derrotar as concorrentes.
As plataformas de investimento coletivo podem ajudar as startups a passar ilesas pelo vale, mas o mercado ainda carrega riscos. Em meio à correção de valores de mercado de grandes fintechs, como são chamadas as startups do setor financeiro, discussões sobre uma possível bolha no setor de tecnologia ganham força.
"A correção vem muito na esteira da farra de liquidez que a gente teve no mundo todo", diz Enck. "Esse balanço que seria natural do mercado foi potencializado por taxas de juros muito baixas."
Desde dezembro, a taxa Selic está em 9,25% ao ano, e deve continuar crescendo em 2022: pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central nesta segunda-feira, dia 10, mostra que a expectativa do mercado é a taxa básica de juros a 11,75% no final do ano. O dado, que pode fazer o investidor voltar-se para opções mais seguras, não abala o otimismo do empresário, que aposta na mudança de comportamento como motor para o crescimento do investimento individual.
"Não existe uma correlação clara entre o cenário macro e o cenário de tecnologia. Nós temos um momento de crise no Brasil e o mercado de tecnologia está crescendo", afirma.
A despeito das incertezas em um ano de eleições, que segundo ele "vão, sim, prejudicar um pouco as decisões de alocação de recursos", as startups devem continuar com ventos favoráveis. "Eu não tenho dúvida de que em 2022 o setor vai continuar crescendo", afirma.
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