Quinta, 10 de Julho de 2025

DólarR$ 5,58

EuroR$ 6,54

Santos

20ºC

NETFLIX

Para chineses, dupla de 'Game of Thrones' estragou 'O Problema dos 3 Corpos'

"O Problema dos 3 Corpos", baseada na obra de ficção científica de Liu Cixin, e não gostou. Expressou sua contrariedade por aplicativos locais de mensagens instantâneas, como o Weixin (WeChat) e Weibo, que agora tem três bilhões de visualizações

Folhapress - Nelson de Sá

28/03/2024 - quinta às 15h54

O público diz que a dupla de criadores de "Game of Thrones", que responde agora por "3 Corpos", repete o desastre da última temporada da série baseada na obra de George R. R. - Reprodução

 Ao longo da última semana, usando VPN, uma ferramenta que burla restrições de acesso à internet, os chineses assistiram à versão da Netflix para "O Problema dos 3 Corpos", baseada na obra de ficção científica de Liu Cixin, e não gostou. Expressou sua contrariedade por aplicativos locais de mensagens instantâneas, como o Weixin (WeChat) e Weibo, que agora tem um tópico com cerca de três bilhões de visualizações.


Na Douban, plataforma voltada para críticas de filmes, livros e música, a avaliação ou a nota média dada à série americana ficou em 6,7, contra 8,7 para a versão chinesa, que estreou no ano passado no streaming da Tencent. Em outras palavras, como ecoou numa das hashtags usadas no Weibo, "a China venceu" o confronto entre as duas adaptações, há muito aguardado.


O público diz que a dupla de criadores de "Game of Thrones", que responde agora por "3 Corpos", repete o desastre da última temporada da série baseada na obra de George R. R.

Martin. O questionamento mais repisado é quanto à conversão étnica e de gênero de alguns dos personagens centrais, sobretudo Wang Miao, cientista que centraliza a trama no livro original e na adaptação chinesa, mas que virou Augustina Salazar, Auggie, na da Netflix.


Mais até, Wang e outros cientistas chineses, distribuídos pelos livros da trilogia de Liu, sem sequer se conhecer, transformaram-se numa equipe, os Cinco de Oxford, que estudaram juntos na universidade inglesa. Na descrição irônica de Hu Xijin, jornalista e hoje personalidade do Weibo, "Yun Tianming é branco, Luo Ji é negro e fuma maconha" e assim por diante.


Além da redistribuição "politicamente correta", essa reunião de cientistas agora "imberbes" é lamentada nas plataformas chinesas por seguir o clichê ocidental de "Harry Potter" a "Senhor dos Anéis", concentrando-se num grupo de eleitos para salvar a humanidade, uma "elite". Com a agravante de que a cientista mantida como chinesa na série, Ye Wenjie, se torna uma "vilã", com uma contínua fisionomia "odiosa".


Ye é a jovem desgostosa com a humanidade que deflagra, conscientemente, uma eventual invasão da Terra. No primeiro livro e na versão da Tencent, o momento em que ela se desilude —diante da perseguição e morte de seu pai pela Revolução Cultural— está no meio da narrativa. Na edição americana do primeiro livro e agora na série da Netflix, a cena é trazida para a introdução.


A mudança foi proposta pelo tradutor americano, há uma década, e aceita por Liu Cixin. Agora, o escritor assinou contrato com a Netflix, concordando com as mudanças ainda mais amplas realizadas pela série. Ele não deu as caras, não participa da divulgação, mas o desagrado do público chinês é tamanho que Liu talvez acabe se pronunciando.


Não que a contrariedade seja unânime. Até alguns dos internautas chineses mais críticos ressalvam que, de um jeito ou de outro, a ficção científica que tanto apreciam segue presente, sobrevive. E o êxito da série americana, a mais vista da Netflix neste momento, é saudado como uma ponte para os espectadores chegarem ao livro e também à série chinesa.


Neste sentido, também ecoou em mídia social, chegando à rede CCTV, a Televisão Central da China, uma intervenção do criador japonês de videogames Hideo Kojima, bastante festejado na China. Admirador antigo de Liu Cixin, ele defendeu a série da Netflix pela "brilhante perspectiva global" e como alternativa "a quem está cansado dos blockbusters de Hollywood".


Ele fez ressalvas, no entanto. "Eu gostaria muito que vocês lessem o livro original. Para os fãs do livro, eu recomendaria a versão da Tencent", disse. O material está no YouTube, com legendas em inglês.
 

Deixe a sua opinião

Leia Mais

ver todos

ARTE

Palácio das Artes tem três novas opções de exposições no mês de julho

EVENTO

28º Arraial da ALMA acontece neste final de semana em Guarujá

EVENTO

Férias no Museu tem segundo dia de programação nesta quinta (10)

2
Entre em nosso grupo