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O comportamento é uma tendência mundial
Por Daniela Arcanjo - Da Folhapress
06/05/2022 - sexta às 17h30
Em 2021, o mercado de jogos em plataformas móveis movimentou US$ 93,2 bilhões (R$ 468,4 bilhões) - (foto: Flickr)
Em 2018, a mesa gamer do estudante Matheus Lobo, 22 anos, teve um upgrade. Após seis meses de economia, ele conseguiu substituir seu computador básico, que usava para trabalhar, por um com processador, placa de vídeo e memória melhores -componentes que são chave para um bom desempenho nos jogos.
Era o início da instalação dos sonhos: computador com duas ou mais telas, diferentes controles, fones de ouvido com cancelamento de ruído, mouse de alta precisão.
Quatro anos depois, a mesa gamer virou uma mesa de cabeceira: é ali que ele deixa as luvas de dedo, o cooler mobile (espécie de miniventilador para resfriar o celular) e o controle onde acopla o smartphone.
"Em 2020, o meu computador quebrou, e a manutenção era extremamente cara. Não achei viável. Com o preço da manutenção, eu poderia comprar um celular melhor", afirma. Desde então, Matheus joga quase exclusivamente pelo celular.
O comportamento é uma tendência mundial: em 2021, o mercado de jogos em plataformas móveis (celulares e tablets) movimentou US$ 93,2 bilhões (R$ 468,4 bilhões), 52% de todo o faturamento do setor. Segundo relatório da NewZoo, é um aumento de 7,3% em relação ao ano anterior.
O Brasil, que segundo levantamento da FGV tem mais smartphones do que pessoas, segue o mesmo rumo. De acordo com a Pesquisa Games Brasil, feita com 13.051 internautas entre fevereiro e março deste ano, 48,3% dos entrevistados que jogavam preferiam o celular, um aumento de 6,7 pontos percentuais em relação ao levantamento do ano passado.
Desses, 33,2% declaram jogar em dispositivos móveis todos os dias; 70,7% dos que preferem mobile se consideram casuais.
Matheus, fã de games no celular "desde o jogo da cobrinha", viu o mercado se expandir nos últimos anos. Com isso, embora tenha migrado para o mobile por uma questão financeira, hoje está na plataforma por escolha.
Ele acha mais fácil mostrar novidades para os amigos e dar play em qualquer lugar, e quase não liga o Xbox Series X que está na sua sala. "Geralmente, os jogos que estão saindo para console estão saindo para celular", justifica.
Foram várias as companhias que entraram na disputa por esse público desde que a francesa Gameloft lançou o Spider-Man Unlimited, um dos mais famosos para celular, em 2014, e se tornou pioneira em produtos com narrativas e personagens mais complexos para a plataforma.
O Fortnite, famoso jogo de estratégias da Epic Games, por exemplo, pode ser jogado de qualquer plataforma -a mesma conta pode ser usada em computador, console ou celular e carrega o progresso do jogador. Já o League of Legends, maior sucesso da Riot Games, tem a sua versão para mobile desde 2020.
Há ainda os que são completamente voltados para smartphone, como o Pokemon Go. O objetivo do jogo, febre em 2016, é a captura das famosas criaturas do desenho, que aparecem na câmera do celular por meio de realidade aumentada.
No Brasil, a Wildlife Studios é a principal empresa de games focada no mercado mobile. É a única do setor entre os unicórnios –apelido das startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão.
Há 17 anos no mercado, o presidente-executivo da distribuidora de jogos Level Up, Gláucio Marques, afirma que o desenvolvimento dos games mobile teve um salto nos últimos três anos, acompanhando a evolução e popularização dos celulares –e pegando carona na digitalização da pandemia.
"Em relação a negócios a gente vê uma grande oportunidade", afirma o empresário, embora ressalte que, de modo geral, no console ou computador a experiência é mais rica, com gráficos melhores, mais interação e eventualmente uma internet a cabo, mais rápida.
Em 2018, 14% dos acessos à plataforma de jogos da empresa de Marques era mobile. Em março deste ano, o dispositivo já era responsável por 80% dos acessos, guinada que provocou mudanças na equipe. Dos cerca de 180 funcionários contratados desde 2019, 40% foram para cargos ligados a serviços para celular ou tablet.
"A minha mãe de 79 anos nunca havia jogado e, há 5 anos, depois que comprou o primeiro smartphone, passou a jogar diariamente e investe nisso", conta Marques.
A próxima grande mudança, aposta ele, será a quinta geração de rede de celulares, que deve chegar ainda este ano no Brasil. "O 5g vai potencializar esse crescimento para produtos melhores. Agora, precisamos ver em quanto tempo a população em geral vai ter acesso. Assim como o público com celulares melhores, é um nicho", afirma.
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