SAÚDE MENTAL

Psicólogas de Santos criam projeto social para mulheres de baixa renda

"Psi para mulheres" surgiu ainda na graduação e está com inscrições abertas

15/02/2023 - quarta às 17h20
Projeto surgiu ainda na graduação. Atendimentos são feitos online - Arquivo Pessoal

Durante uma conversa no período da faculdade de Psicologia, em 2022, as amigas Flavia Borges, Michelle Santana, Dayane Bezerra, Gislaine Pimentel, Laura Campos e Beatriz Lourenço perceberam um sonho em comum: ajudar mulheres. Em meio à correria da colação de grau, elaboração de TCC e estágio, elas reuniram forças para levar esse ideal para frente.

"Conseguimos observar a grande demanda gerada por esse público. A necessidade de cuidado com a saúde mental está diretamente relacionada com o gênero feminino, a nossa cultura patriarcal marcada pelo machismo e desigualdade, ainda hoje, adoece muitas mulheres", conta Flávia. Foi então que surgiu o Psi para mulheres. Lançado em fevereiro deste ano, o projeto oferece atendimento psicoterapeutico para mulheres maiores de 18 anos por um baixo custo, em especial para as que estão em situação de vulnerabilidade social.

No momento, os atendimentos são 100% online, abrangendo não só as mulheres da Baixada Santista. As inscrições estão abertas para as interessadas. Basta preencher o formulário e responder as perguntas, como disponibilidade de horário e queixa inicial. A equipe entrará em contato para realizar uma triagem e encaminhar para uma das psicólogas. 

O bordão do projeto não podia ser diferente: "mulheres cuidado de mulheres". Esse desejo já vem de muito tempo, desde o ingresso no curso, em 2017. "Tivemos contato com excelentes professoras que nos guiaram para estudar e conhecer mais sobre o assunto e, assim, tivemos contato com muitas questões, estudos e situações que deixavam bem claro a questão da saúde mental das mulheres, e a necessidade que elas têm em buscar uma ajuda que seja acessível financeiramente".

Saúde mental feminina
 

As mulheres são mais afetadas por Transtornos Mentais Comuns, de acordo com levantamento de 2021 do Instituto Cactus, em parceria com o Instituto Veredas. A taxa de depressão entre elas é, em média, mais que o dobro do que entre os homens.

Esse cenário piorou durante a pandemia. Um estudo do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo comprovou que, durante o período de isolamento social, 40,5% delas afirmaram estar com sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse. 

Mas esses fatores não são relacionados à biologia, muito menos são coincidência. Segundo Flávia, questões sociais são o principal problema. "A construção da história das mulheres, no geral, é permeada por muito sofrimento, dominação, falta de espaço e de fala. Essas questões, apesar de muitas vezes  serem camufladas, ainda se repetem atualmente. A maior parte delas é, ou já foi vítima de violência doméstica, de desigualdade nas relações amorosas, familiares ou de trabalho, de racismo, homofobia. São estruturas e fenômenos sociais que se revelam no comportamento das pessoas, impactando diretamente a saúde mental delas". 

Apesar da psicoterapia ainda ser considerada tabu por muitos, isso está mudando. "A velocidade da informação é uma ajuda nesse ponto. As pessoas que acessam informação sabem sobre os benefícios que a terapia traz, e a importância em cuidar da saúde mental", completa Flávia. Porém, nem todas têm acesso a esse e outros cuidados. Esse é o principal intuito do projeto.

Em alguns dias, o número de inscrições excedeu as expectativas do grupo. Não é possível mudar esse contexto de desigualdade de gênero do dia para a noite. Contudo, se depender delas, a emancipação feminina está um pouquinho mais próxima de acontecer.