RETROSPECTO NOS CLÁSSICOS

Um orgulho que nem todos podem ter: A trajetória do Santos nos clássicos paulistas do século XXI

Confira os detalhes dos jogos do Peixe contra os rivais paulistas

02/05/2022 - segunda às 12h30
Em 2002, Robinho e companhia tiraram o time da Vila Belmiro de uma fila de 18 anos sem um título de expressão nacional - (foto: Santos FC)

O futebol é um esporte contagiante, que encanta e atrai milhões de pessoas, muitas delas sentem amor verdadeiro pelo clube escolhido como se fosse uma parte de si, uma espécie de representação. Esse sentimento inflama ainda mais quando se trata de clássico, um confronto direto com o seu ou os seus maiores rivais. Já dizia a expressão popular: "Clássico não se joga, se ganha". São jogos onde o orgulho está à flor da pele, atletas e torcedores sentem a pressão bombear o peito e a raça se torna fator crucial para estratégia e a tática. 

Um embate contra os seus adversários regionais ou estaduais afeta o andamento e o planejamento interno de um clube na temporada, define se técnico e jogadores serão heróis ou vilões em uma balança extrema de céu ou inferno. O resultado dentro de campo pode alterar completamente (alcançando até âmbitos políticos) uma equipe fora dos gramados, além de determinar se a semana posterior à partida terá um clima agradável ou conturbado. 

O Santos, fundado em 1912, é conhecido no mundo todo por causa do seu DNA ofensivo, pela coroa, as pedaladas e a ousadia e alegria dos seus Meninos da Vila. Entre os times considerados grandes de São Paulo, é o único que não tem sua origem na capital, mesmo assim, já conquistou o estado, o país, o continente e o mundo mais de uma vez. É um "intruso" que bate de frente com Palmeiras, Corinthians e São Paulo, e consegue se impor, principalmente atuando dentro do Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro), onde leva extrema vantagem sobre todos. 

Durante os quase 110 anos história, o Santos tem um aproveitamento menor do que seus adversários diretos em clássicos, visto que, ao todo foram disputados 991 jogos contra os rivais da capital, com 320 vitórias, 259 empates e 412 derrotas. Sua fortaleza sempre foi atuar diante seus torcedores, a Vila Belmiro se transforma em um aliado fiel para as vitórias do clube praiano, uma vez que, tem números bem mais expressivos ao lado do 12º jogador.

No entanto, no século XXI o Peixe é superior ao Timão e ao Tricolor Paulista. O algoz do santista segue sendo o Verdão, que deixou a equipe da Vila Belmiro como vice-campeão em três oportunidades nos últimos sete anos (na Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e Copa Libertadores). De 2001 para cá, o Peixe saiu dos clássicos mais vitorioso do que derrotado e teve 48,3% de aproveitamento. Foram 87 triunfos contra 77 derrotas, além dos 52 empates.

Retrospecto do Santos contra o São Paulo
O primeiro embate entre as equipes, popularmente chamado de San-São ocorreu no dia 11 de maio de 1930, terminando com o resultado igualado em 2 a 2. Desde então, o São Paulo obteve mais vitórias no confronto, sendo 136 vitórias contra 106 do Santos, além de outros 74 empates. 

Porém, neste século, a dinastia até o momento é totalmente do Peixe, afinal, foram 33 vitórias 14 empates e 25 derrotas (52,3% de aproveitamento). Contudo, a marca mais impressionante está relacionada aos confrontos eliminatórios, onde o Santos eliminou o Tricolor Paulista em todas as sete partidas mata a mata que se enfrentaram desde 2001. 

Em 2002, quando o Brasileirão ainda não estava no formato de pontos corridos, Robinho e Diego, para surpresa de muitos, derrotaram o São Paulo nas quartas de final. Em 2004, o mesmo aconteceu na Copa Sulamericana, assim como no Paulistão em três anos seguidos (2010, 2011 e 2012) e por fim, a semifinal da Copa do Brasil de 2015.

Tantas decepções refletiram no torcedor são paulino, Vinícius Lima, que comentou sobre sua memória mais marcante no clássico: “Não é a melhor lembrança do mundo, mas foi uma vitória do Santos por 2 a 1. Quando o Neymar fez a paradinha em cima do Rogério Ceni. Foi a época das dancinhas do Neymar, só se falava do Santos em todo jornal esportivo. Ganhar do Santos seria a mesma coisa que ganhar um campeonato e defender a soberania tricolor. O que não aconteceu, né? Acabou com o ídolo do time chorando para o juiz”. 

Na ocasião, a reclamação do capitão do São Paulo gerou resultados. Naquela mesma temporada, a artimanha da paradinha no momento da cobrança do pênalti foi proibida no mundo da bola.

Retrospecto do Santos contra o Corinthians
Assim como contra o São Paulo, o primeiro jogo entre santistas e corintianos terminou empatado, desta vez em 3 a 3, no dia 10 de outubro de 1917. A partir daí, a rivalidade se estreitou, proporcionando aos espectadores, grandes batalhas, tabus, encontro de gerações e disputas diretas por troféus. Na íntegra, o clássico contém 134 vitórias do Corinthians, 109 triunfos do Santos e 97 empates.

Contudo, houve uma virada de chave no século XXI, afinal, o Peixe saiu vencedor de 31 confrontos, perdeu 24, além dos 21 jogos igualados (50% de aproveitamento). As histórias dessas partidas foram intensas, sendo quatro grandes finais disputas nos últimos 20 anos. 

"Teve um jogo que me marcou muito, do Santos contra o Corinthians, foi a final de 2002 do Brasileirão. Eu tinha uns 10 anos na época e é estranho porque, de cabeça, mesmo sendo corintiano, eu não consigo dizer quem do Corinthians estava jogando naquela partida, mas consigo lembrar nitidamente do Robinho e o Diego em campo. Até hoje não consigo esquecer uma música que a torcida santista cantava sem parar naquele dia e por semanas e semanas: "Diego toca a bola, Robinho deita e rola, e só dá Santos!". Foi um dia ruim para ser corintiano, mas uma lembrança muito especial da minha infância", disse o advogado e garçom, Marcus Santana.

Esta partida ocorreu em 2002, a decisão do Campeonato Brasileiro ficou marcada na história dos santistas, que relembram com muito carinho até os dias atuais as oito pedaladas de Robinho sobre o zagueiro Rogério, as defesas espetaculares de Fábio Costa e o golaço que decretou o título, marcado pelo lateral esquerdo que se consagraria ídolo do clube, Léo. 

Após vencer o primeiro jogo por 2 a 0, com gols de Renato e Alberto, o Santos estava a um passo de conseguir conquistar um título de expressão nacional após 18 anos de seca. De um lado, uma equipe com jogadores de renome como Doni, Fábio Luciano, Kléber, Vampeta, Deivid e Guilherme, comandados pelo técnico Carlos Alberto Parreira, do outro, um time desacreditado no início da competição, treinados por Emerson Leão, que apostou todas suas fichas na juventude dos garotos das categorias de base: Robinho, Diego, Elano, Renato e Alex. 

Empurrados por mais de 74 mil torcedores, o Timão pressionou desde o primeiro minuto, todavia, o arqueiro do Peixe segurou a o zero no placar e de sobra viu Robinho bailar, flutuar e pedalar oito vezes antes de ser derrubado dentro da área. O árbitro Carlos Eugênio Simon assinalou pênalti e o próprio garoto de 18 anos assumiu a responsabilidade e converteu a cobrança. 

No intervalo, o placar marcava 1 a 0 (3 a 0 no agregado) e a certeza de que o Alvinegro Praiano iria levantar o caneco aumentava, mas o Timão reagiu de forma rápida e virou a partida com Anderson Cléber e Deivid (devido a melhor campanha, um empate no resultado conjunto daria o campeonato time de preto e branco). A aflição se tornou absurda, será que os meninos, os inexperientes irão conseguir manter o resultado? Sim. Robinho fez o que sabia fazer de melhor, bagunçou a defesa adversária com a sua principal característica, o drible veloz, e serviu Elano para empatar a partida. No último lance do jogo, com Robinho no comando de ataque novamente, Léo conseguiu achar um espaço na entrada da área e soltou uma bomba para estourar a torcida santista em festa.

 "Foi uma sensação maravilhosa. Fui campeão da Libertadores, mas o título de 2002 foi muito especial, por tudo o que representou para o clube que iniciou aquele campeonato como candidato ao rebaixamento. Foi, de longe, o gol mais importante da minha carreira", revelou Léo, autor do gol que decretou o Campeonato Brasileiro de 2002. 

"Ser campeão já seria motivo de grande festa, mas em cima do Corinthians, ganhando as duas partidas da decisão. Um sonho! Esse fato com certeza tornou aquela conquista ainda mais especial" complementou.

As outras decisões citadas anteriormente foram todas pelo Campeonato Paulista. Em 2009, o Timão e os 107kg de Ronaldo esmagaram o Peixe, com direito a um gol fenomenal na Vila Belmiro. Além disso, os torcedores brasileiros acompanharam o encontro de gerações entre Ronaldo e Neymar, os símbolos mais atuais de sucesso da Seleção Brasileira.

Tempos depois, o Santos deu o troco e marcou a memória do cantor Leonidas: “O jogo mais marcante para mim foi a atuação de gala do Peixe, e do Neymar em especial, na final do Campeonato Paulista de 2011 entre Santos e Corinthians. Até porque no ano seguinte, não vencemos eles na Libertadores (quando o Corinthians avançou para a final da competição continental e se sagrou pela primeira vez em sua história, sobre o Boca Juniors, campeão da América)”.

A última decisão entre as equipes ocorreu em 2013, com a Vila Belmiro em clima de despedida, pois, Neymar, já estava com negociações avançadas para ir rumo ao Barcelona. O até logo, como prometido pelo craque, poderia ter sido um feito histórico, afinal, nenhum clube paulista conseguiu a façanha de conquistar o torneio estadual por quatro anos consecutivos. O tabu se manteve e o Corinthians chegou, na época, ao seu 27º estadual. 

Retrospecto do Santos contra o Palmeiras
O clássico contra o Palmeiras não costuma ter, em sua maioria, um final feliz para o Santos. A Academia, desde o princípio, castigava o Peixe com derrotas amargas e era o único clube, com a maestria de Ademir de Guia, que enfrentou de igual para igual o Santos de Pelé. A história do duelo até o momento consta 142 vitórias alviverdes contra 105 vitórias alvinegras, sendo assim, o clássico que o Peixe menos venceu e de quebra o que mais perdeu (sem esquecer dos 87 empates). 

A situação segue favorável para o Palmeiras neste século, com 23 vitórias santistas, 28 vitórias para os palmeirenses e 17 empates. Além do mais, o Palmeiras venceu a Copa do Brasil 2015 e a Libertadores 2020 em confronto direto com o Peixe, além de ter o time do litoral como seu vice no Campeonato Brasileiro de 2016.

Até mesmo o Léo admite uma falta de momentos bons para o Peixe: “Confesso que contra o Palmeiras não tenho grandes lembranças”.

Com isso, Daniel Silva vários momentos marcantes sobre o clássico para escolher a seu favor e motivos de sobra para sorrir. A sua história mágica como torcedor se faz devido ao surgimento de um ídolo na Sociedade Esportiva Palmeiras.

“Sem pensar duas vezes eu diria a Copa do Brasil de 2015. Claro que a Libertadores é um título maior, mas aquela conquista tem toda uma aura mágica. É o ponto de virada do Palmeiras atual, o momento que o torcedor pode falar "ok, acho que finalmente temos um time". Até existia um pouco de ressentimento pelo Paulistão (conquistado pelo Santos sobre o Palmeiras no mesmo ano), não vou mentir, mas era mais que isso que estava em jogo: uma série B recente, provocações entre as torcidas e os jogadores (só lembrar a tatuagem do Lucas Lima ou os desentendimentos entre o Ricardo Oliveira e o Fernando Prass). Por falar no arqueiro, também considero aquele jogo a consolidação de um ídolo. Particularmente é o meu jogador favorito da história recente do Palmeiras”.

Na Vila, quem dá a bola é o Santos!
O estádio Urbano Caldeira é temido pelos adversários por ser um Alçapão. É ali, na Vila Belmiro, que o Santos joga com a sua identidade e honra contra qualquer um adversário, principalmente os paulistas, no qual leva vantagem atuando em casa.

Contra o São Paulo, o Peixe disputou 32 partidas, conquistando 17 vitórias, 9 empates e apenas 6 derrotas, alcançando um aproveitamento de 62,5% de aproveitamento.

Frente ao Corinthians, as estatísticas melhoram ainda mais, visto que, em 33 partidas os santistas saíram sorrindo em 20 oportunidades, contra 6 empates e 7 derrotas (aproveitamento de 66,6%).

Enfrentando o Palmeiras, o Santos, que costuma ter dificuldades contra este rival, mantém a similaridade efetiva, assim como contra os outros grandes de São Paulo. Desde 2001 o Alvinegro Praiano comemorou 16 vitórias, tendo também 7 empates e 7 derrotas (gerando um aproveitamento do 61,1%).