ENSINO

Com histórias inspiradoras, São Vicente comemora conquistas na alfabetização

Data nacional destaca o trabalho de professores e alunos que fazem da leitura e da escrita instrumentos de transformação social

14/11/2025 - sexta às 09h11

Celebrado nesta sexta-feira (14), o Dia Nacional da Alfabetização ganha um significado especial em São Vicente, onde os investimentos na educação vêm mostrando resultados crescentes. Mais do que números, a alfabetização se traduz em histórias de superação, orgulho e esperança, tanto de quem ensina, como de quem aprende.

A estudante de pedagogia Raquel Santos Carvalho, 23 anos, vive hoje a realização de um sonho: tornar-se professora alfabetizadora. Estagiando na UE Sebastião Ribeiro da Silva, no Tancredo, ela descreve o momento de ensinar uma criança a ler e escrever como "um dos mais mágicos da vida escolar". "É um desafio, pois você está ensinando uma coisa muito importante na vida do aluno. É a primeira vez que ele escreve o próprio nome. É muito legal ver esse momento e pensar que, um dia, alguém pode dizer que 'a professora Raquel me ajudou'".

Raquel lembra com carinho da professora que iniciou esse processo. "Foi a dona Maria José, no meu povoado, a cidade de Sítio do Quinto, interior da Bahia. Ela que me ensinou a ler e escrever. Deixo aqui minha gratidão, porque ela foi parte importante da minha alfabetização".

Entre os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Unidade Educacional Sebastião Ribeiro da Silva (Tancredo), o senhor José Vieira Fontes, 66 anos, simboliza o poder transformador da alfabetização na vida adulta. Com sinceridade e alegria, ele fala sobre os desafios e conquistas recentes. "Sofri muito por não saber ler. Às vezes, ia a lugares e não sabia o que estava escrito. Até para ir a um banheiro público esperava alguém entrar para saber se era masculino ou feminino. Hoje fico contente, porque peguei firme nos estudos e consigo ler. As professoras foram maravilhosas. Ninguém é nada se não passar por um professor".

Também da EJA, Josefa de Jesus Santos, de 66 anos, de Sergipe, carrega na memória a lembrança das professoras que a marcaram. "Larguei os estudos aos 14 anos para casar, mas nunca esqueci da dona Neusa. Foi ela quem mais me puxou para aprender a ler e escrever, quando eu era bem pequena. Era dedicada, acreditava em mim. A alfabetização me deu vontade de voltar a estudar, porque sempre senti falta da escola", afirma. "Ela já é falecida, mas se eu pudesse, agradeceria por tudo o que fez por mim".

Já o professor Michael Justino da Silva, de 25 anos, representa uma nova geração de educadores da rede municipal. Ele leciona na UE José Meirelles (Quarentenário), e também é professor universitário no curso de Pedagogia. "A alfabetização é um processo que transforma vidas. Trabalhar com ludicidade e prazer é essencial. As crianças precisam sentir gosto pela leitura e pela escrita", destaca. "Educar é caminhar um dia de cada vez. É difícil, mas cada pequeno avanço vale a pena. A educação transforma realidades".

 

Avanços e novas metas - Os depoimentos se somam aos resultados expressivos que São Vicente tem alcançado na área da alfabetização. Nos últimos quatro anos, o município subiu três posições no ranking regional, alcançando o 5º lugar na Baixada Santista, segundo o Saresp 2024.

Esse avanço reflete o planejamento consistente da Secretaria de Educação (Seduc), que desde 2021 vem fortalecendo o ensino da leitura e da escrita. Entre as ações, estão o Programa Alfabetizando, a adesão ao Compromisso Nacional Criança Alfabetizada e ao Alfabetiza Juntos SP, além de formações continuadas de professores e ampliação dos materiais didáticos.

"A alfabetização é um pilar da educação, pois garante que o processo escolar ocorra de forma mais tranquila nos anos seguintes", afirma a secretária de Educação, Michelle Paraguai. "Essa parceria com o Estado é fundamental para o trabalho desenvolvido desde a Educação Infantil até os anos finais".

Em reconhecimento aos avanços, 14 escolas municipais receberam o Prêmio Excelência Educacional, concedido pelo Governo do Estado em 2025, pelos resultados no Saresp. Entre as premiadas estão unidades como o CAIC Ayrton Senna da Silva (Humaitá) e a UE Ercília Nogueira Cobra (Vila Margarida).
 

Fortalecendo o futuro - A Seduc também tem investido em programas voltados à primeira infância, como o Cinco Básicos, que estimula interações familiares essenciais — cantar, brincar, contar histórias e expressar afeto — desde o nascimento. Outro destaque é a Trilha Formativa de Alfabetização, com módulos sobre leitura, escrita e práticas antirracistas, voltada a professores da Educação Infantil e dos Anos Iniciais.

Além das crianças, a Educação de Jovens e Adultos também ganha atenção especial. O projeto "Raízes e Rimas", desenvolvido na UE Sebastião Ribeiro da Silva, uniu saberes populares e literatura de cordel, resultando em um livro autoral sobre plantas medicinais produzido pelos próprios alunos.

"Nosso sonho é ver nossas crianças lendo e escrevendo na idade certa, com mais oportunidades de futuro", destacou o prefeito Kayo Amado. "Subimos para o 5º lugar, mas queremos chegar ainda mais alto."

Origem - O Dia Nacional da Alfabetização é celebrado em 14 de novembro por ser a data de criação do Ministério da Educação (MEC), em 1930. Estabelecida em 1966, a data serve para homenagear a fundação do órgão e reforçar a importância da alfabetização como um direito fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e profissional dos cidadãos, e para combater o analfabetismo no Brasil.