Filmes e séries recentes ampliam o legado de Lovecraft

Produções atuais revisitam o horror cósmico e seus dilemas culturais

Howard Phillips Lovecraft nasceu em 1890, em Providence, Rhode Island, e morreu em 1937 sem imaginar que sua obra viria a moldar de forma definitiva o gênero do horror. Com narrativas que exploravam o medo do desconhecido e a pequenez humana diante do cosmos, Lovecraft criou um estilo inconfundível, hoje conhecido como terror cósmico.

Entre seus contos mais marcantes estão O Chamado de Cthulhu, publicado em 1928, A Cor que Caiu do Céu, de 1927, e Nas Montanhas da Loucura, de 1936. Histórias como Os Ratos nas Paredes, Um Sussurro nas Trevas e Os Gatos de Ulthar ampliaram o universo de criaturas, cidades fictícias e forças sobrenaturais que permanecem como referência na cultura contemporânea.

A recepção de Lovecraft em vida foi discreta, com publicações em revistas pulp de circulação limitada. Após sua morte, críticos e escritores passaram a valorizar sua obra. Will Cuppy, em 1944, classificou seus textos como exemplos de mistério no sentido mais amplo. Décadas depois, o filósofo Colin Wilson o colocou entre os autores que desafiaram a racionalidade, ao lado de Tolkien e M. R. James. Joyce Carol Oates comparou sua relevância à de Edgar Allan Poe, e Stephen King o definiu como o maior praticante do conto de terror clássico do século XX, citando-o como inspiração direta em sua carreira. Outros críticos destacaram tanto virtudes quanto limitações. Floyd C. Gale observou que Lovecraft poderia criar um clima de terror insuperável, mas em alguns momentos soava excessivo. Michael Dirda o chamou de visionário, atrás apenas de Poe na literatura sobrenatural americana. Especialistas como S. T. Joshi defendem que seu estilo rebuscado foi resultado de escolhas conscientes, marcado por ritmo poético e uso de arcaísmos.

Lovecraft também foi parte de um círculo literário que incluiu nomes como Clark Ashton Smith, Robert E. Howard e August Derleth, responsáveis por expandir os mitos que ele criou. Escritores e artistas de diferentes épocas reconheceram sua influência, de Jorge Luis Borges, que lhe dedicou o conto Há Mais Coisas, a Michel Houellebecq, que admitiu ter sido fortemente impactado por sua leitura na juventude. No campo visual, artistas como H. R. Giger e Moebius beberam em suas imagens sombrias, e o cinema de terror e ficção científica incorporou elementos de seu imaginário, como visto em Alien.

O legado de Lovecraft ultrapassa a literatura. Seu universo literário alimenta jogos, quadrinhos, filmes e músicas, consolidando-se como um dos pilares do terror moderno. De desconhecido em vida, ele tornou-se arquiteto de um imaginário que ainda hoje provoca fascínio e inquietação.

Ademais, produções recentes revisitam o universo lovecraftiano de formas diversas. Em 2023, foi lançado o filme Suitable Flesh, inspirado no conto The Thing on the Doorstep, indicado ao seu estilo erótico e bizarro e estreado no festival de Tribeca, com lançamento em plataformas e posteriormente em streaming na Shudder em janeiro de 2024. Outra produção recente é H.P. Lovecraft’s Witch House, de 2021, adaptação livre de The Dreams in the Witch House, disponível em DVD e plataformas digitais, que oferece sequências visuais psicodélicas e atmosfera de suspense sobrenatural. A série web The Resonator – Miskatonic U, iniciada em 2021, reinterpretou, em seis episódios, as obras de Lovecraft e filmes de Stuart Gordon, sendo reunida como filme em 2022. Em 2022, o aclamado antologia Cabinet of Curiosities, idealizado por Guillermo del Toro para a Netflix, trouxe episódios diretamente baseados nos contos Pickman’s Model e Dreams in the Witch House, além de The Autopsy, todos imbuídos da estética Lovecraftiana e cinematografia sombria. Tais produções revisitaram tanto os mitos clássicos quanto os aspectos mais simbólicos e subentendidos do terror cósmico.

Essas obras recentes revelam como o legado de Lovecraft continua vivo, revisitado por cineastas e plataformas digitais, que exploram tanto a dimensão puramente fantástica quanto os dilemas humanos e sociais embutidos em seu universo de horror.
 

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