"Não é normal ser infeliz", conta ex-morador de rua que descobriu TEA aos 30 anos
Graças ao tratamento que realiza hoje com a psiquiatra Ana Paula Matsumota, o profissional de tecnologia da informação Vitor Esteves conquistou a tão sonhada qualidade de vida
14/08/2025 - quinta às 07h00Vitor Santana da Silva Esteves, 31 anos, é um gerente de projetos de tecnologia da informação. Há um ano, após uma avaliação clínica, descobriu o transtorno do espectro autista (TEA), de grau leve, muito comum em adultos. "No começo tinha vergonha, pois pensava que poderiam achar que sou menos capaz. Era como se eu tivesse uma doença contagiosa", comenta.
Atualmente sob os cuidados da psiquiatra Ana Paula Ruocco Nonato Matsumota, Vitor considera que o início do tratamento foi fácil, mas enfrentou momentos difíceis de adaptação. "O tratamento mudou minha vida. Consegui me tornar a pessoa que gostaria de ser: mais calmo, equilibrado e mais gentil", conta Esteves.
Ele lembra das dificuldades na escola, que apanhava e também sofria bullying. Aliás, sua infância foi um período bem difícil. "Minha mãe morava na rua durante a gestação, e por isso, nasci morador de rua". Para a psiquiatra, uma infância difícil "pode agravar dificuldades sociais, emocionais e de aprendizado, já presentes no TEA".
A especialista recorda que o paciente chegou ao consultório com suspeita de TDAH buscando respostas para dificuldades que enfrentava desde a infância. "Através das consultas e do teste neuropsicológico fechamos o diagnóstico em TEA". Ela comenta que Vitor possui alto nível de inteligência e interesses específicos bem desenvolvidos, "mas com desafios nas interações sociais e na compreensão de contextos emocionais".
De origem neurológica e genética, o transtorno do espectro autista pode, dependendo do grau de suporte, ser identificado pelo pouco contato visual, fala atrasada ou diferente, compreensão literal da linguagem, resistência a mudanças de rotina, movimentos repetitivos e sensibilidade a sons, luzes ou texturas. Entre os desafios de um autista estão a dificuldade de interação social, interpretação literal da linguagem, hipersensibilidade sensorial e necessidade de rotinas rígidas. Por outro lado, contam com foco profundo, atenção aos detalhes, pensamento lógico, memória acima da média e criatividade em áreas de interesse. De acordo com Ana Paula, alguns indivíduos têm habilidades excepcionais, mas isso não significa que todo autista seja superdotado.
Conforme a médica, o diagnóstico tardio pode revelar acúmulo de frustrações, isolamento e dificuldade de adaptação. Porém, com diagnóstico adequado, apoio terapêutico e inclusão social, as pessoas podem ter independência e desenvolver plenamente seus talentos. "Informação e empatia são ferramentas essenciais para quebrar o preconceito e promover a verdadeira inclusão".
Hoje Vitor é feliz e diz que é possível ter qualidade de vida. "Não precisamos sofrer em silêncio. Não é normal estar triste, não é normal ser infeliz". Ele recomenda que todos deveriam buscar por ajuda para cuidar da mente. "Para quem possui TEA é algo obrigatório".