Assalto fez atleta do Talento Esportivo começar a lutar: 'Precisava me defender'
O que leva alguém a praticar esporte em alto nível? As motivações são as mais diversas, mas para Gizele Gavazzi, 28 anos, o interesse brotou por conta de um susto cotidiano
13/08/2025 - quarta às 06h00Atleta do Sanda, uma variante do Kung Fu, Gizele decidiu entrar numa academia para aprender as técnicas da luta após sofrer um assalto. "Sempre gostei de arte marcial, mas minha mãe queria que eu fizesse balé. Fiz aulas experimentais de luta e de balé, mas não me decidi por nenhuma das duas. Quando estava na faculdade, fui assaltada em um ponto de ônibus. Conclui depois desse episódio que precisava fazer alguma luta, saber me defender de algum ataque", lembra ela.
Gizele calçou as luvas e foi à luta. Treinou Muay Thai e Kung Fu tradicional antes de conhecer o Sanda, em 2018. Foi a chave para ela se testar em um cenário competitivo, partir para a trocação franca.
Natural de Vinhedo, Gizele viajava regularmente para Campinas para treinar a modalidade. O esforço foi recompensado. Em seu primeiro ano como atleta de Sanda, ficou com o título brasileiro na categoria até 65kg. feito que se repetiu nos seis anos seguintes. Gizele também tem um bicampeonato paulista (2024 e 2025) e lidera o ranking da Liga Nacional de Kung Fu no seu peso.
"A luta mudou minha vida. Antes de começar a treinar, não tinha uma profissão definida. Para mim, a luta não é um estilo de vida, é uma identidade", diz ela, que desde 2022 é bolsista do Programa Talento Esportivo, plataforma de financiamento da Secretaria de Esportes do Estado de SP. "A bolsa é um facilitador, ajuda a manter a frequência de treinos. Com ela, não preciso ficar em dúvida entre pagar a inscrição de um campeonato e gastar com alguma outra coisa."
Em casa, Gizele conta hoje com o apoio dos pais, embora eles não acompanhem a filha nas competições. "Meus pais sempre gostaram de esportes, mas eles nunca imaginaram que eu faria luta. Eles não assistem às minhas lutas, não gostam de me ver trocando porrada, mas sempre que ganho uma medalha meu pai a pendura na parede da cozinha de casa para que todo mundo veja."
Hegemônica em território nacional na sua categoria, Gizele foca no Campeonato Brasileiro de Kung Fu, em outubro, onde buscará o oitavo título consecutivo. Em fevereiro do próximo ano, a lutadora deve competir no Chile, quebrando, assim, um hiato de sete anos sem lutar no exterior.