A SUA RUA
Da luta abolicionista à construção de ferrovias e sistemas hídricos, a trajetória de Antônio e André Rebouças moldou o desenvolvimento do Brasil Imperial
Áurea Batista
20/10/2025 - segunda às 15h28
Antônio e André Rebouças, os primeiros engenheiros negros do Brasil, deixaram um legado que ultrapassa séculos. Nascidos em Cachoeira (BA) André em 1838 e Antônio em 1839, os irmãos superaram barreiras raciais e se tornaram peças-chave no desenvolvimento de infraestruturas no Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina, além de atuarem como vozes ativas no movimento abolicionista.
Trajetória de pioneiros
Netos de uma mulher escravizada alforriada e de um alfaiate português, os Rebouças tiveram uma educação privilegiada graças ao pai, Antônio Pereira Rebouças advogado autodidata, deputado e conselheiro de Dom Pedro II. Em 1854, ingressaram juntos no curso de Engenharia da Escola Militar, no Rio de Janeiro.
Especializaram-se na Europa em construção de portos e ferrovias e, ao retornarem em 1862, foram contratados pelo Império para supervisionar obras em fortificações no litoral de Santos, Paranaguá e Santa Catarina.
Obras que transformaram o Brasil
Estrada de ferro Curitiba-Paranaguá (PR)
Com 110 km de extensão, 14 túneis e cortando a desafiadora Serra do Mar, a ferrovia – iniciada em 1872 e concluída em 1885 – segue como exemplo de engenharia ousada. Antônio não viu sua conclusão: faleceu em 1874, vítima de febre tifóide.
Sistema de abastecimento de água do Rio de Janeiro
André propôs, em 1870, transportar água do Rio D’Ouro até a capital por tubulações de 55 km, originando o Sistema Acari (1877) e solucionando crises de seca crônicas.
Docas da alfândega e Doca Dom Pedro II (RJ)
André modernizou o porto carioca e, em um ato emblemático, proibiu o uso de mão de obra escravizada nas obras. Em 2012, a pedra fundamental da Doca, lavrada por ele em 1871, foi resgatada em escavações.
Estrada da Graciosa (PR)
Antônio chefiou a pavimentação dessa rota de 28,5 km, concluída em 1873. Tornou-se a única via totalmente pavimentada do Paraná até meados do século XX e hoje é atração turística.
Ativismo abolicionista e exílio
André Rebouças aprofundou-se na militância após a morte do irmão. Após a Proclamação da República (1889), exilou-se com a família imperial em Funchal (Ilha da Madeira), onde foi encontrado morto aos 60 anos, à beira de um rochedo.
Legado que permanece vivo
Túnel Rebouças (RJ): Conecta as zonas Sul e Norte do Rio.
Avenida Rebouças (SP): Uma das principais vias de São Paulo.
Bairro Rebouças (Curitiba): Desenvolveu-se ao redor da estação de trem projetada por eles.
Mais do que engenheiros, Antônio e André Rebouças foram símbolos de resistência, competência e advocacy pela liberdade. Suas obras físicas e ideológicas continuam a inspirar gerações, comprovando que o conhecimento e a determinação podem derrubar até as mais sólidas barreiras.
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