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AUMENTO DE PREÇO PARA COLECIONADORES

Dólar alto vira rival de colecionadores de bonecos, réplicas e videogames

O público nerd tem representado uma fatia de interesse crescente por parte das empresas no Brasil e no exterior

Da Folhapress

25/05/2022 - quarta às 12h25

Os principais itens que ajudaram a puxar a alta de preços foram os alimentos e combustíveis, mas itens "geek" que aparecem na cesta de produtos acompanhados pelo IBGE subiram no período - Foto: Freepik/DCStudio

Quando o dólar estava em patamares próximos de R$ 3, há cerca de cinco anos, o mineiro Germânio Daldegan, 36, aproveitava para aumentar sua coleção de estátuas e bonecos articulados, e também conseguia preços melhores em produtos encomendados do exterior.

"De uns anos para cá, o dólar alto complicou muito as coisas. Além dos valores de licenciamento, os atores que interpretam aqueles personagens cobram um valor pelo direito das empresas fazerem os bonecos com seus rostos. O câmbio acaba pesando muito no valor final do produto", conta Daldegan, criador do canal de YouTube UsBonecos.

"Tudo que tenho é importado. Mesmo os itens feitos por uma empresa brasileira são produzidos lá fora e eles ainda precisam buscar licenças no mercado."

"Por conta da crise, teve um crescimento de pessoas que tinham coleção e foram obrigadas a vender alguns itens. Ao mesmo tempo, temos clientes que ganharam muito com bitcoins e conseguiram comprar mais produtos", conta o gerente da loja Limited Edition, em São Paulo, Rodolfo Pranaitis.

Apesar da alta de preços, ele diz que houve um aumento de 20% nas vendas no ano passado, por conta da pandemia. Com muitos brasileiros sem sair de casa, o consumo acabou sendo direcionado para itens para a casa e muitos clientes acabaram iniciando coleções durante a crise sanitária.

O público nerd tem representado uma fatia de interesse crescente por parte das empresas no Brasil e no exterior. "Apesar de parecer algo meio infantil, por causa dos personagens de desenhos e games etc, é um mercado aquecido. As empresas sabem atingir muito bem o lado nostálgico, e como somos adultos economicamente ativos, fica até fácil para elas lucrarem", diz Daldegan.

Nesta quarta-feira, dia 25, é comemorado o Dia do Orgulho Nerd, por coincidir com o lançamento do filme "Star Wars - Episódio 4: Uma Nova Esperança", de George Lucas, cuja estreia foi em 25 de maio de 1977.

A data também é conhecida por ser o Dia da Toalha, que é celebrado pelos fãs da série "O Guia do Mochileiro das Galáxias", escrita pelo britânico Douglas Adams.

Com os preços elevados, muitos acabam optando pela impressão de peças em 3D, mas a matéria-prima também é importada, contam os colecionadores.

Fã de quadrinhos desde a infância, o também youtuber Marcel Rodrigues, 44, do canal Mania Geek Oficial, coleciona bonecos articulados, estátuas, escudos e réplicas desde 2012. "O dólar alto é bem ruim para quem coleciona."

O aumento dos preços também ajuda a explicar parte desse desconforto. Em abril, a inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor - Amplo) no país foi de 12,13% em 12 meses -o maior patamar desde 2003.

Os principais itens que ajudaram a puxar a alta de preços foram os alimentos e combustíveis, mas itens "geek" que aparecem na cesta de produtos acompanhados pelo IBGE subiram no período. Os aparelhos eletroeletrônicos, em geral, subiram 16,31% em 12 meses. Dentro dessa categoria, houve aumento de preços de TVs, som e informática (8,94%) e consoles de videogames (9,91%).

Os preços dos produtos aumentam e, quando o importado passa pela Receita Federal, a gente sai no prejuízo: pagamos um custo alto pela peça, mais o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e o frete.
Uma alternativa, conta Rodrigues, é comprar por meio de sites chineses, como o Ali Express, para conseguir amortecer o valor final. "Mesmo com tudo isso, é mais barato trazer uma importação direta do que esperar o item chegar no Brasil", diz.

Ele conta que chegou a comprar estátuas de uma franquia por US$ 470 no exterior, que agora são encontradas por US$ 730. "O lado bom é que esses produtos no Brasil têm sempre uma rápida valorização, então, se o colecionador tiver condições de comprar, o investimento em alguns itens pode compensar com o dólar até acima de R$ 5."

O dólar começou uma trajetória de queda no início de março, passando a oscilar em maio. Hoje, a moeda se encontra em um patamar de R$ 4,80.

No ano, a queda acumulada é de mais de 12%, mas a moeda chegou a patamares bem mais altos desde o início da pandemia –como o de R$ 5,85, em maio de 2020, ou de R$ 5,70, em dezembro passado.
As oscilações do câmbio atrapalham mesmo colecionadores experientes. Contando consoles de videogames, acessórios e jogos, a coleção de Alex Mamed, 48, tem mais de 12 mil itens e está no RankBrasil, de recordes, como maior colecionador de videogames do país, há mais de sete anos consecutivos.

"A coleção começou em 1992 e é mais rica em artigos antigos do que atuais, como um Sega Dreamcast e um Entex Adventure Vision", conta.

Cerca de 90% dos itens colecionados por Mamed são importados e ele viu os preços aumentarem cada vez mais, tanto pelo patamar mais elevado do dólar quanto pelo maior interesse por parte de outros colecionadores, que tem aquecido o mercado.

"Antes, muitos me doavam itens ou colocavam anúncios em jornais e revistas por preços acessíveis. Com R$ 100, dava para comprar um videogame antigo legal há pouco tempo; agora, seria impossível", conta. "A gente parou um pouco de comprar itens, tanto pelo câmbio quanto pelo mercado inflacionado."

Ele também acaba mantendo alguns itens para troca, por conta dos preços elevados. Recentemente, ele passou a trocar mais jogos com fãs e outros colecionadores, também para driblar a alta de preços.

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