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POLÊMICA EM CUBATÃO

Maestros de Cubatão se dizem desrespeitados por Ademário e convidam prefeito a um debate

O Chefe do Executivo afirmou em podcast que músicos recebiam dinheiro extra e efetivo era, em sua maioria, da Capital

Por Lucas Campos - Redação BS9

01/04/2022 - sexta às 10h02

Presidente da Associação de Amigos da Banda Sinfônica de Cubatão, Eder Crispim e Maestros Alexandre Felipe Gomes e Roberto Farias contestam as falas do prefeito - (fotos: reprodução Facebook)

O prefeito de Cubatão Ademário Oliveira participou na última quarta-feira, dia 23, do podcast Cereja do Bolo e causou polêmica quando, ao final da entrevista que durou quase duas horas, falou sobre os grupos artísticos da cidade (veja o vídeo completo mais abaixo), sendo questionado sobre qual seria a proposta do governo para a retomada do atendimento cultural no município e qual política pública cultural será adotada no lugar dos Grupos Artísticos de Cubatão.

Ademário comentou sobre os critérios de ingresso nos Grupos, afirmando categoricamente que os mesmos funcionavam na base do "quem indica" e disse, ainda, que os grupos artísticos contavam com cerca de 80% de músicos de São Paulo e cita nominalmente maestros que, segundo ele, além de receberem como servidores públicos, ainda ganham R$ 8 mil por mês nos Grupos Artísticos. Confira o que foi dito pelo prefeito no podcast:

"Eu vejo uma discussão muito grande em torno da Lei Rouanet, com o governo federal toda hora se explicando, eu busco a coerência. Eu acho que o artista precisa ser subsidiado? Precisa. Precisa ser valorizado? Precisa. Isso é indiscutível. Nós tínhamos grupos artísticos com 280 pessoas, sem compromisso de registro em carteira, recebendo quase 3 milhões por mês de dinheiro público, onde 80% eram de São Paulo. Aí não é justo com o artista cubatense nem em lugar nenhum do mundo. Por exemplo, o Marcelo Faria. Com todo respeito do mundo, mas eu acho que tem que valorizar o artista que é da cidade. Eu não posso pegar R$ 12 mil ou 15 mil reais e dar para uma pessoa que vem uma vez por semana na Orquestra Sinfônica fazer uma apresentação". 

O prefeito ainda reitera que a justiça decretou ilegalidade nesses casos nos quais as pessoas recebiam dinheiro público mesmo sem ter um vínculo empregatício e nem concurso público. Mas, fez questão de reiterar, também, que há quem tenha concurso e recebe verba a parte.

"Por exemplo, pessoas que eram servidores públicos, como o maestro Alexandre, que além de receber para dar aula no conservatório, pegava mais R$ 8 mil. Isso não é valorizar o artista. É tirar dinheiro de quem mais precisa e dar pra meia dúzia de amigos. Investir em cultura não é dar dinheiro para quem já tem". 

Segundo Ademário, os excessos foram cometidos por falta de fiscalização e por falta de alguém que "colocasse o dedo nessa ferida". Ele reitera que não é contra uma banda marcial, mas que  em uma cidade de 137 mil habitantes como Cubatão não vê possibilidade de haver uma banda marcial e uma sinfônica.

"Outro dia eu estava na Marina da Ilha Caraguatá e fui abordado por um rapaz que falou 'poxa prefeito, eu tocava na Orquestra Sinfônica de Cubatão e a verba que tinha de R$ 12 mil você cortou'. Cortei, e cortaria dez mil vezes.  A cidade está com muitas dificuldades, nós temos que bancar 280 pessoas, 80% de fora? Isso eu não vou aceitar nunca", afirmou categoricamente.

Repercussão
Como era de se esperar, a fala do prefeito de Cubatão repercutiu rapidamente nas redes. Eder Crispim, presidente da Associação de Amigos da Banda Sinfônica de Cubatão que é a responsável pelos projetos socioculturais Programa Cubatão Sinfonia, Orquestra Cubatão Sinfonia e Sinfonia na Escola, começou seu desabafo nas redes sociais dizendo que "são tantas as respostas sem fundamento que o senhor deu que dá a impressão que a cidade que você governa não é Cubatão".

Ele diz que, com relação aos altos salários que o Ademário comentou, seria bom ter alguma prova sobre isso. Que desconhece na estrutura que existia dos Grupos Artísticos de Cubatão alguém que recebesse R$ 12 mil reais. "Também seria bom provar, ou pelo menos indicar a prova, que poderia nos levar a algum músico que entrou em um dos grupos sem um edital anterior, com prova de seleção específica. Não dá pra acreditar que do alto da importância do cargo que você ocupa, desconheça o funcionamento do que foi um dos organismos [Grupos Artísticos] mais importantes da Secretaria de Cultura de Cubatão".

Ele termina questionando o prefeito Ademário: "Qual a proposta do seu governo para a retomada do atendimento cultural no município? Qual política pública cultural será adotada no lugar dos Grupos Artísticos de Cubatão? Acho que foi essa a pergunta do entrevistador e ficamos mais uma vez sem resposta".

Direitos de resposta
"Para a surpresa de todos, o prefeito Ademário falou tudo isso demonstrando uma total falta de informação do que eram os Grupos Artísticos. Ele citou meu nome também como funcionário público, que eu receberia como funcionário e como maestro da banda Marcial, num tom de denúncia, sendo ele prefeito e eu funcionário público. Então, eu também estive no podcast para responder no último domingo porque eu fui citado", disse o Maestro Alexandre Felipe Gomes, da Banda Marcial de Cubatão, um dos citados pelo prefeito no podcast.

O músico afirma que as falas de Ademário são informações inverídicas e prestam uma desinformação. Isso porque, segundo ele, praticamente tudo que ele falou estava fora do contexto e da realidade. 

"Ele falou que os grupos artísticos gastavam três milhões por mês e não era, era por ano. E na verdade ele falou que eram 280 artistas. Mas os Grupos Artísticos, além dos grupos de apresentação, de espetáculos, de desfiles, de dança, tinham os grupos de formação, um projeto que atendia centenas de alunos da cidade e da região, na formação musical, com vários instrumentos. Além da banda Marcial Infantil, que atendia centenas de crianças cubatenses que é um trabalho de voluntariado dos músicos da banda Marcial, voltada para a juventude cubatense. Então esse custo que ele falou aí de R$ 3 milhões, que na verdade era por ano, era baixíssimo em relação ao custo benefício", continuou.

Alexandre reafirma que os Grupos Artísticos são a grande tradição da cidade e que a informação de que ele recebe R$ 8 mil por mês é falsa e, na realidade, recebe uma ajuda de custo de R$ 2.500,00. E que, durante os 32 anos de ofício, foi denunciado no Ministério Público algumas vezes. Além disso, alerta que a informação de que 80% dos músicos não eram da cidade é falsa.

"Ele citou outros profissionais que receberiam de dez a doze mil, também inverídico porque o limite máximo de grupo artístico de ajuda de custo era R$ 3.200,00 e na lei que foi alterada nesse último modelo, tinha tabela de valores de todas as pessoas que executavam algum trabalho nos grupos. Então ele, até como ex-vereador, teria acesso facilmente a essa lei e aos valores que eram pagos. Se ele tinha essa informação de alguma irregularidade, também como prefeito, ele teria vários mecanismos de investigar a veracidade das informações maldosas que ele recebeu".

Ele então convida o prefeito para uma reunião "para que ele coloque seu pensamento, de como os grupos devem funcionar, quais são as políticas públicas voltadas para cultura e onde nós podemos atuar para que se encontre uma solução".

Já o Maestro Roberto Farias, fundador da Banda Musical de Cubatão que deu origem à Banda Sinfônica da cidade, afirma que trazer para Cubatão a discussão da aplicação da Lei Rouanet é totalmente inapropriado, pois os Grupos Artísticos de Cubatão, desde o surgimento da Lei, pouco se beneficiaram desse instrumento, já que as empresas preferem "investir" em eventos de grande visibilidade e que envolvam as grandes massas shows abertos e quase nunca em concertos ou programas de formação.

Ele também reitera o que foi dito pelo Maestro Alexandre de que a afirmação de que a Prefeitura gastava R$ 3 milhões por mês com os Grupos Artísticos é inverídica, dizendo que há muito tempo atuavam em torno de 220 artistas e os recursos anuais não passavam de R$ 2,7 milhões para 12 meses de atividades.

"Na fala do Senhor Prefeito, fica a impressão de que os artistas integrantes dos Grupos Artísticos queriam trabalhar sem registro em carteira, ou seja, optavam por essa prática, quando na realidade a deficiência era do próprio Poder Executivo que nunca se preocupou em criar um mecanismo legal para amparar a atividade artística de forma digna e justa".


O Maestro Roberto reitera que as afirmações do prefeito Ademário não têm sustentação. "Seria bom que recorresse aos documentos oficiais que estão no sistema da Prefeitura. Algumas acusações soam como 'armação' de alguém decidido a 'apimentar' a questão e semear a discórdia. Convidamos aqui o Senhor Prefeito Ademário da Silva Oliveira a um debate aberto, limpo e honesto".

Checagem
A tabela que figura como Anexo I da Lei n. 3232  de 4 de abril de 2008, com os salários dos Grupos Artísticos de Cubatão, mostra que os valores se mantiveram congelados, sem qualquer reajuste, por dez anos, até a paralisação dos Grupos da cidade em setembro de 2018. São eles:

QTD FUNÇÕES

V.h/Mês

1 Coordenador Técnico

R$ 3.200,00

1 Assessor de Comunicação R$ 1.500,00
1 Técnico em Transcrições Musicais R$ 1.500,00
1 Técnico em Captação de Recursos

R$ 1.300,00

1 Técnico em Elaboração de Projetos Artísticos R$ 1.000,00
1 Redator Musical R$ 900,00
1 Copista Musical R$ 900,00
3 Coordenador de Atividades Administrativas R$ 700,00
7 Montador R$ 400,00

A Prefeitura de Cubatão foi procurada pela reportagem do Portal BS9, mas até o momento desta publicação não houve resposta.

Confira no vídeo abaixo o que foi dito pelo Prefeito Ademário Oliveira.

 

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