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ENTREVISTA DE DOMINGO

O historiador, Welington Borges, conta algumas lendas e curiosidades sobre Cubatão

A cidade completa 73 anos de emancipação político-administrativa no próximo fim de semana

Por Matheus Rodrigues - Redação BS9

03/04/2022 - domingo às 00h00

O Portal BS9 conversou com o servidor público da Prefeitura Municipal - (foto: Arquivo Pessoal)

A cidade de Cubatão estará completando, no próximo sábado, dia 9 de abril, 73 anos de emancipação político-administrativa. O município era muito utilizado como ponto de referência (e de descanso) antes de jesuítas, autoridades e comerciantes seguirem seus caminhos e viagens para a capital do estado, São Paulo. Tanto que, o Rio Cubatão se tornou a principal via entre a Baixada Santista e a cidade grande.

O primeiro documento oficial que demonstrava a existência do município surgiu em 1533, por Martim Afonso. No entanto, apenas em 1949, devido ao seu crescimento do Distrito de Paz de Cubatão, a região conseguiu sua independência.

Antes disso, em 1833, a Regência Trina Permanente quis povoar, sem sucesso, a Fazenda de Cubatão, que oito anos depois, foi integrada a cidade de Santos. em 1947, a Via Anchieta foi construída e ali foi um dos primeiros índices de que Cubatão fosse ser independente (além disso, depois da emancipação, foi inaugurada a Companhia Siderúrgica Paulista, a Cosipa (atual Usiminas).

Em 1948, Os Emancipadores se organizaram e realizaram um plebiscito para conseguir sua autonomia no ano seguinte.

Para falar mais detalhes sobre Cubatão, o Portal BS9 conversou com o servidor público da Prefeitura Municipal, Welington Ribeiro Borges. O historiador, que é formado pela Universidade Católica de Santos, diz que aprofundou seus conhecimentos pelo munícipio após trabalhar no Arquivo Histórico de Cubatão.

Confira abaixo, as diversas curiosidades e lendas sobre a região que o historiador contou:

1 - A procissão dos mortos

A história original foi contada por Antonio Isidoro Trombino e a outra versão foi contada por seu filho, Setímio Fernando Trombino.

Conta-se que em noites escuras, com a descida da neblina, um caminhante desavisado lá nos finais da Avenida Nove de Abril, perto do Cruzeiro Quinhentista, via a Procissão dos Mortos, mudando-se do cemitério velho para o novo. Em fila, os fantasmas saíam de suas campas na área agora ocupada pela Refinaria, e seguiam pela avenida até o cemitério novo, no Sítio Cafezal. Na realidade, sabe-se que essa lenda nasceu de um fato verídico: em 1953, quando a Petrobrás apontou a área do Cemitério de Cubatão, entre o Caminho do Mar e a Calçada do Lorena, como a melhor localização para sua refinaria de petróleo, a Prefeitura adquiriu outro terreno, no antigo sítio Cafezal, para estabelecer seu cemitério; a antiga área fora destinada como campo santo, ainda pela Prefeitura de Santos, em 1902 (conforme documentos em posse do Arquivo Histórico), e o cemitério ali permanecia, até ser perturbado pelo progresso. Com a desapropriação do cemitério, houve a necessidade de exumar e identificar os corpos; relatos de antigos moradores dão conta de que essa foi uma tarefa extremamente desagradável e até horripilante: muitos corpos estavam semi-decompostos, muitos precisaram ser desmembrados com golpes de machadinha, para caberem nas urnas; o povo assistiu à saída dos caixões em caminhão aberto, e essas cenas ficaram na imaginação popular, criando o mito da Procissão dos Mortos.

2 - A figueira do negro enforcado

O “Sítio do Borba”, cujo nome provinha de um dos seus antigos proprietários, localizava-se no atual Parque Municipal Cotia-Pará. Na virada do século XIX, havia nele imensos canaviais que alimentavam o engenho do sítio com mão de obra escrava. Os cativos eram tratados com desumanidade. Quando o proprietário viajou para São Paulo, um de seus escravos incendiou o canavial e enforcou-se numa figueira-brava para fugir do castigo de seu senhor. Depois do incêndio, no local só vingava o capim-barba-de-bode, como se fosse uma punição ao dono para que seus crimes e torturas contra os escravos fossem lembrados pelas gerações futuras. O local deu passagem à via Anchieta, e a figueira, relíquia respeitada por todos, ao ser cortada, levou com ela a lembrança da crueldade humana no tempo da escravidão.

3 - O tesouro da casa grande

Diz a lenda que em meados do século XVIII usou-se com frequência um caminho de tropeiros alternativo localizado na Serra de Itutinga (trecho da Serra do Mar no vale do Rio Cubatão – Pilões), cujo traçado acompanharia o atual viaduto da via Imigrantes que atravessa o Rio Cubatão, em direção ao litoral. Essa rota alternativa seria um subterfúgio para driblar o pedágio cobrado pelos jesuítas em Cubatão (Porto Geral). Nesta rota tropeira, existia uma estalagem para os viajantes conhecida como Casa Grande feita de cal, areia e pedra, era uma espécie de rancho. Conta-se que as ruínas da fundação (base) ainda podem ser vistas em meio à densa floresta tropical. Certo dia, um jesuíta, incumbido de transportar o lucro de meses obtido com a cobrança do pedágio, partiu em direção a São Paulo com uma tropa de 20 muares e tropeiros pelo caminho de Itutinga, que julgava ser mais seguro contra assaltos de bandoleiros. Já na trilha nas imediações da Casa Grande, o padre fez questão de matar a sede dos tropeiros que, agradecidos, aceitaram prontamente. A água estava envenenada. Depois de tombar o último tropeiro, o jesuíta enterrou a valiosa carga perto da Casa Grande e desapareceu, com a intenção de retornar para buscar o tesouro. Porém, o padre nunca voltou e até hoje ninguém sabe a localização exata do Tesouro da Casa Grande.

4 - A capela para os Lázaros no sopé da terra

Essa história faz parte do imaginário popular de Cubatão, e foi descrita na década de 60 por Antonio Simões de Almeida. Conta-se que, no início do século XX, os habitantes do povoado de Cubatão notaram que um casal se estabelecera num dos contrafortes da Serra do Mar, à direita de quem ingressa na Estrada Velha, no ângulo oposto à Calçada do Lorena, numa área hoje ocupada pela Refinaria Presidente Bernardes. Este casal, não se sabe de onde originário, viera asilar-se na Serra em função de portar a Doença de Hansen, na época chamada de lepra ou doença de São Lázaro (uma antiga confusão entre o leproso Lázaro da parábola e o Lázaro, amigo de Jesus, irmão de Marta e Maria). Para evitar que eles esmolassem na vila, os cubatenses passaram a deixar seus óbolos numa subida da Serra, onde os dois pudessem recolhê-los: roupas, alimentos, sal, sabão, entre outros. Essa situação convinha a todos, pois nem o casal se expunha, uma vez que a doença era repugnante e desfigurante, nem os cubatenses tinham-nos a esmolar pelo povoado. Ambos eram vistos ocasionalmente, quando vinham buscar os donativos. Depois de algum tempo, notou-se que só o homem descia de seu refúgio. Mais tarde, os habitantes notaram que nenhum dos dois vinha buscar os donativos. Isso gerou curiosidade, que se materializou numa busca pelo casal. Logo se entendeu o sucedido: a mulher morrera, e o marido, mesmo debilitado pela doença, cavara a última morada da esposa com as próprias mãos. Aqui entra a dúvida: ele a enterrou e caiu morto sobre seu sepulcro, ou, sentindo-se agonizar, buscou partir junto da companheira? Sensibilizados pelo que viram, os cubatenses acabaram por erguer no local uma capela para São Lázaro. Essa capela subsistiu muitos anos, e contava-se que as velas acesas junto à sua parede não eram apagadas nem pelo vento Noroeste, típico da região. A capela foi demolida na década de 1960, a pedido da própria Petrobrás, por questões de segurança, já que a área era dominada agora por tanques de combustível, gerando o risco de explosão.

5 - A ponte do Casqueiro e a abolição


A história não conservou o nome de um sargento da polícia, que muitos serviços prestou à campanha da Abolição, em Santos, no anonimato de quem, pela farda que envergava, tinha o dever de condená-la e fazer-lhe oposição. Sua lembrança, portanto, é apenas ideal, mas os seus feitos principais vivem nas reminiscências da cidade e na gratidão dos contemporâneos. Há muitos casos ocorridos com o sargento, mas este é um dos mais pitorescos e interessantes. De São Paulo, naquele ano de 1883, descera a Santos um emissário da polícia para dar aviso da aproximação de uma grande leva de negros fugidos, ao delegado de Santos, para que este providenciasse a prisão dos fugitivos e sua reentrega aos senhores do interior. As escoltas de Jundiaí e Campinas diziam ser mais de quinhentos escravos, exagerando o número, certamente, armados de foice, que obedeciam a um cativo hercúleo, de nome Adão. A polícia de Santos, cumprindo as ordens recebidas, tomou suas medidas, e, além dos vigias escalados para Piassaguera, Quilombo e outras regiões, mandou uma forte escolta, sob o comando do nosso sargento, a guarnecer a cabeceira da ponte do Casqueiro, com ordem de trancar a qualquer custo aquela passagem. As ordens eram terminantes: nenhum escravo deverá transpor aquela ponte! E, assim, lá se foi para o Casqueiro a escolta de trinta homens, armados de carabinas de guerra. Realmente, depois de longos dias de penosa marcha, por impérvias florestas e terríveis grotões e sangradouros, serras ásperas, trancadas, agressivas, homens, mulheres, velhos e crianças, famintos, cansados, fracos, em farrapos, trezentos escravos, míseros componentes da caravana fugitiva, sob o comando de Adão, ainda trazendo no ouvido o tropel dos perseguidores de serra acima, surgiram na base do Cubatão, ao princípio da velha estrada que corria, para a terra livre de Santos, onde estava o Jabaquara. Qual outro Moisés, o negro Adão caminhava à frente dos canhemboras, decidido a tudo, em defesa de "sua gente". Aproximavam-se os míseros da ponte do Casqueiro. Um estafeta fora mandado à frente, e voltava ao Adão, com a triste nova de que a ponte estava guarnecida de um batalhão de polícia... armado até os dentes. Pobre Adão! Que desconsolo apoderou-se dele; dele que tinha sido forte até ali, quando a liberdade já sorria, a todos, após tantos e tão longos dias de fome e caminhada, após tantas mortes pela agrura do percurso. Pela primeira vez, os companheiros viram nele uma lágrima. Aquelas crianças... aquelas mães... aqueles filhos... Seria o que Deus quisesse, pensou Adão, e a coluna fugitiva continuou sua marcha estropiada, arrastada, em demanda da ponte. Ali estava agora, a algumas dezenas de metros do bando, o Casqueiro, e sobre ele, aberta na direção de Santos, a Canaã, a ponte da Esperança... mas lá estavam também, inexoráveis, os trinta homens da polícia, armados e embalados. O Adão surgiu na cabeceira da ponte. Vinha caindo a noite, e uns assobios estranhos soavam lá de baixo, da ribanceira calma e profundamente silenciosa do rio. A voz do sargento comandante estrugiu no silêncio:

- Soldados! Preparar!

O Adão viu-o encaminhar-se sozinho, em sua direção, e tremia de emoção; viu-o chegar à distância de vinte metros e gritar novamente, para ele e sua gente:

- Aqui nesta ponte ninguém passa! São ordens! Ninguém passa! - mas, em seguida, abaixando a voz, acrescentou:
- Mas passem por baixo dela... por ali, nas canoas, estão os abolicionistas... vão com eles... vão com Deus!...

O Adão não resistiu, caiu de joelhos e chorou pela segunda vez:

- Deus seja louvado! - disse o negro, levantando-se e voltando para os seus.

De fato, disfarçados em pescadores, lá estavam, no rio, dezenas de abolicionistas com suas canoas, prontos a levar os fugitivos para a terra da liberdade, para a Canaã santista, e eram eles que assobiavam de longe para os canhemboras do Adão. O sargento de polícia cumprira o seu dever, ao pé da letra; pela ponte, em verdade, não passara ninguém. Não desrespeitara as ordens superiores, não desonrara sua farda e, nessa mesma noite, o "Jabaquara", o quilombo santista, contava mais trezentos moradores, livres, inteiramente livres, como os seus libertadores.

6 - Denominações antigas das velhas ruas e caminhos de Cubatão

Largo do Sapo ainda é a forma como a população cubatense chama uma das praças do município. Como esse, outros nomes folclóricos já batizaram vias de Cubatão, como registra o Jornal de Cubatão.  Com as novas gerações que vêm surgindo, o nosso passado vai caindo no esquecimento. Quem sabe hoje que tivemos uma rua conhecida por "Pito Aceso" e uma travessa com o nome de "Perna Grossa"?

A Rua do Pito Aceso de outrora é a atual Rua 13 de Março. No anoitecer do século passado e na madrugada do presente (séculos XIX e XX), os moradores dessa rua, homens e mulheres, eram considerados na povoação como empedernidos fumadores. Havia uma pedreira ali existente, pela antiga Diretoria de Estradas de Rodagem, e a rua passou a ser conhecida por Rua da Pedreira; isto ocorreu depois do ano de 1923. A partir de 1949, foi-lhe dado o nome de Rua 13 de Março.

A Travessa da Perna Grossa era o nome da Rua 15 de Agosto. No início deste século (século XX) veio residir nesta rua um casal italiano. Chamava-se o marido Escabelle Francisco e a mulher, Emilia Escabelle. Este italiano era conhecido na povoação pelo apelido de "Quique" e a mulher, Emília do "Quique". Ela era possuidora de pernas grossas e formosas, no dizer dos coevos. Tão reputadas e tão faladas, que mais depressa o povo se lembrou de chamar aquela rua de Travessa da Perna Grossa. Chamou-se depois de 1923 até o ano de 1949, travessa da Pedreira, quando a Câmara Municipal lhe pôs a atual denominação de Rua 15 de Agosto.

Tivemos a Rua do Porto, nome que tomou devido à existência dos portos de areia beirando o rio. Como as duas primeiras ruas, no referido ano de 1949, por lei votada pela Câmara Municipal, recebeu a denominação de Rua 17 de Outubro. Praça Coronel Joaquim Montenegro, chamou-se a princípio, em tempos remotos, "Praça do Cubatão". Depois teve o nome de "Largo do Sapo". Finalmente, foi-lhe dado o nome que conserva até hoje, em reconhecimento pelos melhoramentos realizados neste logradouro pela Prefeitura de Santos, na época em que era prefeito do município o cel. Joaquim Montenegro. "Largo do Sapo" foi assim chamado porque, antes do aterro efetuado na praça, quando das "marés altas" ficava em parte alagada, dando motivo à proliferação de batráquios que pela noite afora entoavam as suas tristes árias.

A estrada entre Cubatão e Santos, construída no governo do primeiro presidente da Província de São Paulo, Lucas Antônio Monteiro de Barros, e inaugurada no dia 7 de fevereiro de 1827, no trecho entre o Rio Cubatão e as imediações da antiga Fábrica de Produtos Químicos, era conhecido como o Caminho do Capivari. Depois que os ingleses construíram e entregaram ao público, no dia 12 de maio de 1867, a atual Estrada de Ferro de Santos-Jundiaí, passou a chamar-se Caminho da Estação.

O velho Caminho do Capivari, batizado com o nome de Avenida Nove de Abril, deveria chamar-se Avenida "Caminho da Liberdade", ou "Avenida da Liberdade", relembrando, com uma destas denominações, a epopéia da Abolição. O Caminho da Porteira ou do Cubatão de Cima, adiante do "Cruzeiro Quinhentista", seguia o traçado da atual Avenida das Indústrias, e o caminho da fábrica de papel, até encontrar a margem esquerda do Rio Cubatão, um pouco adiante do Rio das Pedras.

O Caminho do Itutinga, ou dos Pilões, tinha começo onde está a estação da estrada de ferro, prolongando-se em direção de Oeste, até encontrar a margem direita do Rio Cubatão, continuando na outra margem, alcançando desse lado a Barra dos Pilões. O meio de locomoção de que se serviam os sitiantes da margem esquerda para a travessia do rio era a cavalo e o carro puxado por bois. O leito deste caminho foi ocupado pelo tramway (linha de bonde) da Cia. City, atualmente pertencente ao SASC (Serviços de Água de Santos e Cubatão).

Nos fins do século XVI, atravessando as sesmarias de Francisco Rui Pinto, foi aberto um caminho chamado "Caminho do Moji", que depois de 1840 foi conhecido pelo nome de Caminho do Cafezal. Vai da Praça Cel. Joaquim Montenegro até ao bairro de Piaçagüera. O local onde foi construído o "Cruzeiro Quinhentista", entre os anos de 1914 e 1922 foi conhecido por "Jabaquara". Originou-se o nome pelo fato de residirem naquele ponto, nos referidos anos, várias famílias de cor.

7 - O bairro das Bananas

Antes de ganhar a denominação de bairro Vila Nova, a região entre a Via Anchieta e a Avenida Nove de Abril (então Avenida Bandeirantes), e a faixa de canalizações de adutoras, era ocupada por manguezais, bananais e alguns sítios. Havia também uma pequena vila com uma capela próxima ao Curtume, além de olarias. A área era integrada por uma parte do Sítio Piaçagüera, pelos terrenos denominados lotes 14 e 15 (com área de 269.900 m²) e por pequeno lote adquirido pela vendedora da Companhia Santista de Papel. Naquela época, devido às condições climáticas favoráveis, o cultivo da banana era um produto de grande expressão econômica em toda a Baixada Santista. Em Cubatão, a cultura da banana foi introduzida por Henrique Muniz de Gusmão Brunken, posteriormente generalizou-se por todos os sítios da localidade. Em 1949, a lei nº 12 sancionou feriado municipal o dia 13 de setembro para comemorar o "Dia da Banana". Em 1953, ela foi revogada. Ao lado da atividade agrícola, a extração de areia e as pedreiras, compunham outra fonte de renda par a cidade e cuja prática ainda subsiste. Reconhecendo a importância histórica da economia municipal, desde 2002 no mês de março é comemorada a "Festa da Banana" e o aniversário do bairro Vila Nova.

8 - Quando Dom Pedro II passou pela vila de Cubatão

Foram duas vezes: em 1846 e em 1876. Durante seu longo reinado, o imperador D. Pedro II visitou várias províncias brasileiras e, entre elas, esteve na de São Paulo, por duas vezes: em 1846 e 1876. Em ambas veio com sua esposa D. Teresa Cristina. Segundo informações de Azevedo Marques em Apontamentos etc., Tomo II, p. 305 e seguintes, o casal imperial na primeira visita chegou a Santos no dia 18 de fevereiro de 1846. Depois de conhecer a cidade, no dia 25 às 6 horas da manhã, foram para S. Paulo em coches, acompanhados do presidente da província, membros da Assembléia Provincial e outros. Almoçaram no Cubatão e a cavalo subiram a serra, no topo da qual achava-se levantado um arco. Pernoitaram no Ponto Alto, onde foram cumprimentados pelo Senador Vergueiro e o deputado Rafael Tobias entre outros. Após visitarem S. Paulo conheceram várias vilas e cidades como Sorocaba, Porto Feliz, Itu, Campinas, Jundiaí e outras. No dia 13 de abril, já de regresso, veio o casal imperial para Santos e chegaram à barreira do Cubatão à uma hora da tarde. O presidente da Câmara Municipal e o administrador da barreira tinham providenciado um jantar para os viajantes. Partiram em coche e chegaram às 3 horas em Santos, de onde embarcaram no dia seguinte para o Rio de Janeiro. A segunda visita à Província de São Paulo foi feita em 1876, após 29 anos da primeira. Desembarcaram, como da outra vez, em Santos, a 17 de agosto, sendo festivamente recebidos. Da estação da Estrada de Ferro, partiram à tarde para a Capital e aí chegaram às 6 horas. Depois de percorrerem algumas vilas e cidades (quase as mesmas da primeira vez), regressaram dia 29 de agosto, pela manhã, de trem, chegando a Santos no começo da tarde. Em Santos visitou muitos locais e instituições. "No dia 30 o Imperador examinou no sítio do Casqueirinho as sepulturas fósseis que ali existem". Nesse mesmo dia, embarcaram de regresso à Corte onde chegaram no dia 31.

9 - História do Carnaval cubatense

Esta pesquisa foi preparada em janeiro de 2008, por Carlos Pimentel Mendes. Acredita-se que João Ramalho tenha sido o introdutor em Cubatão dos festejos carnavalescos, quase cinco séculos atrás. Ele teria trazido para Cubatão o entrudo português, difundindo assim entre os indígenas essa festa antecessora do Carnaval.

"Porém, é no século XIX que ele conquista maior expressividade para a população local, sendo celebrado com limões-de-cheiro, lança-perfumes, confetes, serpentinas e luxuosas fantasias dos sitiantes da região e das filhas ou netas dos barões da banana e da mexerica que freqüentavam as festas que aconteciam na avenida da praia do Gonzaga", em Santos, como citam em seu livro Cubatão, a Rainha das Serras, os pesquisadores César Cunha Ferreira e Marildo Passerani.

Os primeiros clubes esportivos cubatenses, além do futebol, organizavam bailes para reunir a juventude, a exemplo do Esporte Clube e da Sociedade de Socorros Mútuos de Cubatão, que reuniam a comunidade, no Centro. Em seu livro Cubatão: história de uma cidade industrial, a pesquisadora Celma de Souza Pinto cita que "a Banda do Corpo de Bombeiros de Santos era chamada para animar os bailes da Sociedade, e muitos lembram que, quando a banda chegava na estação, já descia tocando e continuava até o local da festa, acompanhada pelos moradores".

Ela continua: "Mas os bailes não tiveram início com os clubes. Godofredo Schmidt relata que, por volta de 1911, nas casas mais abastadas havia um fonógrafo", e era ao som de seus discos que se dançava, quando não havia sanfona. "Em certa ocasião, em que a dona da casa só tinha o disco do Barão do Rio Branco sobre a questão dos limites com a Bolívia, a vontade de dançar era tanta que dançou-se ao som do discurso mesmo".

Cabeções - Os bailes mais concorridos eram no Comercial Santista, da Fabril, e o pessoal ia a pé até lá para participar. "Da Fabril também saíram os grupos carnavalescos de maior sucesso da região, o Bloco dos Cabeções e o Rancho Carnavalesco Coluna da Sorte, ambos da década de 30".

Segundo a pesquisadora, o Bloco dos Cabeções reunia pessoas fantasiadas com enormes cabeças feitas de papel e moldadas em barro, e que após rápida passagem por Cubatão, se apresentavam em algumas ruas do centro de Santos, onde então desfilavam os blocos e os corsos carnavalescos.

Raul José Sant'Ana Leite, um dos organizadores dos Cabeções, relatou que "O fino do carnaval em Santos era no centro da cidade (Praça Rui Barbosa, Rua João Pessoa, Rua Senador Feijó, Praça José Bonifácio, onde as agremiações carnavalescas desfilavam (ranchos, blocos e outras categorias), arrancando aplausos da multidão que se comprimia nas calçadas e nas sacadas residenciais. As agremiações mais aplaudidas nos desfiles de rua apresentavam-se, posteriormente, nos amplos salões do Teatro Coliseu (esquina da Rua Braz Cubas com a Amador Bueno), onde disputavam o título de campeã".

Ainda informações de Celma: "Em 1937 e 1938, o Bloco dos Cabeções ganhou o título de campeão seguido da Coluna da Sorte, vice-campeã. Essas vitórias tornaram-se um marco para os carnavalescos de Cubatão devido à concorrência com blocos organizados de Santos. Outras vilas, como a Light e a Raiz da Serra, organizavam blocos carnavalescos apenas para animação local."

No Carnaval do então distrito de Cubatão, relatam por sua vez César e Marildo, "destacava-se a Banda da Furiosa, que se apresentava no prédio da Sociedade dos Socorros Mútuos, onde hoje abriga o Posto do GNV, na atual Avenida Nove de Abril, com seus concursos de fantasias."

"Os bailes deixaram de ser realizados em seu salão e espalharam-se pela cidade: E.C. Cubatão, Associação Atlética Guimarães, E.C. Jardim Casqueiro, Someca, Clube Atlético Usina de Cubatão e Comercial Santista Futebol Clube". E os dois pesquisadores continuam: "Do Bloco dos Cabeções nasceram as escolas de samba. Foi instituído o concurso para a escolha do Rei Momo e da Rainha do carnaval e, nesse ambiente, as escolas apresentam-se para competirem nos concursos na avenida. As principais escolas são Escola de Samba Nove de Abril, Escola de Samba Independência, Escola de Samba Nações Unidas, Escola de Samba Serrana e Escola de Samba de Vila Paulista. Existe ainda o trio elétrico liderado pela rainha do carnaval e pelo rei Momo".

César e Marildo destacam o Bloco dos Cabeções, surgido na década de 1950 na Vila Fabril da Companhia Santista de Papel: "Introduzido pelo irmão de Raul Santana Leite, ex-presidente da Câmara e do bloco, foi inspirado na esta de Bom Jesus de Pirapora. Os bonecos cabeções lembravam também os imensos bonecos nordestinos da Loura do Cemitério dos Bezerros, em Pernambuco.

"Tradicionalmente, os foliões saíam da Vila Fabril rumo à cidade, cantando: 'Vem ver, minha gente, vem ver o nosso bloco como vai brilhar, vem ver o nosso bloco da folia'".

"Em 1937 e 1938, a pequenina Vila Fabril levou dois ranchos carnavalescos (Cabeções e Coluna da Sorte) a serem campeões do carnaval santista. Nos carnavais do final da década de 1950 e início da de 1960, o Bloco dos Cabeções finalizava seu desfile na Avenida Joaquim Miguel Couto, em frente à casa do prefeito Abel Tenório, onde eram recebidos como reis pela autoridade municipal".

"Em 1961 e 1962 – conclui Celma -, o Bloco dos Cabeções mudou a denominação para Rancho Carnavalesco Cabeçudos da Baixada, se reorganizou e se apresentou novamente em Santos obtendo a preferência do público nos dois anos. No entanto, como Cubatão já se tornara município, ficaram em segundo lugar por serem 'gente de fora'. Mesmo sem o título conseguiram o respeito no carnaval da Baixada Santista. Em 1962, o bloco encerrou definitivamente suas atividades".

Nos anos seguintes, poucas novidades registradas, apenas o crescimento das escolas de samba do município, a continuidade dos bailes nos clubes populares e a realização de "caldeirões de momo" em alguns bairros, além da passagem de trios elétricos. Em 1990, o Carnaval teve caráter de divulgação ecológica e da cidade.
 

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