Felipe Sampaio
29/05/2025 - quinta às 15h00
Se Noberto Bobbio acertou ao escrever que “os fins da Política são tantos quantas são as metas […] de acordo com os tempos e circunstâncias”, não será exagero pensar que o Brasil encontrou em sua história recente um professor no assunto. O ex-Ministro Raul Jungmann recebeu o título de Doutor Honoris Causa do Instituto de Desenvolvimento, Ensino e Pesquisa – IDP. Desse modo, seu fundador Gilmar Mendes, decano da Suprema Corte, deu reconhecimento ao papel do homenageado na Política brasileira.
Afinal de contas, foi com militância e trabalho que o Raul conquistou a rara condição de ser chamado de Político. Com ‘P’ maiúsculo mesmo, para que não confundamos com as frivolidades da política com ‘p’ minúsculo com as quais o noticiário nos espanta, mas já não surpreende (basta ver a naturalidade com que uma rajada de insultos foi disparada contra a Ministra Marina Silva em pleno Parlamento).
Em seu discurso de diplomação, Jungmann foi sútil e afirmativo ao parabenizar o Judiciário e as Forças Armadas por suas posições decisivas para a Democracia nesses últimos anos. Compareceram ministros do STF, o ministro das Minas e Energia, ex-ministros da Justiça, parlamentares, juristas, militares, sociedade civil e imprensa.
Tive a sorte de ser estagiário, em 1990, de um think tank que o Raul fundara em Recife – o IDEC Instituto de Estudos da Cidadania. O cara já atuava ao mesmo tempo em temas tão diversos como a ressocialização de jovens da Funabem, economia do Nordeste ou educação de adultos, enquanto dirigia uma federação nacional de secretários municipais de educação e coordenava projetos de ongs internacionais. Naquele prédio art déco, você podia esbarrar com o ainda Senador Fernando Henrique, a socióloga Ruth Cardoso, o governador do Ceará Tasso Jereissati, ou Paulo Freire.
Já em 2018, o Raul reuniu sua equipe do Ministério da Defesa para discutir o convite do Presidente Temer para estruturar um novo Ministério da Segurança Pública. Daquela conversa participaram o chefe de gabinete Alessandro Candeas (que se tornou Embaixador do Brasil na Palestina durante a crise de Gaza), o economista Flávio Basílio, (futuro SENASP que idealizaria as fontes financeiras do Fundo Nacional de Segurança Pública), o assessor de comunicação João Bosco (ex-diretor do Estadão por 20 anos), o Brigadeiro Tadeu Fiorentini (futuro Chefe do Estado Maior da FAB) e eu, como Chefe da Assessoria.
Precipitados, fomos unânimes em opinar que seria mais tranquilo permanecer na Defesa, naqueles últimos meses de governo, do que assumir a turbulenta Segurança Pública. O que nós não sabíamos é que o Raul já havia aceitado o convite! Tínhamos esquecido que, assim como Tancredo Neves, ele entendia que “a Pátria não é a aposentadoria dos heróis”. Ou, como diria seu conterrâneo Eduardo Campos, “se fosse fácil, não seria conosco”. Entre suas contribuições na Segurança Pública deixou o Estatuto do Desarmamento, a abertura das investigações do caso Marielle Franco, a criação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e a oficialização das loterias como fonte regular de recursos para a Segurança Pública.
Foi Secretário de Planejamento de Pernambuco, secretário-executivo do Ministério do Planejamento (onde viu de perto a implantação do Plano Real), Presidente do IBAMA e do INCRA, Ministro da Reforma Agrária (quando foram assentadas meio milhão de famílias), Deputado Federal, Ministro da Defesa, Ministro da Segurança Pública, fundou o Centro Soberania e Clima, é membro do Conselho do CEBRI e preside o Instituto Brasileiro de Mineração IBRAM.
Afinal, o Raul é aquele tipo de pessoa que Ted Roosevelt chamaria de “o homem que se encontra na arena, com a face suja de poeira”. Sabe que na democracia moderna “os cargos públicos têm a ver com trabalho e não com poder”, como costuma dizer Flavio Dino, também presente à diplomação no IDP.
Felipe Sampaio: Cofundador do Centro Soberania e Clima; dirigiu o Instituto de Estudos de Defesa no Ministério da Defesa; ex-secretário executivo de Segurança urbana do Recife; foi diretor do sistema de estatísticas do Ministério da Justiça; atuou em grandes empresas e 3º setor; foi empreendedor em mineração, colabora com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
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