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ONU, para quê e para quem?

Felipe Sampaio

10/07/2025 - quinta às 15h53

No nível mais alto de gestão desse condomínio ficam aquelas 05 famílias fundadoras, com direito de vetar qualquer proposta que as desagrade

 

A resposta é óbvia: para tudo e para todos. O problema é que não tem nada mais complicado de explicar do que o óbvio. A sinuca de bico em que a ONU está metida atualmente é um bom exemplo. A rigor, o próprio nome da Organização das Nações Unidas é autoexplicativo e já dispensaria gastar caneta com este texto. Acontece que, em uma associação formada por quase 200 países, sempre vai haver um punhado de nações desunidas.

 

É como um bairro onde existam umas 200 casas espalhadas por 05 ruas. Aí uma desavença arrasta umas 30 dessas famílias moradoras de diferentes ruas do bairro, que começam a invadir as outras casas, agredir os vizinhos e roubar o que encontrarem. Depois de anos de confusão, as 05 principais residências vencedoras da briga resolvem formar um condomínio chamando as 200 casas, para restaurar a paz e a cooperação. Para isso, criam comitês temáticos para atenuar qualquer problema que possa desencadear outro destempero violento no bairro, desde a segurança até o meio ambiente, passando por saúde, educação, cultura, direitos etc.

No nível mais alto de gestão desse condomínio ficam aquelas 05 famílias fundadoras, com direito de vetar qualquer proposta que as desagrade. No início parece fácil, mas é natural que, com o passar do tempo, novos assuntos e novas discordâncias surjam e o condomínio perca influência sobre as 200 casas. Seria o caso de extinguir o condomínio ou de reorganizá-lo? Que tal compartilhar a gestão superior com mais moradores e incorporar os novos temas?

Foi assim que a ONU chegou até aqui. Em um mundo com quase 200 países, a Segunda Guerra Mundial envolveu mais de 30 nações dos 05 continentes, deixando cerca de 60 milhões de mortos. Os 05 principais vencedores – EUA, União Soviética, Reino Unido, França e China – criaram o condomínio ONU que abriga todas as nações do planeta, para se estabelecer um ambiente harmônico e construtivo. Com o tempo, o tecido geopolítico esgarçou e agora os membros dessa vizinhança global se dividem quanto ao futuro da Organização e da própria humanidade.

 

Com o fim da Guerra Fria, vem caducando o modelo de economia globalizada que alinhavara a paz econômica nos 05 continentes desde os anos 1950. Um dos cordões que costurava esse tecido era justamente a mão amiga da ONU, com outros fóruns multilaterais como OMC, OCDE, G7 e G20 (o outro cordão ainda é o braço forte do Tio Sam). Cabe destacar que o papel da ONU vai além de mediar conflitos militares por meio do seu restrito Conselho de Segurança. Abrange temas que constituem toda a malha de entendimentos entre os países e até mesmo dentro deles. Assim, pode-se resumir a missão da ONU em três frentes estratégicas – paz, desenvolvimento humano e meio ambiente. Dito de outra forma, a ONU trata de mazelas como: guerras, fome e aquecimento global.

O problema é que os 05 fundadores, às voltas com a nova ordem política e econômica mundial, botaram a ONU na geladeira antes de terem outra alternativa de condomínio de diálogo entre as nações (se é que querem isso no momento). Enquanto países como EUA, Rússia e Israel desdenham da importância da ONU, outros como Brasil e Índia ainda apostam na ampliação de cadeiras – para os países em desenvolvimento – no Conselho das nações ‘por enquanto’ unidas.

 

Vale observar que, ao criticar a ONU, a seu modo o presidente Lula procura acordar os demais condôminos para a urgência de se revigorar os princípios fundantes da Organização, em tempos de mudança climática galopante e desglobalização caótica.

 

Felipe Sampaio: Cofundador do Centro Soberania e Clima; atuou em grandes empresas e 3º setor; foi empreendedor em mineração; dirigiu o Instituto de Estudos de Defesa no Ministério da Defesa; ex-diretor do sistema de estatísticas do Ministério da Justiça; foi secretário executivo de Segurança Urbana do Recife.

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