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O Vale do Silício vai à guerra

Felipe Sampaio

21/08/2025 - quinta às 14h46

Não é à toa que o governo americano está tão descontente com a Justiça brasileira, especialmente por causa dos limites dados ao ‘liberou geral’ das redes sociais. O STF atirou no discurso de ódio e em crimes como pedofilia, mas acertou nas big techs que controlam essa ‘terra de ninguém’ em que se tornou o universo digital.

 

E não se trata de uma preocupação do Tio Sam com a liberdade de expressão do cidadão de bem ou com a democracia. O fato é que as grandes empresas de tecnologia entraram de cabeça no sistema de Defesa ianque. O mesmo acontece em Israel, China e Rússia. As big techs tornaram-se uma espécie de batalhões da guerra do futuro, a serviço das forças armadas e dos serviços de inteligência mais poderosos do mundo. Mais uma vez, a guerra rende bilhões de dólares.

 

E não é apenas modo de dizer. Deu no New York Times (01/05/25) que os militares israelenses criaram um verdadeiro batalhão tecnológico, a Unidade 8200 – mais conhecida como ‘O Estúdio’ – por onde circulam reservistas egressos da Microsoft, Google e Meta (dona do Facebook, Instagram e Whatsapp). Foi assim, por exemplo, que Israel localizou e matou o líder do Hamas Ibrahim Bari, em 2023. O problema é que a mira da IA ainda carece de calibragem e o bombardeio levou junto a vida de 125 civis palestinos, incluindo mulheres e crianças. A culpa é do botão ou do dedo?

 

Nos EUA a coisa está ainda mais impressionante. O Pentágono criou uma força militar chamada Destacamento 201, composta por executivos e especialistas em TI das principais big techs americanas que receberam a patente militar de tenente-coronel. Mas o movimento não é de agora. Há dez anos atrás foi criada no Vale do Silício a Unidade de Inovação de Defesa, inaugurada com direito a discurso do Secretário de Defesa de então.

 

Segundo outra reportagem do NYT republicada pelo Estadão nos últimos dias, as principais big techs estão fechando contratos milionários com o Departamento de Defesa dos EUA. Meta, OpenAI, Google e também empresas menos conhecidas do setor como Palantir, ou startups como a Anduril e aceleradoras como a Y Combinator.

 

Nesse cenário de simbiose entre Vale do Silício e Pentágono os recrutamentos acontecem também no sentido contrário. O general Paul M. Nakasone, ex-chefe da Agência de Segurança Nacional, por exemplo, torou-se membro do conselho da OpenAI, criadora do ChatGPT. Da mesma forma, grandes investidores então indo atrás dos militares e das big techs para apostarem sua grana nos novos negócios tecnológicos de Defesa.

 

É o caso da Andreessen Horowitz que reservou US$500 milhões para investimentos em Defesa. Por sua vez, segundo o New York Times, a Anduril, que projeta armas com suporte de IA, assinou um contrato de US$ 642 milhões com os Fuzileiros Navais americanos e US$ 250 milhões para defesa aérea com o Departamento de Defesa. Ao todo, a já Anduril alavancou uns US$ 2,5 bilhões em novos financiamentos.

 

O envolvimento das big techs com a Defesa visa a responder aos avanços tecnológicos chineses e russos. Segundo o Vice-Presidente dos EUA, “Não devemos ter medo de novas tecnologias. Na verdade, devemos procurar dominá-las e certamente é isso que este governo quer alcançar”. Nesse pacote, está a fabricação de armas movidas a IA, mas também a produção e o tratamento de dados e informações que alimentam os novos sistemas de inteligência e os modelos preditivos para fins militares, políticos e econômicos.

 

Felipe Sampaio: Cofundador do Centro Soberania e Clima; dirigiu o sistema de dados e estatísticas do Ministério da Justiça; ex-diretor do Instituto de Estudos de Defesa no Ministério da Defesa; foi secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife; atuou em grandes empresas e 3º setor; foi empreendedor em mineração.

 

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