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O capitão ianque da Nau Catarineta

Felipe Sampaio

24/07/2025 - quinta às 11h00

Trump não conhece História nem canja de galinha, tampouco prudência

 

Ariano Suassuna teria contado ao “capitão-general da Nau Catarineta” estadunidense a diferença entre governar a maior potência do planeta e tocar os negócios do pai em Nova Iorque. A primeira lição seria de História: até na Guerra Fria foi possível haver diálogo. Havia uma linha telefônica direta entre a Casa Branca e o Kremlin, o telefone vermelho, para que os dois maiores líderes mundiais se entendessem sempre que uma crise fosse descambar para o fim do mundo (ou dos mercados…).

 

Trump não conhece História nem canja de galinha, tampouco prudência. Para dirigir uma nação com um mínimo de juízo é preciso manter um olho no para-brisa e outro no retrovisor. Simplesmente metendo o pé no acelerador, não tem air bag que ajude. Nas duas décadas seguintes à Segunda-Guerra, com os hormônios ainda à flor da pele, os vencedores viviam aos esbarrões. De um lado o Tio Sam (e seus franqueados europeus) e de outro Moscou (e sua quase amiga China).

 

Foi assim nos anos 1950 e 1960 – na Alemanha dividida, na Coreia, Vietnam, Oriente Médio, América do Sul e na África. No entanto, a Guerra Fria esquentou mesmo foi quando Fidel Castro tomou Havana. Após tentativas americanas desastradas para recuperar seu quintal cubano, os soviéticos aliados de Fidel reagiram com a instalação de plataformas para o lançamento de mísseis nucleares na ilha.

 

A crise durou 13 dias, entre ameaças e acordos trocados por Kennedy e Kruschev pelo telefone vermelho. Barrados pela marinha ianque, os navios soviéticos que traziam os mísseis deram meia volta, após JFK se comprometer a também recuar seus foguetes instalados na Turquia. Ambos sabiam que a geopolítica é uma Nau Catarineta, que não aguenta tempestade. Cuba sofre com o bloqueio americano e o abandono russo até hoje.

 

Nos últimos 80 anos Washington tem cercado seu quintal latino americano, não hesitando, para isso, em financiar uma dezena de golpes de Estado, inclusive em democracias consideráveis como Brasil, Chile e Argentina. O problema é que o quintal americano cresceu demais mundo afora, costurado pela economia globalizada e por uma rede de organismos multilaterais – financeiros e políticos – sob a mira onipresente de um Pentágono onipotente.

 

Trump surge em plena desglobalização, num mundo que já não aceita se dividir entre Ocidente ou comunismo. Em tempos de inteligência artificial a dele ainda é mecânica, como naqueles pocket books de autoajuda encontrados em bancas de revista. Não consegue distinguir quem nascerá primeiro – o ovo ou a serpente. O planeta é sua galinha dos ovos de ouro (se abri-la vai tomar um susto).

 

Nesse cenário, o MAGA é um anacronismo. Trump padece da ilusão (fora de moda) de que o mundo é o quintal do seu boné, o que pode explicar sua crença de que o Brasil é seu parquinho. É bem verdade que não está errado quando vê o BRICS como um lampejo da Nova Ordem mundial. Contudo, erra quando quer expulsar os chineses da América e isolá-los nos mercados globais com ameaças, chantagem e blefes. Nesse jogo de gente grande, Trump continua um “Aprendiz”. Não tem a estatura de uma Margaret Tatcher e pensa que o Brasil é as Ilhas Malvinas. O que fizer aqui vai ressoar política e economicamente nos EUA e alhures.

 

Impressiona que a direita da Terra da Santa Cruz embarque nessa Nau Catarineta – sem destino e sem futuro – em que restará aos navegantes entregar a alma ao diabo ou o corpo ao mar. O Presidente Lula está correto em seu posicionamento firme. Afinal, como diria Ariano, “não troco meu oxente pelo ok de ninguém”.

 

Felipe Sampaio: Cofundador do Centro Soberania e Clima; foi empreendedor em mineração; atuou em grandes empresas e 3º setor; dirigiu o Instituto de Estudos de Defesa no Ministério da Defesa; ex-diretor do sistema de estatísticas do Ministério da Justiça; foi secretário executivo de Segurança Urbana do Recife.

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