Carolina Brites
04/07/2025 - sexta às 15h53
Campanha nacional chama atenção para a prevenção, diagnóstico precoce e vacinação contra doenças silenciosas que podem evoluir para cirrose e câncer de fígado
Nem sempre o corpo manifesta de forma clara que algo está errado. Algumas doenças agem de maneira silenciosa, avançando lentamente até provocarem danos graves e, muitas vezes, irreversíveis. É com o objetivo de combater esse silêncio perigoso que surgiu o Julho Amarelo, mês de conscientização sobre as hepatites virais — infecções que acometem o fígado e que, se não forem diagnosticadas e tratadas a tempo, podem evoluir para cirrose hepática ou câncer de fígado.
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 700 mil pessoas vivem com hepatite C no Brasil, muitas sem saber. Já a hepatite B atinge números igualmente preocupantes: estima-se que uma em cada 30 pessoas no país já teve contato com o vírus. Em escala global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que cerca de 1,1 milhão de pessoas morrem todos os anos por complicações causadas pelas hepatites virais.
Na faixa etária pediátrica, o cuidado deve ser redobrado. A infectologista pediátrica Carolina Brites explica que os tipos A e E são os mais prevalentes entre as crianças, principalmente por questões relacionadas à falta de saneamento básico. "Brincar em águas contaminadas ou consumir alimentos sem higiene adequada aumenta muito o risco de contaminação", alerta. Já entre adolescentes, os tipos B e C preocupam, principalmente em casos de relações sexuais sem proteção ou uso compartilhado de seringas e objetos cortantes.
A boa notícia é que existem vacinas para prevenir duas das hepatites mais importantes. "A hepatite B tem vacinação obrigatória desde o nascimento. Já a hepatite A também está disponível no SUS, aplicada aos 15 meses. Quem puder, pode complementar com um esquema de duas doses pagas, aos 12 e 18 meses", orienta a especialista.
No entanto, a subnotificação ainda é um dos principais obstáculos no combate às hepatites. Segundo a médica, isso ocorre porque muitas pessoas, inclusive crianças, não apresentam sintomas visíveis. "Às vezes, o quadro se manifesta apenas como um mal-estar, indisposição ou inapetência. Os sinais mais clássicos, como olhos e pele amarelados, urina escura e dor abdominal, nem sempre aparecem, o que dificulta o diagnóstico", explica.
Carolina Brites reforça que os pais devem estar atentos à vacinação dos filhos e à qualidade da água e alimentos que consomem, especialmente em regiões com maior risco sanitário. "A prevenção começa em casa, com cuidados simples, como lavar bem os alimentos, evitar água de procedência duvidosa e respeitar o calendário vacinal", afirma.
Para além dos cuidados individuais, o Julho Amarelo também tem o papel de mobilizar a sociedade. "Muitas vezes só lembramos das doenças quando alguém próximo é afetado. A campanha serve para despertar a consciência coletiva e promover ações preventivas antes que o problema apareça", diz Carolina.
Em meio a tantos desafios, o Julho Amarelo representa uma oportunidade de ampliar o acesso à informação, incentivar o diagnóstico precoce e reforçar a importância da imunização. Afinal, quando se trata de hepatites virais, ouvir o que o corpo diz — mesmo que em silêncio — pode fazer toda a diferença.
Sobre Carolina Brites
Carolina Brites concluiu sua graduação em Medicina na Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES) em 2004. Especializou-se em Pediatria pela Santa Casa de Santos entre 2005 e 2007, onde obteve o Título de Pediatria conferido pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
Posteriormente, especializou-se em Infectologia infantil pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e completou uma pós-graduação em Neonatologia pelo IBCMED em 2020. Em 2021, concluiu o mestrado em Ciências Interdisciplinares em Saúde pela UNIFESP.
Atualmente, é professora de Pediatria na UNAERP em Guarujá e na Universidade São Judas em Cubatão. Trabalha em serviço público de saúde na CCDI – SAE Santos e no Hospital Regional de Itanhaém. Além disso, mantém um consultório particular e assiste em sala de parto na Santa Casa de Misericórdia de Santos. Ministra aulas nas instituições de ensino onde é professora.
Carolina Brites CRM-SP: 115624 | RQE: 122965
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