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COP30: O dilema do boleto climático

Felipe Sampaio

13/11/2025 - quinta às 13h55

O setor público e o privado esqueceram de registrar o custo ambiental decorrente da industrialização

 

Na hora que o garçom chega com a dolorosa é o maior barata-voa. Um distraído se levanta pra atender o celular, outro lembra de ir ao toilette e tem aquele que sai de fininho dizendo que acerta na próxima. O Antropoceno lembra uma dessas farras. E a COP30 é um bom lugar para combinar a divisão da fatura ambiental.

 

Acontece que, ao longo da construção de um PIB global de mais de US$110 trilhões/ano (fonte: Banco Mundial), o setor público e o privado esqueceram de registrar o custo ambiental decorrente em seus relatórios de contabilidade. Uma pedalada que adiou até agora os reparos da degradação de ativos da natureza, dos quais depende a perspectiva de vida no planeta, principalmente das gerações futuras (leia-se nossos filhos e netos…).

 

É bem verdade que o boom da industrialização nos últimos 250 anos proporcionou uma elevação do bem-estar médio da população em uma escala impensável até então. Os avanços são inegáveis na longevidade, educação, tecnologia, infraestrutura, comunicações, transportes, conforto, ciência, alimentos, negócios, defesa, entre outros. A vida melhorou para a maioria das pessoas. Por isso, é compreensível que até meio século atrás o encantamento com esse admirável mundo novo tenha desviado nossa atenção dos riscos de um uso desmedido dos recursos naturais e da poluição associada. Tudo parecia valer a pena tanto para os empresários como para os governos e, também, para nós consumidores. Ambientalismo era visto como coisa de bicho grilo.

 

No entanto, já não se trata apenas de um Globo Reporter sobre o sumiço de geleiras e ursos panda do outro lado do mundo. Agora o descontrole galopante do clima da Terra bate na porta (literalmente) do cidadão comum. E junto com as secas, inundações e furacões, chegou um boleto climático de US$1,3 trilhão/ano. Esse é o montante que se estima nos microfones da COP30, se não quisermos antecipar a profecia do Eclesiastes e voltar precocemente ao barro bíblico. Contudo, desembolsar esse valor significa mexer no balanço contábil da humanidade.

 

Quer dizer, deslocar mais de 10% do PIB mundial da coluna de lucro para as colunas de despesas e investimentos. No curto prazo, para os mercados, esse banho de realidade pode emagrecer os dividendos e os bônus do andar superior. Para os governos e parlamentares, pode bagunçar as urnas eleitorais. E para o homo sapiens comum, pode impossibilitar os sonhos de consumo.

 

A divisão da conta climática lembra as mesas de bar. Se todo mundo tomou cerveja com batata frita, dá pra dividir igualmente. Mas, às vezes, alguém pede lagosta com Dom Pérignon e quer pagar farofa com Pitú. Foi o que aconteceu na Era do carvão e do petróleo. Quem dispôs mais livremente do meio ambiente chegou primeiro aos “top ten” do PIB. Agora é justo pagarem proporcionalmente ao que consumiram ao longo do período. Vale lembrar que os 1% mais ricos do planeta detém quase metade da riqueza produzida pela humanidade (fonte: Oxfam). É essa fatura que estará em discussão nas mesas da COP30.

 

Não é à toa que alguns gulosos tenham faltado, ou desconversem, na hora do rateio. Mesmo assim, alguns passos importantes foram dados nos últimos anos, como a produção de evidências científicas, a abertura de espaços de diálogo, a ideia de um mapa para a transição e a criação de fundos de financiamento para adaptação climática. Contudo, é inadiável avançarmos.

 

Felipe Sampaio: Assessor da Presidência do IBRAM – Inst. Brasileiro de Mineração; cofundador do Centro Soberania e Clima; atuou em grandes empresas, terceiro setor e organismos internacionais; foi empreendedor em mineração; ex-secretário executivo substituto no Ministério do Empreendedorismo; dirigiu o sistema de estatística e informação do Ministério da Justiça; ex-diretor do Inst. de Estudos de Defesa no Ministério da Defesa.

 

 

 

 

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