Felipe Sampaio
27/11/2025 - quinta às 09h23
Lula e seu plano de substituição dos combustíveis fósseis
A Idade da Pedra não acabou por falta de pedras. Milhares de anos depois ainda tem pedra pra todo lado. A mesma lógica serve para as Eras que se sucederam – do Bronze, do Cobre, do Ferro etc. Agora é a vez do petróleo e do carvão passarem o bastão para outras fontes de energia. Na COP 30, o presidente Lula acertou na mosca ao botar na mesa uma nova receita para corrigir as pegadas do antropoceno: um plano de substituição dos combustíveis fósseis que bote ordem no caos climático.
Não tem mistério. A tecnologia evolui com as necessidades. A população aumenta, crescem as disputas, mas também a cooperação. A Revolução Industrial (Era do Petróleo e do Carvão) faz parte dessa evolução, com suas maravilhas e efeitos colaterais. Acontece que nos últimos 250 anos a capacidade criativa e produtiva do homo sapiens deu um salto capaz de surpreender até o neandertal mais precavido. Contudo, ninguém podia imaginar que as comodidades modernas nos custariam as condições de vida na Terra. Que mal faria ter um carro, um liquidificador, celular, ar condicionado, biscoitos, picanha, iluminação noturna, rodovias, edifícios, remédios… A coisa toda saiu do controle.
Sem percebermos o alcance planetário das consequências, atravessamos o rubicão ambiental. Justiça seja feita, seria um anacronismo atribuir alguma “má fé ecológica” aos agentes dos mercados nos séculos XVIII, XIX e parte do XX, em seus negócios. Afinal, desde a antiguidade parecia normal usar os recursos naturais como se fossem inesgotáveis. Só nos últimos 50 anos a luz vermelha do aquecimento global acendeu. Cientistas constataram que exageramos na exploração da natureza, atingido níveis de emissão líquida de gases efeito estufa insuportáveis. Chegou a hora de aposentar o petróleo e o carvão, mesmo que as suas reservas não tenham acabado.
É claro que, ao propor um mapa, o governo brasileiro não pretendia que um processo de quase três séculos se revertesse a partir de um plano escrito nas duas semanas da COP30. Sabia que o mapa do caminho para guiar a transição energética se produz com discussões científicas e políticas amplas e exaustivas. Se o plano não saiu pronto da COP30, entrou para os próximos diálogos sobre o clima. Ninguém pode mais negar que será incontornável planejar, com toda a diversidade de interesses e necessidades.
É bem provável que um mapa geral como esse venha a ser composto por planos menores mundo afora. A OPEP terá seu plano, os maiores emissores também terão os seus, assim como os países em desenvolvimento. O plano da China será diferente do plano ianque e o do Brasil não será o mesmo da Índia ou da Rússia, apesar de serem BRICS. O agro precisará de prazos e recursos diferentes das big techs, enquanto a mineração terá metas diferentes da indústria aeronáutica. Já os bancos e os governos precisarão acertar o passo quanto ao financiamento da transição. E cada um mostrará sua fatura nas negociações.
Cada um desses planos – setorial ou territorial – trará sua realidade para compor o mapa global: tecnologias disponíveis, infraestrutura, matriz energética atual, custos, legislação vigente, PIB, soberania etc. Não foi à toa que a CEO da COP30, Ana Toni, destacou em entrevista ao Estadão as limitações de fóruns baseados em consensos, como a COP, para esgotarem as decisões sobre um mapa da transição, em que pese a urgência dos acordos (e providências) em tempos de emergência climática. O Brasil cumpriu seu papel.

Felipe Sampaio: Cofundador do Centro Soberania e Clima; com atuação em empresas, organizações multilaterais e terceiro setor; sócio da Terra Consultoria; foi secretário-executivo substituto no Ministério do Empreendedorismo; chefiou a assessoria especial do Ministro da Defesa; dirigiu o sistema de estatística do Ministério da Justiça; foi empreendedor em mineração; presta assessoria à presidência do Ibram.
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