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COP 30 e o negacionismo climático

Felipe Sampaio

06/11/2025 - quinta às 12h40

Antes da Revolução Industrial, o clima global vivia um esfriamento suave que manteria as condições de vida atuais por mais uns 50 mil anos

 

O negacionismo científico é um patógeno. Altamente contagioso. Pode abreviar o passeio do homo sapiens no jardim da Terra e levar junto as demais espécies da nossa vizinhança. Mais do que apenas ignorância e conservadorismo, o negacionismo na ciência tornou-se um modo enviesado de enxergar a sociedade que alcança os diversos campos do conhecimento humano.

 

Nesse sentido, a ideia de negar a ciência virou moda em grupos de interesses que frequentam a política, a religião e a economia – geralmente em conjunto – para manter influência sobre as parcelas da população com menor acesso à informação confiável e com menor capacidade de distinguir entre a verdade dos fatos e o que hoje chamamos de fake News.

 

Esse negacionismo científico foi amplamente utilizado durante a Idade Média europeia para fortalecer a igreja católica e os nobres feudais, tendo servido como artifício de governabilidade até séculos depois pelas grandes monarquias pós-medievais em suas colônias ultramarinas. Em período mais recente, a negação da ciência foi largamente usada para minimizar os impactos políticos da pandemia da COVID19 sobre governos ineptos mundo afora e setores econômicos inconsequentes, inclusive por aqui na Terra da Santa Cruz.

 

Às vésperas da COP30, o fenômeno retoma os palanques e as redes digitais. Um negacionismo climático que negligencia e disfarça o desequilíbrio dos sistemas naturais que regem a dinâmica normal do clima da Terra. Desconhece que essa desarrumação decorre das emissões de gases efeito estufa, características do uso de combustíveis fósseis como fonte não-renovável de energia para uso industrial, comercial e familiar.

 

Tudo vinha despercebido até os anos 1970, quando o presidente ianque Jimmy Carter abriu o jogo (e a boca). Alguma coisa estava fora de ordem. Se o mercado e a população não racionalizassem o padrão de crescimento econômico baseado em petróleo e carvão, não haveria mais mercado nem população. Carter só esqueceu que, na teoria econômica vigente, racionalidade significa minimizar custos para maximizar lucros. Não se reelegeu.

Acontece que o mercado também esqueceu que, ao deixar as mudanças climáticas fora da contabilidade, aumentaria a incerteza no longo prazo e inviabilizaria a economia (e o modo de vida humano) como conhecemos. Derramaram US$ 1 bi em campanhas de desinformação contra os estudos científicos que comprovavam um aquecimento global associado ao modelo econômico inaugurado há apenas 200 anos. Um tiro no pé. Desde 2014 a temperatura global não para de bater recordes. A intensificação dos desastres climáticos preocupa, com inundações, secas, furacões, derretimentos glaciais e elevação do nível dos oceanos. E não é verdade que essas variações sejam normais ao longo da história do planeta.

 

É bem verdade que a Terra já foi uma bola de lava ao ar livre, como também uma pedra de gelo. Porém, há mais de 10 mil anos o clima estabilizou-se, após um aquecimento providencial que pôs fim à Era Glacial, possibilitando a proliferação de formas de vida e biomas sofisticados. Antes da Revolução Industrial, o clima global vivia um esfriamento suave que manteria as condições de vida atuais por mais uns 50 mil anos sem sobressaltos. Foi graças a esse equilíbrio mantido por dez milênios que a civilização conseguiu se desenvolver até o estágio que vivenciamos hoje em dia.

Por isso, não é verdade que o caos climático galopante que vemos na televisão (e na nossa rua) faça parte de um processo natural que sempre esteve em curso no mundo. Geralmente, oscilações decorrentes de ciclos de variação na rotação e na translação do globo. A reversão brusca dessa tendência de resfriamento é desastrosa e comprovadamente ocorre a partir da explosão econômica baseada em emissões de gases efeito estufa, somadas à devastação de biomas terrestres e marinhos, marcando o período que denominado Antropoceno. Tomara que a COP30 nos deixe alguma boa nova.

 

Felipe Sampaio: Assessor da Presidência do IBRAM – Inst. Brasileiro de Mineração; cofundador do Centro Soberania e Clima; atuou em grandes empresas, terceiro setor e organismos internacionais; foi empreendedor em mineração; ex-secretário executivo substituto no Ministério do Empreendedorismo; dirigiu o sistema de estatística e informação do Ministério da Justiça; ex-diretor do Inst. de Estudos de Defesa no Ministério da Defesa.

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