Felipe Sampaio
05/12/2025 - sexta às 06h20
Seria oportuno o Brasil ver-se como uma startup mundial.. Temos vantagens energéticas sustentáveis, PIB diversificado e população jovem
Qualquer país, povo ou mercado precisa ter sua galeria de vencedores. Aqueles sujeitos que motivam a sociedade na direção do desenvolvimento. Com o Brasil não é diferente. Tem que valorizar brasileiros que sirvam de exemplo de sucesso, de inovação e liderança. Mais ainda nesses tempos de caos climático, transição energética, salto tecnológico estrutural e rearranjo geopolítico.
Então, vejam a entrevista inspiradora do CEO da Ambev, Carlos Lisboa, no podcast CBN Professional que foi ao ar esta semana. O cara é um desses heróis nacionais a que me refiro. Não é exagero estender suas opiniões sobre negócios para o Brasil enquanto nação. Logo na largada ele mandou essa pedrada: “Não deixem as oportunidades passarem!”.
Não é sobre autoajuda. Acontece que seria oportuno o Brasil se ver como uma startup classe mundial (a bola da vez). Temos vantagens energéticas sustentáveis, PIB diversificado, reservas minerais, potencial bioeconômico, população jovem, dimensões continentais e localização favorável. Assumir uma atitude empreendedora nesse instante ganha caráter estratégico, seja no setor público, no privado ou na sociedade.
Fiquei amigo e fã do Lisboa quando entramos na Brahma, em Recife. Aquela indústria familiar centenária se tornaria a Ambev, depois InBev e hoje AB Inbev – a maior cervejaria do mundo. Não custa reforçar esse ponto, a maior empresa do setor no planeta é brasileira e o seu atual CEO no Brasil é um pernambucano, que já dirigiu as operações na América Central, América do Sul e Canadá. Um caso exemplar.
Esse êxito global cai perfeitamente como modelo a ser seguido no momento em que o Valor Econômico publica dados preocupantes sobre a produtividade no nosso setor industrial – uma queda de 23% em menos de trinta anos. Ficamos menos competitivos e atrativos. Lembrando que produtividade significa fazer mais e melhor com menos. Enquanto isso, só o Agro apresentou ganhos de produtividade relevantes no Brasil.
Nesse cenário, o governo federal apresenta duas iniciativas importantes. Uma delas é o programa Nova Indústria Brasil, com foco nos eixos Agroindústria, Saúde, Infraestrutura, Transformação Digital, Transição Energética e Defesa (com investimentos públicos e privados na casa dos R$300 bilhões até 2026). A outra é o Plano Brasileiro de IA, que prevê mais de R$20 bilhões até 2028 para infraestrutura tecnológica, pesquisa científica e formação profissional.
O Carlos Lisboa acerta na mosca quando destaca também a importância de reunir profissionais qualificados, métodos de gestão avançados e metas financeiras ousadas (que no universo Ambev significa gestão implacável de custos e receitas). E ele deixa mais uma dica de sucesso empresarial, que pode ser adaptada para o Brasil como um todo. Atuar em uma empresa [ou país] com visão de mundo e olhar global, “é como ter uma bola de cristal”, onde antevemos os cenários, desafios, erros e acertos pelos quais outros mercados, governos e sociedades já passaram mundo afora. Assim podemos nos preparar melhor para o nosso próprio futuro.
Em tempos de economias lentas e fechadas, com crescimento industrial discreto, o CEO nordestino da cervejaria brasileira demonstra que os ganhos de produtividade têm a ver com gastar com qualidade para sobrar mais, e assim poder investir melhor no que custa menos e rende mais. Um ciclo virtuoso inadiável para o Brasil surfar a onda de crescimento atual dos seus indicadores socioeconômicos e turbinar o nosso espírito de vitória. E por falar em surfar, o Lisboa é um surfista arretado.

Felipe Sampaio: Atuação em grandes empresas, ONGs e programas multilaterais (Banco Mundial, ONU/PNUD, BID, OEA/IICA); sócio da Terra Consultoria; foi secretário-executivo substituto no Ministério do Empreendedorismo; chefiou a assessoria do Ministro da Defesa; dirigiu o sistema de estatística no Ministério da Justiça; foi empreendedor em mineração; presta assessoria à presidência do Ibram.
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