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As mulheres que empreendem no Brasil

Ana Claudia Badra Cotait

06/06/2025 - sexta às 14h17

A ascensão do empreendedorismo feminino no país não é apenas reflexo das transformações sociais e econômicas que vivemos nas últimas décadas, mas também um movimento de afirmação pessoal e profissional de milhares de mulheres que encontraram no empreendedorismo uma forma de realização pessoal e autonomia.

 

A pesquisa mais recente sobre o perfil da mulher empreendedora, realizada em 2023 e conduzida pelo Projeto Desenvolve Mulher Empreendedora do CMEC em parceria  com a CACB e o Sebrae Nacional, oferece um retrato estatístico que, ao mesmo tempo em que revela avanços, evidencia os desafios estruturais que as nossas empreendedoras enfrentam.

 

A empreendedora brasileira é, em sua maioria, uma mulher entre 40 e 59 anos, branca, com filhos, casada ou em união estável e qualificada. Cerca de 40% têm pós-graduação, e quase 30% possuem ensino superior completo. Esta qualificação, entretanto, não é suficiente para reduzir os desafios de empreender em um ambiente marcado por desigualdades de gênero e ausência de apoio institucional consistente.

 

A realidade das nossas empreendedoras é marcada por uma sobreposição de responsabilidades. A dupla jornada, mencionada por 62,3% das entrevistadas, revela como o cuidado com a casa e a família ainda recai sobre as mulheres, mesmo quando estas ocupam a posição de liderança nos seus próprios negócios.

 

Outro dado relevante é que 63,5% não tiveram qualquer formação em empreendedorismo durante o seu percurso acadêmico. Isso revela uma lacuna na educação formal que compromete a preparação das mulheres para os desafios da gestão empresarial. Embora metade tenha procurado cursos posteriormente, a maioria iniciou seu negócio sem conhecimento prévio sobre atividades essenciais.

 

E os desafios não se restringem apenas à esfera doméstica. No ambiente empresarial, 50,5% acreditam que enfrentam dificuldades por serem mulheres. O acesso ao crédito ainda é mais facilitado para os homens, e muitas relataram desconforto ao ocupar espaços tradicionalmente masculinos.

 

Além disso, a desvalorização das suas capacidades, inclusive por membros da família, é um fator desmotivador. Das mulheres entrevistas das na pesquisa, 52,9% afirmaram terem sentido que a própria família não acreditava no negócio — um reflexo da deslegitimação do trabalho feminino fora do âmbito doméstico.

 

As barreiras enfrentadas pelas mulheres não são apenas externas. Internamente, muitas carregam crenças limitantes que impactam diretamente sua autoconfiança e a expansão dos negócios. A mais comum é a percepção de que não são capazes de gerar receita suficiente (38,6%), seguida pela ideia de que não dispõem de tempo para gerir um negócio (21,4%). É importante considerar que essas crenças são alimentadas por uma cultura que historicamente subestimou a competência feminina na gestão do dinheiro e dos negócios.

 

Apesar das dificuldades, esse estudo revela uma mulher empreendedora resiliente e determinada, mas que ainda opera num contexto de desigualdade estrutural. A superação desses desafios exige políticas públicas focadas, programas de capacitação acessíveis e, sobretudo, uma mudança cultural que valorize a presença feminina no mundo dos negócios como legítima, necessária e estratégica para o desenvolvimento do país.

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