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As histórias que serão contadas no asfalto da passarela santista em 2022

Lúcio Nunes - Jornalista, colaborador da Liga Cultural Independente das Escolas de Samba de Santos (LICESS) e do Conselho do Samba de Santos

Lúcio Nunes

03/11/2021 - quarta às 16h36

O quesito enredo é um dos mais importantes no julgamento do Carnaval de uma escola de samba. Trata-se do tema desenvolvido pela agremiação em sua apresentação na Passarela, que norteia toda a produção audiovisual do desfile, ou seja, a confecção de alegorias e fantasias e a composição do samba-enredo, entre outros itens fundamentais.

Sua origem, segundo a maior parte dos historiadores do Carnaval, remete a 1939, no Rio de Janeiro, quando a Portela desfilou com o tema “Teste ao Samba”.
Para surpresa da comissão julgadora, naquele ano a Azul e Branco trouxe sambistas trajados de professores, um quadro negro em forma de alegoria e “diplomas” que foram distribuídos ao público por Paulo Benjamin de Oliveira, um de seus fundadores e primeiro presidente. “Vou começar a aula / Perante a Comissão”, anunciava o primeiro verso do samba.

A ousadia portelense se tornou regra e ao longo das décadas, os enredos das escolas de sambas se consolidaram como uma importante fonte de conhecimento e contribuição à cultura popular do país, ainda hoje com muito potencial a ser explorado, inclusive na arte-educação.

Basta olharmos, por exemplo, para a “safra” prevista para a retomada dos desfiles em Santos, em 2022 (a realização do evento ainda depende da liberação do Plano São Paulo de combate à pandemia da Covid-19, é bom ressaltar sempre).

Com 15 dos 16 enredos já revelados (a Mãos Entrelaçadas ainda não confirmou oficialmente se participará do desfile), é possível perceber a diversidade e relevância das escolhas feitas por cada agremiação. Eles se conectam não só pelas referências culturais e históricas, mas também pelo momento de superação vivido por suas respectivas comunidades.

Os enredos biográficos, por exemplo, serão cinco. A começar pela atual campeã do Grupo Especial, Unidos dos Morros, que defenderá seu título exaltando a trajetória do empresário português radicado em Santos, Armênio Mendes (1944-2017).

Também seguirão esta linha a Mocidade Dependente do Samba, num tributo ao humorista Chico Anysio (1931-2012); a Sangue Jovem, ao reverenciar uma das dirigentes mais importantes do carnaval brasileiro, Solange Cruz, que há 18 anos preside a paulistana Mocidade Alegre; a Imperatriz Alvinegra, lembrando um dos sambistas mais queridos do Carnaval Santista, Genário Vila Nova, o Mestre Bará (1948-2019); e a Império da Vila, saudando João Henrique Makumba, pelos seus 50 anos de valiosas contribuições à arte do samba e suas escolas.

Ainda em se tratando de enredos relacionados ao chamado “mundo do samba”, teremos a Brasil cantando a tradição e os grandes carnavais de sua madrinha carioca, a Acadêmicos do Salgueiro; a Unidos da Zona Noroeste celebrando seus 40 anos de fundação, completados em 2020; e a Bandeirantes do Saboó comemorando o seu “Jubileu de Prata”, marco alcançado em 2021.


 
Costumes regionais e cultura afro-brasileira

No Marapé, o tempo é de reencontro com costumes e raízes regionais. A União Imperial, vice-campeã do último desfile, levará sua tradicional Águia em uma viagem pelos ritmos e manifestações culturais do Nordeste; já a Real Mocidade partirá das origens da população caiçara para contar a história do Porto de Santos.

De certa forma, também dialoga com essas escolhas o tema da Mocidade Amazonense, que contará em verde e branco a saga dos trabalhadores brasileiros em defesa de seus direitos. Já a Dragões do Castelo, em uma abordagem mais subjetiva, vai mostrar a relação entre o tempo e a realização dos sonhos humanos – inclusive o de prosperar.

Por fim, renovando outra temática bastante presente nas escolas de samba, teremos uma trinca de enredos que têm a fé como eixo principal.

No Macuco, a X-9 se prepara para um tema há muito tempo aguardado pelos xisnoveanos: a louvação ao seu padroeiro, São Jorge, partindo da trajetória lendária do santo guerreiro para chegar ao sincretismo religioso, com suas representações do catolicismo à umbanda.

Não muito longe dali, no Estuário, a Padre Paulo contará a história de mulheres de fibra inspirada por Oxum, orixá que representa a o poder e a beleza feminina; e, por fim, na Vila Mathias, a escola que carrega o nome do bairro mostrará a energia, a força e o poder emanados pelos doze orixás na proteção de seus devotos.

As escolas e seus enredos para 2022*
Grupo Especial
Unidos dos Morros – “Desce o Morro construindo história: Armênio Mendes, o empreendedor de sonhos”
União Imperial – “Se Avexe Não, O Marapé é prá cabra da peste, no meu Carnaval made in Nordeste”.
X-9 – “Salve Jorge”
Mocidade Amazonense – “Chão de Bravos – A saga dos trabalhadores do Brasil”
Real Mocidade – “Crônica Caiçara – Um Porto de Fé, Esperança e Progresso”
Mocidade Dependente do Samba – “A Arte de Fazer Sorrir – Chico Anysio, o Mestre do Humor”
Sangue Jovem – “No nome, a cruz… Na mão, o terço… No coração, Deus. De Sangue e alma Jovem, Eis Solange, a Leoa do samba!”.
Brasil – “Salgueiro”

Grupo de Acesso


Vila Mathias – “Quem Me Protege Não Dorme”
Unidos da Zona Noroeste – “Meu Galo, 40 Anos de Alegria em Cantar e Sambar”
Imperatriz Alvinegra – “A Imperatriz vai te EmBará”

Grupo 1

Padre Paulo – “Yalodê, um banho de axé e felicidade na folia”
Império da Vila – “Makumba, do culto mágico à magia do samba”
Bandeirantes do Saboó – “Futebol, Samba e Tradição: Arranco das Raízes 25 Anos de Emoção”.
Dragões do Castelo – “Tempo: O Alimentador de Sonhos...”
 
Por fim, renovando outra temática bastante presente nas escolas de samba, teremos uma trinca de enredos relacionados à fé e à herança afro-brasileira.

* * *
Gostou de algum tema?
Continue acompanhando como ele será desenvolvido seguindo as agremiações através de suas redes sociais, prestigie os ensaios (sem esquecer, é claro, das medidas de proteção, pois, apesar da flexibilização, a pandemia ainda não está erradicada) e ouça e compartilhe os sambas-enredo que contarão essas 15 histórias na avenida.

E não se esqueça: um Carnaval bem realizado valoriza a cultura, impulsiona o turismo e gera oportunidades ao movimentar a economia criativa em diversos setores.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal BS9

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