Thyago Henrique
28/08/2025 - quinta às 13h58
O psiquiatra Dr. Thyago Henrique, formado pelo Hospital Albert Einstein, explica como a exposição precoce pode gerar ansiedade, depressão e distorções na identidade de crianças e adolescentes
O debate sobre a adultização infantil tomou conta das redes sociais e da imprensa nas últimas semanas. O tema ganhou visibilidade após o influenciador Felca publicar um vídeo denunciando a exposição precoce de crianças a conteúdos inapropriados na internet. A repercussão foi tão intensa que alcançou milhões de pessoas em poucos dias e culminou na prisão do influenciador Hytalo Santos, acusado de manter adolescentes em situação irregular em sua residência. O episódio ampliou a discussão em todo o país e colocou em pauta os impactos emocionais que a exposição excessiva pode causar na infância e na adolescência.
De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil, realizada em 2023 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), 88% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos já usam redes sociais, sendo que 66% delas criaram perfis antes dos 12 anos, mesmo com a proibição formal das principais plataformas. Para especialistas, como o psiquiatra Dr. Thyago Henrique, formado pelo Hospital Israelita Albert Einstein, esses números revelam a fragilidade dos filtros de proteção e a necessidade de pais e responsáveis estarem mais atentos.
"O problema da adultização é que ela acelera uma maturidade que não acompanha o emocional da criança. Isso pode gerar baixa autoestima, confusão de identidade, ansiedade e até depressão", afirma Dr. Thyago. Segundo ele, quando meninos e meninas são expostos a padrões de comportamento adultos, passam a se comparar com referências irreais, o que mina a autoestima e prejudica a formação da identidade.
Outro risco é a dependência da validação digital. A curtida e o número de seguidores viram uma espécie de moeda de valor pessoal. "A criança passa a acreditar que só tem valor se for aceita online. A longo prazo, isso fragiliza o emocional e favorece quadros de ansiedade social, depressão e dificuldade em relações reais", explica o psiquiatra.
A naturalização da sexualização precoce também aparece como fator preocupante: quando comportamentos inadequados são vistos como normais, o jovem pode crescer com uma visão distorcida sobre consentimento, respeito e afeto, acrescenta.
Os efeitos aparecem também no ambiente familiar. "Muitos pais, mesmo sem intenção negativa, acabam incentivando a exposição online. Eles acham que estão ajudando, mas, na prática, estão empurrando os filhos para um mundo que não conseguem controlar. Isso pode gerar distanciamento, rebeldia e até isolamento", alerta Dr. Thyago. Entre os sinais de impacto estão mudanças bruscas de humor, queda no desempenho escolar, obsessão por curtidas, vergonha do próprio corpo e irritação quando afastados das redes sociais.
O alerta do especialista encontra respaldo em diferentes estudos. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) publicou em agosto um levantamento mostrando que a sexualização precoce compromete a autoestima e a imagem corporal, além de aumentar os riscos de transtornos de humor e de estresse pós-traumático. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) também têm apontado que a erotização infantil invade o espaço da infância e deixa crianças deslocadas em um universo adulto para o qual não estão preparadas. No cenário internacional, estudos indicam que cerca de 11% dos comentários feitos em vídeos infantis no YouTube contêm conteúdo tóxico, expondo menores a ataques virtuais e mensagens nocivas.
Para reduzir os riscos, Dr. Thyago Henrique recomenda uma combinação de supervisão, exemplo e diálogo. Ele orienta limitar o tempo de tela, até duas horas por dia dependendo da idade, retirar os aparelhos à noite para preservar o sono e incentivar hobbies e amizades fora do ambiente digital. "Não adianta apenas proibir. É preciso estar presente, mostrar interesse e orientar. O diálogo é essencial, mas precisa vir acompanhado de limites claros. O equilíbrio é o que torna o uso da internet saudável", reforça.
Segundo o psiquiatra, caso a sociedade não enfrente o problema agora, as consequências podem se estender por gerações. "Corremos o risco de criar uma geração mais ansiosa, mais insegura e menos preparada para lidar com frustrações. A tecnologia pode ser positiva quando usada com equilíbrio, mas, sem cuidado, os impactos emocionais são inevitáveis", conclui.
Dr. Thyago Henrique é médico psiquiatra, com atuação voltada para promoção da saúde mental no Brasil. Reconhecido por sua abordagem acessível e humanizada, ele se destaca ao traduzir temas complexos da psiquiatria para o grande público nas redes sociais, com foco em bem-estar, empatia e inteligência emocional.Além disso, o especialista é mestrando em neurociências e doutorando em psicologia clínica.
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