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A ponta do iceberg da nova geopolítica

Felipe Sampaio

31/07/2025 - quinta às 15h14

Brasil precisa de uma estratégia para minerais críticos e planos nacionais para a inteligência artificial e a transição energética

 

Terras Raras e outros materiais de uso especial são apenas a pontinha do iceberg de uma Nova Ordem digital. Nesse sentido, o interesse geral nos chamados minerais críticos brasileiros tem mais a ver com sua finalidade como matéria-prima para dispositivos digitais inteligentes do que com o seu peso no PIB mineral por si só.

 

Ou seja, a importância real desses minerais reside no produto final das tecnologias que os utilizam: informação e conhecimento (em larga escala e em tempo real). Essa é a verdadeira riqueza do futuro, contida em um celular ou em um submarino nuclear. Incluem-se aí também os mega data centers que produzem inteligência artificial para atender ao sistema financeiro, redes sociais, pesquisas científicas, indústria espacial, defesa, agro, governos ou ferramentas de IA generativa (como o ChatGPT).

 

Acontece que os minerais críticos estão concentrados em alguns pontos do planeta, como a China e o Brasil. Ou melhor, apesar de estarem presentes em outros lugares, sua extração, purificação e processamento saem tão caro que a viabilidade econômica do negócio – enquanto mineração propriamente dita – acaba exigindo um teor e um volume que não ocorrem normalmente, daí o nome terras raras. Somado a isso, a obsolescência dos equipamentos e componentes digitais está cada vez mais rápida, carecendo de substituição a cada três ou quatro anos. Em escala mundial isso representa um desafio para prover matérias-primas, como os minerais críticos.

 

A conta da IA só fecha se o negócio estiver na mão de poucas empresas e países. Nesse cenário, a China e os Estados Unidos estão muito à frente dos concorrentes, seja no avanço tecnológico, seja em mão-de-obra qualificada, ou, principalmente, no que se refere à capacidade de investimento público e privado. Só as big techs ianques e as empresas semiestatais chinesas têm caixa para bancar as dezenas de bilhões de dólares necessários para a instalação e operação de redes de ‘data centers hiperescala’.

 

Para se ter uma ideia do tamanho desse negócio, nos EUA, o data center “The Citadel” ocupa uma área igual a 70 campos de futebol. No Brasil, o Tik Tok está em vias de implementar no Ceará uma dessas “fábricas de informação” a um custo de R$55 bilhões. Isso significa montar também todo um esquema de fornecimento de energia e água potável. O ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico já avisou que é impossível suportar colossos digitais desse porte com a rede elétrica atual, sob risco de apagões como houve na Espanha. Por isso, o empreendimento incluirá um parque eólico dedicado ao abastecimento do data center.

 

Os minerais críticos também entram aí, na produção de torres eólicas, assim como de painéis solares. Segundo reportagem do G1, apenas para atender aos data centers do Tio Sam até 2030, serão necessários 50 milhões de painéis solares só nos EUA. Haja terras raras para dar conta. Não é à toa que Trump quer investir US$500 bilhões em infraestrutura para esse admirável mundo novo. Enquanto isso, o Japão acaba de testar uma internet 4,25 milhões de vezes mais rápida do que a banda larga brasileira. Por sua vez, os chineses – munidos de enormes reservas de minerais críticos – desenvolveram aparelhos de baixo custo e alto desempenho tão eficientes para seu DeepSeek, que provocaram uma queda de US$ 1 trilhão no valor das big techs americanas.

 

Uma estratégia brasileira para minerais críticos será bem-vinda, especialmente se vier acompanhada de planos nacionais para a inteligência artificial e para a transição energética.

 

Felipe Sampaio: Cofundador do Centro Soberania e Clima; foi empreendedor em mineração; atuou em grandes empresas e 3º setor; dirigiu o Instituto de Estudos de Defesa no Ministério da Defesa; ex-diretor do sistema de estatísticas do Ministério da Justiça; foi secretário executivo de Segurança Urbana do Recife.

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