UNESP
Primeira experiência de atuação de uma universidade pública na Baixada Santista, Instituto de Biociências do litoral faz pesquisa científica de peso apoiada pela qualidade de seus servidores
Da Redação
16/07/2025 - quarta às 15h21
Anos depois, a unidade complementar localizada em São Vicente recebeu o status de câmpus universitário, consolidado com a implantação em 2002 do primeiro curso de graduação: o bacharelado em ciências biológicas. - Divulgação
A Unesp iniciou suas atividades na Baixada Santista como uma unidade complementar. Em fevereiro de 1994, entrou em funcionamento o Centro de Ensino e Pesquisa do Litoral Paulista. Primeira experiência de atuação de uma universidade pública na Baixada Santista, dedicou-se na época a atuar na área de educação (formação permanente de professores e educação ambiental), saúde pública (cursos de atualização) e apoio às atividades dos docentes das demais unidades da Unesp que desenvolviam projetos na região.
Anos depois, a unidade complementar localizada em São Vicente recebeu o status de câmpus universitário, consolidado com a implantação em 2002 do primeiro curso de graduação: o bacharelado em ciências biológicas.
“A implantação em São Vicente do curso de bacharelado Ciências Biológicas, com foco em biologia marinha e gerenciamento costeiro, ocorreu porque a Unesp tinha pesquisadores com ações intensas no litoral. Era então estratégico ter um curso de biologia com essas características", afirma o professor Odair José Garcia de Almeida, diretor do Instituto de Biociências do câmpus do litoral paulista da Unesp, em São Vicente. "Na época, não existia oferta de cursos com essas características. Então havia uma demanda. Ainda há pouca oferta e por isso esse curso está entre os mais procurados, sendo o único curso de ciências biológicas da Unesp que tem essa vertente costeira ou marinha”, explica o docente.
A partir da implantação do curso, o câmpus ampliou suas atividades de pesquisa e extensão no litoral paulista e as parcerias com órgãos públicos da região. Funcionária da Unesp desde 1995, Denise Martins do Valle, diretora técnica acadêmica, acompanhou toda a transformação causada pela chegada da graduação na unidade. “Foi um divisor de águas, porque com a instalação do curso foi necessário contratar mais funcionários e realizar treinamentos para receber os alunos. Tudo isso deu vida ao câmpus e a gente viu iniciar uma ampliação da nossa estrutura”, lembra Denise do Valle.
Atualmente, a unidade oferece dois cursos de graduação, bacharelado e licenciatura em Ciências Biológicas e cursos de pós-graduação stricto sensu, mestrado e doutorado, em Biodiversidade de Ambientes Costeiros. “Em 2013, houve a expansão das licenciaturas na Unesp. Foi aí que houve a criação da licenciatura em Ciências Biológicas, um curso que tem como objetivo a formação de professores para lecionar as disciplinas de ciências e biologia na educação básica e no ensino médio”, explica o diretor do IB localizado em São Vicente.
Mais fortalecido da perspectiva acadêmica, o câmpus da Unesp em São Vicente começou a receber investimentos para melhorias de sua infraestrutura. Em 2011, por exemplo, foi inaugurada uma central de laboratórios. Nos próximos anos, está projetada a construção de um novo prédio dentro do câmpus, estrutura que deve abrigar a parte administrativa, salas de aulas, biblioteca e novos laboratórios. “A construção do novo prédio é significativa, porque vai melhorar as condições de estrutura para atender alunos, professores e funcionários. Poderemos ampliar nossas atividades de ensino e pesquisa. Ampliação de espaço na universidade significa aumento de produção acadêmica”, diz Denise do Valle.
Pesquisa
Originado a partir de um centro de pesquisa, o câmpus da Unesp em São Vicente tem como um dos seus pontos fortes esta dimensão da vida universitária. Em 2016, por exemplo, foi erguido em outro terreno localizado na cidade litorânea o Instituto de Estudos Avançados do Mar (IEAMar) da Unesp, que complementa a estrutura física existente no município. A qualidade do quadro de docentes e pesquisadores no câmpus do litoral é um diferencial.
“A maioria dos nossos professores são doutores e especialistas da área. Então eles realizam pesquisas dentro daquilo que lecionam, o que garante um nível de excelência das áreas de pesquisa e ensino”, afirma o diretor Odair de Almeida.
Um dos professores neste perfil é Denis Moledo de Souza Abessa. Livre docente em Saneamento e Ecotoxicologia, coordena o Núcleo de Estudos de Poluição e Ecotoxicologia Aquática da Unesp em São Vicente. “No núcleo, temos estudado o efeito de poluentes em organismos aquáticos, principalmente em organismos marinhos", explica o docente. "Temos desenvolvido projetos em toda a costa, em especial na Baixada Santista, já que funciona como um laboratório vivo para nós, pois encontramos vários tipos de poluição aqui devido à presença de atividades petrolíferas, industriais e portuária. Além disso, temos estudado os impactos de grandes desastres ambientais, como vazamentos de óleo e aqueles causados pela mineração em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais”, afirma.
Denis Abessa é o coordenador de uma das propostas da Unesp recém-contempladas em uma chamada do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para a implantação de novos programas para a constituição de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), centros de pesquisa que reúnem dezenas de pesquisadores em trabalhos na fronteira do conhecimento científico. O professor da Unesp em São Vicente vai coordenar o Instituto Nacional de Identificação, Quantificação, Dispersão, Riscos Ambientais e Mitigação da Poluição por Contaminantes Emergentes em Ambientes Marinhos e Costeiros (INCT Cemar), contemplado com recursos da ordem de R$ 12 milhões.
“O INCT será importante porque vai consolidar o trabalho que estamos fazendo, dar um salto de reconhecimento nacional e internacional e integrar mais o nosso trabalho aos de colegas de outras unidades da Unesp. É algo muito bom para o câmpus de São Vicente, pois mostra que aqui se faz ciência com qualidade”, diz Denis Abessa.
Para além das pesquisas na área já descrita, o IB do litoral paulista vem desenvolvendo estudos que exploram outras questões correlacionadas à Biologia Marinha, como as linhas de pesquisas que envolvem bioquímica, ecologia e energia molecular, responsáveis por produção científica significativa nos últimos anos, segundo a direção da unidade.
"Muitos professores trabalham com questões relacionadas a DNA e RNA, estudando por exemplo a evolução de alguns tipos de organismos", exemplifica Odair de Almeida. "As linhas de pesquisa que englobam biologia e ecologia de organismos costeiros e principalmente processo ecossistêmico e gestão de ecossistemas costeiros conversam muito com a sociedade, tratando de aspectos sociais, como economia e meio ambiente. Os professores que atuam nessas linhas acabam falando de impacto ambiental, problemas socioambientais e mudanças climáticas.”, diz o diretor.
Criado em 2014 para ajudar a incrementar as pesquisas no câmpus, o Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade de Ambientes Costeiros sediado na Unesp em São Vicente possui cerca de 100 alunos e vem crescendo em termos de produção científica. Está centrado em uma visão multidimensional da biodiversidade aquática em todos os níveis de organização, ou seja, do molecular ao ecossistêmico, e foca no manejo e uso sustentável dos organismos aquáticos e nos sistemas de águas continentais e costeiras, considerando as interfaces com os ambientes terrestres e com a atmosfera. Isso inclui a conservação e exploração sustentável da biodiversidade, a bioprospecção e caracterização de moléculas biologicamente ativas, a biologia pesqueira, a aquicultura sustentável e o manejo ambiental.
“Esse programa de pós-graduação foi criado em consideração à nossa posição geográfica e à vocação para pesquisas dos nossos docentes. Estamos indo bem”, afirma Odair de Almeida.
Extensão
A forte atuação em pesquisa da unidade universitária vem sendo acompanhada, nos últimos anos, de uma ampliação considerável das atividades de extensão. Localizada em uma região metropolitana que lida com problemas sociais e ambientais flagrantes, o Instituto de Biociências do câmpus do litoral procura desenvolver projetos que utilizam o conhecimento obtido pela pesquisa para a conservação do meio ambiente e melhora na qualidade de vida da população de palafitas, comunidades ribeirinhas e quilombolas.
“Nossa expertise foi sempre muito voltada para a pesquisa, mas nos últimos cinco anos tem aumentado bastante as atividades envolvendo a comunidade”, comenta o diretor.
Entre as atividades de extensão do câmpus está o Cursinho Caiçara, que é uma iniciativa dos estudantes que surgiu em março de 2006, apoiada pelo Centro Acadêmico Içara, pelos gestores, professores e funcionários do câmpus. O principal objetivo do Cursinho Caiçara é tornar possível o ingresso em universidades públicas da população socioeconomicamente vulnerável de São Vicente e da Baixada Santista. O curso pré-universitário é gratuito e busca formas de propiciar uma formação crítica de todos os participantes da iniciativa.
Outro projeto do câmpus é a UNATI (Universidade Aberta à Terceira Idade) em São Vicente. É um projeto de extensão que tem como objetivo incluir idosos em uma rotina saudável, ofertando a continuidade dos estudos e atividades de lazer no sentido de promover uma melhor qualidade de vida aos participantes. São trabalhados o resgate da autoestima do idoso, eventuais problemas de solidão e a quebra de preconceitos e estereótipos.
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