COP30
No encontro, especialistas destacaram experiências e reflexões sobre o papel das comunidades pesqueiras da Baixada Santista na construção de uma economia azul.
Da Redação
21/11/2025 - sexta às 19h09
O Projeto Mantas do Brasil, em parceria com a Petrobras e patrocínio da Autoridade Portuária de Santos (APS), empresa vinculada ao Ministério de Portos e Aeroportos do Governo Federal, esteve presente na COP30, em Belém (PA), no painel "Pesca artesanal e economia azul", no Prédio da Economia Criativa, na Zona Verde. No encontro, especialistas destacaram experiências e reflexões sobre o papel das comunidades pesqueiras da Baixada Santista na construção de uma economia azul. A equipe compartilhou histórias e análises que chamaram atenção para a importância do oceano nas estratégias climáticas atuais.
O debate, mediado por Ana Teresa Parente, teve a participação de Thiago Costa, do Projeto Costamar; Paula Romano, coordenadora geral do Mantas do Brasil; Letícia Schabiuk, coordenadora executiva do Mantas do Brasil; Quêner Chaves dos Santos, do Ministério da Pesca; Líder Gongorra, liderança dos Povos do Mar; e Luena Maria, representante dos povos indígenas. Os painelistas discutiram caminhos para integrar o saber tradicional das comunidades à formulação de políticas públicas voltadas à economia azul e à conservação marinha.
Um painel marcado por urgência
O encontro ocorreu justamente no dia em que a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) atualizou a situação das raias-mantas na Lista Vermelha, elevando a espécie para a categoria "criticamente ameaçada de extinção". A notícia deu um tom ainda mais urgente às discussões.
"Foi um privilégio estar na COP30, um evento mundial que coloca o oceano no centro das atenções, junto com as florestas. E isso se tornou ainda mais importante, porque recebemos a triste notícia de que as mantas passaram de 'vulneráveis' para 'criticamente ameaçadas'. Precisávamos levantar essa bandeira aqui", afirmou Paula Romano, coordenadora geral do Mantas do Brasil.
Narrativas que atravessam gerações
Foi destacado o documentário Arrasta Maré, que retrata a prática de pesca de arrasto em Santos. Técnica em que usam uma rede grande que é arrastada para fora da água, capturando os peixes que chegam com as ondas. Trata-se de uma atividade que faz parte da cultura local, sendo explorada até em modelos de turismo sustentável.A obra ilustrou o impacto das transformações climáticas e socioeconômicas sobre práticas tradicionais.
"Essas histórias evidenciam que conservação e pesca não são lados opostos. São caminhos que podem coexistir quando construídos com quem vive do mar", reforçou Letícia Schabiuk, coordenadora executiva do projeto.
O oceano como solução
Durante o painel, pesquisadores e lideranças reforçaram que discutir mudanças climáticas sem falar do oceano significa ignorar 70% do planeta. Para Letícia, esse olhar finalmente começa a ganhar espaço.
"Foi emocionante participar de um evento dessa proporção. A COP30 é global e diversa. Ter o oceano mais presente nesta edição é muito significativo. Se não o colocarmos no centro das discussões, não vamos alcançar resultados reais. Ele é parte da solução".
Monitoramento participativo chama atenção internacional
Outro ponto que despertou interesse foi a apresentação do monitoramento das raias-mantas feito em parceria com pescadores da Baixada Santista. Os relatos, registros e fotos enviados pelos próprios pescadores reforçam que o conhecimento tradicional é fundamental para estratégias de conservação.
"Esses parceiros conhecem o mar de um jeito que nenhum equipamento substitui. Essa troca mostra que é possível conservar e pescar de forma responsável, sem prejuízo para ninguém", comentou Paula.
O Pacote Azul e novos caminhos
A discussão dialogou diretamente com o Pacote Azul, iniciativa global lançada na COP30, para acelerar ações baseadas no potencial dos oceanos como reguladores do clima.
Para o Mantas do Brasil, a convergência entre a agenda internacional e a realidade da pesca artesanal no litoral paulista reforça que o Brasil tem muito a contribuir. "Foi essencial mostrar que a Baixada Santista tem muito a ensinar ao mundo. A triste notícia sobre as mantas reforça que precisamos falar, agir e incluir quem vive do oceano todos os dias", conclui Letícia.
Realização
O painel foi uma realização do Instituto RedeMAR Brasil, com participação do Projeto Costamar, parceria da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e apoio da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Edinburgh Napier University, ESECMJ, Parna do Cabo Orange/ICMBio e das colônias de pescadores Z-6 e Z-2.
O Projeto Mantas do Brasil, fundado há mais de 10 anos em Santos, atua na preservação das raias-manta, uma das maiores espécies de raia do mundo. Desenvolve ações de conscientização, pesquisa e educação ambiental, e é uma realização do Instituto Laje Viva, ONG criada por mergulhadores indignados com a pesca e caça ilegal no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos. A iniciativa conta com parceria da Petrobras e patrocínio da Autoridade Portuária de Santos (APS), empresa vinculada ao Ministério de Portos e Aeroportos do Governo Federal.
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